domingo, 31 de março de 2024

60 ANOS DO GOLPE MILITAR

Antes que este dia acabe eu preciso escrever este texto. Tem que ser hoje, todo o texto escrito hoje, para absorver plenamente a carga desta data: 31 de março de 2024.

Há exatamente 60 anos atrás começou um período sombrio e terrível no Brasil, quando foi instaurada, através de um golpe, a ditatura militar.

É importante esclarecer que nenhuma ditadura é boa. Simples assim. Sem meias palavras. Sem reescrever a história.

É inadmissível que ainda existam pessoas que enalteçam este período do nosso país. Isto é resultado de desinformação.

Vivemos tempos difíceis. Os problemas do mundo são cada vez mais complexos. A internet e as redes socias acabaram potencializando o lado mais sombrio do ser humano. Nesse cenário conturbado prospera a extrema direita, que propõe soluções simples e autoritárias, carregadas de preconceito e ódio.

Não quero aqui analisar as causas que estão levando a humanidade para este desfiladeiro moral. Sei que não chegarei à conclusão alguma. Prefiro dedicar minha energia em sentido contrário. Ao invés de tentar desvendar as razões que estão levando as pessoas a caírem nas garras dos regimes autoritários, prefiro buscar caminhos para fazer com que as mesmas escapem desta armadilha. E um dos caminhos, com certeza, é através das Artes, em todas as suas expressões.

É preciso promover uma onda de informações positivas, esclarecendo as mentes. É preciso fazer entender que o melhor regime é sempre a democracia. Pode ser difícil, pode passar por tropeços, mas que devem ser solucionados com mais democracia.

Tantas coisas em minha mente, tanto a falar nesta importante data. Mas não quero cansar o leitor. Deixo aqui, para encerrar, duas frases, escritas em caixa alta, que resumem o que precisa ser dito, hoje e sempre:

DITATURA, NUNCA MAIS!

SEM ANISTIA AOS GOLPISTAS QUE ATENTAM CONTRA A DEMOCRACIA! 

sexta-feira, 22 de dezembro de 2023

SOLSTÍCIO DE VERÃO

Justamente hoje, após o expediente de trabalho (100% home office), voltei a pensar em alguma ideia para escrever o texto do mês, com a finalidade de “alimentar” este meu blog. É sempre assim, quando vai se aproximando do dia 22, que é o dia em que o blog aniversaria (inaugurei em 22/10/2011), fico raspando o cérebro para ver se surge algo interessante para escrever. E foi assim que acabei decidindo fazer um texto para compor parceria com outro, intitulado “Solstício de inverno”, escrito e aqui postado em 21/06/23, exatamente no dia do solstício de inverno. Justamente agora também está ocorrendo esta coincidência, pois o momento em que precisamente aconteceu o solstício de verão foi na primeira hora de hoje, às 00h27min. Assim fica equilibrado, não privilegio uma estação em detrimento da outra: cada uma delas tem o seu solstício e o seu texto.

Após esta necessária apresentação das forças e coincidências que estão me impelindo a escrever, devo passar a discorrer sobre o tema propriamente dito... “Vamos lá, escreva sobre mim, vamos lá, escreva!”. Calma lá, meu caro Solstício de Verão, calma lá!

Bom, em primeiro lugar, sinto decepcioná-lo logo de início, pois prefiro o seu primo que apareceu há seis meses atrás. O motivo é simples, pois após o aparecimento daquele, todos os dias foram aumentando de tamanho, sucessivamente, com o acréscimo da presença Solar, trazendo mais energia e luz. É um período que, para mim, me agrada mais. Por outro lado, quando você surge, Solstício de Verão, a gente sabe que, pelos próximos seis meses, os dias ficarão cada vez mais curtos, com menor presença do camarada Sol e, portanto, com menos energia.

Mas não precisa ficar chateado com esta minha preferência, afinal não é nada relevante. É apenas um leve sentimento que resolvi aqui colocar. Coisa de escritor que pega coisas irrelevantes para descrever e esticar o texto. Portanto, não fique magoado Seu Solstício de Verão. Gosto de você também, viu? Afinal, você aparece justamente no momento de maior esplendor, quando o Sol mais incide os seus raios em nosso hemisfério. Aliás, há uma grande dialética envolvida nisso tudo, não é mesmo? Pois também hoje o seu primo, o Solstício de Inverno, está dando as caras no hemisfério norte... É uma dança maravilhosa, concorda? Todos os astros no palco do Universo... Poético, não? Mas é científico também!

Depois desta breve abordagem sobre o tema que me propus escrever, já vou partindo para a finalização do texto. Grande abraço, meu caro Solstício de Verão, até o ano que vem! E para você, que está lendo este texto postado no blog, não estranhe se a data da postagem for após o dia 22/12/2023, pois, para que esta redação tenha sentido, preciso postar estas linhas, que escrevo agora no computador, preciso postá-las ainda hoje, 22/12/2023, dia do Seu Solstício de Verão. Mas não sei se vou conseguir, pois já faz um bom tempo que acabou a força, e o sinal de internet foi junto. Quanto à internet do celular, é muito ruim o sinal aqui onde moro. Se a energia não voltar logo, vai estragar a postagem deste mês. Então, se você ver que a data deste post é depois do dia 22/12/2023, faça de conta que foi postado hoje, dia 22, certo?

E me desculpe... A culpa, na verdade, é da Enel, distribuidora de energia aqui na região. Olha o que dá privatizar! E agora estão querendo privatizar também a água, vendendo a Sabesp. Sem mais comentários... Mesmo porque isso já é assunto para outro texto...

domingo, 12 de novembro de 2023

O MUNDO ANIMAL DO MEU QUINTAL

Estava me preparando para começar a regar o quintal. Carretilha com a mangueira a postos. Eis que olho para a copa do pé de romã e vejo um bem-te-vi. O bonito pássaro parece estar com sede, pois, de quando em quando, abre o bico, em um gesto que parece pedir água. Então começo a falar com ele, dizendo que tem água em uma tigela de plástico junto à ponta da cerca, perto do muro. Para que a imensa maioria dos leitores, que obviamente não conhece o meu quintal, explico, para ficar mais fácil, que este recipiente estava abaixo da tal ave com a qual dialogava. Fui falando e, para a minha surpresa, parecia que ela se interessava pela minha explicação, pois acabou se aproximando um pouco, passando para um dos galhos do pé de atemoia. Falei, falei, insisti em convencê-la a saciar sua sede com a minha generosa oferta, apontei para o local da tigela e, quando já achava que estava aprendendo a me comunicar com os pássaros, vejo que o bem-te-vi se afasta e vai pousar em cima do muro, para, instantes depois, voar para longe...

Depois deste primeiro contato com o mundo animal do meu quintal, parti para a tarefa de regar as plantas e a horta, para amenizar a alta temperatura de um dia de primavera, resultado de uma onda de calor totalmente atípica, graças às mudanças climáticas que vivemos atualmente...

Quando regava o canteiro das cenouras e das cebolinhas, comecei a ouvir uns pequenos estalidos, e logo identifiquei que os mesmos vinham de uma mariposa que, sobre a terra, batia as asas. Foi fácil perceber, de imediato, que ela estava morrendo. “Pois é, os animais, todos os seres vivos, também morrem... Chegou a hora desta mariposa”, este foi o meu primeiro pensamento ao ver a cena a uma certa distância. Mas, como os movimentos de agonia do inseto continuavam, resolvi observar mais de perto. Coloquei nos olhos os óculos que trago sempre pendurados no pescoço e aí pude constatar o que realmente acontecia. Ela estava sendo comida viva por muitas formigas! A cena era impressionante. Com as asas coladas na terra, o inseto alado expunha todo o seu corpo para o banquete de outros pequeninos insetos, que já haviam se deliciado com boa parte das entranhas da agonizante. Não consegui entender como ela ainda estava viva!

Voltei à atividade da rega, mas meu pensamento não deixou a mariposa. Imediatamente se instalou, dentro de mim, um debate sobre o que fazer a respeito desta situação. Reconheci que as formigas apenas buscavam a sua sobrevivência, dentro de mecanismos perfeitamente naturais e legítimos. Outro fato que não deixava dúvida era que a pobre mariposa, de modo algum, poderia sobreviver. Mesmo que encontrasse algum modo de livrá-la das formigas sem prejudicá-la mais ainda, mesmo assim era impossível que escapasse à morte. E a primeira decisão que tive foi não interferir e deixar que a natureza seguisse o seu curso.

Mas aquelas batidas de asas tiravam a frágil estabilidade desta minha decisão. Como ela ainda podia estar viva? Que tamanho sofrimento ela estaria sentindo? Não podia deixar que este terror em miniatura continuasse...

Então deixei a mangueira de lado, fechei a torneira e fui em busca de um cano que fica encostado em um dos cantos do quintal. Segurando-o firmemente, procurei posicionar a ponta bem sobre a cabeça da sofredora. Apertei. O movimento das asas se intensificou, juntamente com as patas. Tirei o cano de cima dela e verifiquei que ainda vivia. Caramba! Não queria que ela sofresse ainda mais! O meu movimento deveria ter sido mais forte e certeiro. Outra vez posicionei o cano sobre a pobrezinha, mas desta vez apertei ainda mais, movimentando a arma do meu crime de um lado para outro. E assim fiquei por alguns segundos, torcendo para que este tenha sido o golpe fatal.

Levantei o cano e constatei que, enfim, ela havia se libertado daquele incrível sofrimento. Agora as formigas poderiam seguir com o seu banquete sem a agonia do prato principal.

sexta-feira, 3 de novembro de 2023

HALLEY

Cá estou eu, em 28 de julho de 2061, com 96 anos, olhando para o céu noturno, buscando o ilustre visitante que aparece a cada 75 ou 76 anos: o cometa Halley.

Em 1986, em uma turma de amigos, fugimos da luminosidade da cidade e fomos vê-lo no Riacho Grande. A cauda estava bem curtinha, mas, mesmo com este grau de decepção, a imagem ficou gravada na memória.

Sempre que me recordo deste dia, fatalmente me vem na lembrança um amigo, o Júlio, que também passou rapidamente pela Terra, pois nos deixou ainda jovem... Naquela sexta-feira de 1986, ele insistiu bastante para que eu pegasse a chave da chácara que meus pais tinham em Ibiúna, pois lá, segundo ele, seria o lugar ideal para apreciarmos o cometa. Encher o tanque do meu Chevette 77 e partirmos para lá, com o carro cheio de amigos: plano perfeito! Também concordo, teria sido maravilhoso. Mas eu não quis ir, apesar de todos os apelos. Com certeza ficou bastante chateado com esta minha atitude. Quer saber de uma coisa Júlio? Eu também fiquei mal com esta minha reação. Nunca te contei, e nunca poderei te contar, mas talvez agora você possa me ouvir enquanto mergulho o olhar enrugado nas estrelas... Foi a gagueira, minha maldita gagueira, que tanto me limitava! Naquela noite em que você, entusiasmado, argumentava o quanto legal seria a nossa aventura em Ibiúna, tudo o que eu mais queria era não ir para nenhum lugar. Queria me reprogramar, fazer alguma coisa para deixar de gaguejar. Tinha essas ideias bestas mesmo. Não me aceitava, negava a vida. Enquanto não fizesse aquilo que chamava de “reativação” ou “pacto”, para resolver o que para mim era o grande problema de minha vida, não queria saber de mais nada. Em algum momento após nos despedirmos, eu, dependente de minhas loucas regras e estratégias para não gaguejar, fiz essa tal de reativação ou pacto, o que me permitiu ir para o Riacho Grande no dia seguinte, mas a chácara de Ibiúna havia ficado para trás, valiosa oportunidade perdida...

Agora, tanto tempo depois, vejo o mesmo astro que testemunhou esta minha atitude que me causou um arrependimento por toda uma vida... A cauda está pequena, do mesmo jeito que estava em 1986. Bem que, desta vez, podia ter sido bem maior... Mas, pelo menos, acho que o Júlio ouviu o meu recado.

terça-feira, 26 de setembro de 2023

PÉ DE MAMÃO

Foi um choque. Quando vi meu pé de mamão tombado ao chão, esta triste cena me deixou meio desorientado. Logo chamei minha esposa para mostrar aquela longa vareta estendida sobre a terra. Sim, o pé de mamão, que deveria ter mais galhos e folhas, resumia-se a um caule que acho que ultrapassava um metro de altura. Bem no topo deste mini-arranha-céu vegetal havia umas duas ou três microfolhas. Apesar desta estrutura totalmente atípica, cultivava eu a esperança de um dia colher formosos mamões em um majestoso pé de fruta...

A primeira suspeita para explicar o acontecido foi pensar em um rato, vindo da casa abandonada que faz divisa com o meu quintal. Ou talvez um gato vindo das vizinhanças. Falei e tentei mostrar para a minha esposa, no escuro da noite, a borda de um canteiro de terra, que tinha sido arduamente por mim levantado há quase duas semanas, dizendo que alguém tinha pisado e deformado a lateral do mesmo. “Eu não pisei no canteiro, eu não ia pisar...”, argumentava para ela, jogando a culpa do acontecido com o pé de mamão em um maldoso ou desastrado animal que, além de derrubar minha esperança de colher mamões, deixou também sua marca neste canteiro.

Ao tentar levantar o pé caído, constatei que ele não mais se sustentava. Então imaginei um rato roendo o caule. O fato é que não havia como recuperar a planta. Fui em busca da tesoura de jardineiro e cortei o caule, uns três ou quatro dedos acima do solo, que foi justamente onde parecia ter sido comido pelo vândalo roedor. Fiz o corte na diagonal, e o motivo disto era a insistência da minha esperança, que acreditava que assim, naquela superfície maior, surgiriam brotos e o pé renasceria, tal qual uma Fênix...

No dia seguinte, minha sogra, que estava de passagem em casa porque minha esposa a havia levado para fazer um exame, ao analisar o longo caule cortado, desconfiou da minha tese do rato. Disse que o pé já não estava bem. Então resolvi inspecionar melhor, agora na luz do dia, o que restou do querido vegetal, no qual depositava as mais sinceras esperanças de lindos frutos. Logo verifiquei que ela estava certa. Em determinada região, justamente onde ele tombou, o caule estava meio ressecado e um tanto afinado. Era uma doença que não transparecia para quem visse a esbelta planta (bota esbelta nisso!). Se bem que aí já comecei a relacionar os acontecimentos... Estava explicada a razão das microfolhas que não se desenvolviam. Com este sério problema no talo, lá embaixo, os nutrientes mal chegavam no topo da estrutura vegetal.

No próximo fim de semana já procurei providenciar um sucessor para carregar minhas esperanças. Deixei secar ao sol sementes de mamão, afofei bem a terra no mesmo local do falecido, e semeei...

Dizia o sujeito do vídeo no YouTube, visto neste mesmo fim de semana, que mamão frutifica entre cinco a sete meses de idade. Caramba! Pelos meus cálculos o finado pé contava com quase dois anos de idade e nada... Muito longe mesmo de qualquer fruto! Vamos ver se este pé que ainda nem nasceu tem uma sorte diferente. Dizia também o mesmo sujeito do vídeo que é preciso regar diariamente. Pois bem, estou fazendo e procurarei continuar fazendo a minha parte com relação às regas. O resto é com a natureza.

Ainda vou comer um doce mamão colhido aqui no quintal de casa!

domingo, 27 de agosto de 2023

MEU NOME É GUERRA

Extermino povos para aumentar o poder dos poderosos.

Conquisto territórios e riquezas, deixando um rastro imenso de dor.

Arrasto países inteiros às ruínas, despertando os piores sentimentos nos seres humanos, que deixam de ser humanos.

Sou alimentada por uma indústria bélica que lucra cifras gigantescas. Enquanto muitos morrem, poucos enriquecem.

Satisfaço sentimentos de preconceito, ódio e crueldade. Sob o meu manto, as piores atrocidades acontecem.

Posso ser motivada, principalmente, por questões territoriais, religiosas ou geopolíticas. Mas dizem que sempre, no fundo, o verdadeiro motivo é o dinheiro e o poder.

Me chamam de santa, e matam em nome de Deus.

Me chamam de híbrida, e atacam usando desinformação, manobras jurídicas e outras frentes de atuação, garantindo que o inimigo receba golpes de diversas formas.

Acompanho os homens desde a sua origem. Fui evoluindo com o decorrer do tempo. Comecei com o corpo a corpo. Passei por pedras, paus, metais e lâminas. Cavalos, catapultas, arco e flechas. Pólvora, canhões, tanques, aviões. Bombas atômicas, de hidrogênio, do que for melhor para causar mais destruição. Vírus, substâncias químicas, vale qualquer coisa para matar ou causar dano ao inimigo.

Gastam rios de dinheiro para me nutrir, sendo que este valor seria mais que suficiente para resolver o grande problema de nutrição: bilhões de pessoas passam fome ou estão em situação de insegurança alimentar.

Mas não pense você que eu estou sensibilizada por causa disso tudo, afinal também tenho instinto de preservação. Podem canalizar todos os recursos para me fortalecer! Eu agradeço e sigo firme!

Meu nome é guerra! 

domingo, 6 de agosto de 2023

DIVAGAÇÕES CÓSMICAS PELA JANELA DO ÔNIBUS

Pela janela do ônibus vejo o horizonte avermelhado. A silhueta das árvores nos mostra um mundo de contornos. No céu, perto do pôr do sol, o brilho de um planeta que que foi batizado como estrela-d'alva. Esta cena me remete ao espaço sideral. Não é só isto que estou vendo, é muito mais!

Lembro-me da sonda Voyager 2, que nestes dias anda brincando de se esconder dos homens. Na verdade, foi um comando errado que ocasionou a sua perda de contato com a Terra. Então, para restabelecer este contato, os especialistas do nosso planeta conseguiram localiza-la novamente, com a ajuda de diversos observatórios terrestres e, a partir daí, puderam enviar o sinal que, após viajar por 18,5 horas, comandou o endireitamento da nave espacial, fazendo com que a sua antena voltasse a ficar corretamente posicionada.

Agora, já fora do nosso Sistema Solar, ela poderá continuar a sua dupla tarefa: nos informar sobre o que detectar por aí, no espaço afora, e também ser um repositório de informações sobre a humanidade, na esperança de que um dia seja encontrada por alguma forma de vida inteligente. Inclusive, até há instruções de como chegar até nós, em uma espécie de mapa estelar.

Mas será que um dia esta sonda espacial será encontrada por alguém?

E como seria o planeta onde este alguém habitaria? O seu pôr do sol teria alguma semelhança com o nosso? Teria este avermelhado maravilhoso e estas silhuetas fantásticas?

Existiriam ônibus neste mundo distante? Ou seriam outros tipos de transporte, muito mais avançados que os nossos?

Dentro deste meio de transporte desconhecido, haveria alguém que, como eu, estivesse mirando o horizonte ao findar do dia, com o pensamento perdido no Universo?

Perguntas, perguntas, perguntas...

Dentro da nossa pequenez, nada sabemos...

Eu, na poltrona do ônibus, olhando pela janela, por mais que expanda o pensamento nesta direção cósmica, nenhuma resposta obterei...

Nem sei se voltarei a ver o cometa Halley...

Em 1986 consegui ver a sua cauda. Era pequena. Na história de suas passagens, certamente esta não foi uma das suas melhores aparições.

Espero, ainda que bem velhinho, poder vê-lo novamente... E que venha menos tímido em sua próxima passagem, trazendo uma cauda bem comprida e brilhante!

Certamente eu, se conseguir vê-lo, mesmo que viaje em algum ônibus voador, ainda trarei comigo muitas interrogações...

Mas espero que aqui na Terra ainda haja um pôr do sol assim bonito...

Tomara!

quarta-feira, 21 de junho de 2023

SOLSTÍCIO DE INVERNO

Hoje, exatamente às 11h58min, ocorreu o solstício de inverno no Hemisfério Sul. Então quer dizer que hoje, para quem está abaixo da linha do equador, foi o dia mais curto do ano. Amanhã o dia será um pouquinho mais longo que hoje, e o próximo mais um pouquinho, e assim por diante, até chegar ao dia 22 de dezembro, às 00h27min, quando ocorrerá o solstício de verão, com o dia mais longo do ano. Sempre me ligo nessas coisas. Gosto desta metade do ano, quando o Sol vai aparecendo cada vez mais, fazendo-se cada vez mais presente, esticando os dias!

Resolvi regar o quintal do fundo de casa agora de noite. Já comecei a tarefa informando às plantas sobre esse tal solstício, dizendo que hoje foi o dia mais curto do ano e que, já amanhã, o dia será um pouquinho mais longo que hoje, e o seguinte um pouquinho mais, e tudo isso que já foi aqui falado. Quis regar hoje para já dar essa boa notícia a elas. Sim, para pegá-las justamente após o pior dia e consolá-las. Digo “pior” porque creio que, para elas, que dependem do Sol, deve ser difícil ver os dias encurtando, um após o outro... Mas agora elas já sabem que, de agora em diante, até perto do Natal, é só melhorar, é só esticar cada vez mais o dia, trazendo mais luz e energia!

Em setembro recomeçarei com a horta. Até lá, recolherei todas as folhas das árvores que caem na parte cimentada e as espalharei pela terra, assim o solo vai ganhar mais fertilidade. A tentativa que fiz de cultivar a horta nesta primeira metade do ano não foi nada bem-sucedida. Além de ter descuidado das regas, acredito que ainda pesou negativamente a sombra de todas as árvores, e também da alta parede do vizinho do lado esquerdo, justamente o lado onde o Sol corre mais baixo no outono e no inverno.

Mas agora o Sol vai jogar a nosso favor!

É gratificante saber que hoje todas as plantas do quintal do fundo de casa estão devidamente hidratadas, bem molhadinhas, já com a boa notícia de que os dias começarão a esticar, pouco a pouco...

Todas as árvores já sabem!

O velho pé de acerola, um dos mais antigos, junto com o de romã. O grandioso pé de goiaba, que quer tomar conta de todo o quintal. Mas o de amora não se dá por vencido, pois na altura compete com a goiabeira, porém perde na extensão da copa. No entanto, o quintal tem um jovem integrante, o abacateiro, que está prometendo que vai crescer muito ainda, a julgar pelo viço dos seus galhos e folhas, bem se vê que nasceu para aparecer com grandiosidade! E não podemos esquecer daquele pé que está sendo a principal atração do momento, ofertando-nos suas deliciosas atemoias! Porém ainda há outros, os menores, mas que não devem ser menosprezados: pitanga, limão e mamão. Finalizando o time das frutas, vem a lichia. Ainda é uma pequena mudinha, nascida da semente que plantei.

Todas as plantas já sabem!

As roseiras, folhagens, erva-cidreira, espada-de-são-jorge, azaleia, arbustos... E as couves-brócolis, azedinhas, pimentões e cebolinhas, que lutam bravamente tentando levantar a bola do sofrido time da horta!

Agora é certeza! A cada dia, um pouquinho mais de dia! É o movimento de translação da Terra que garante, como um relógio, preciso, na dança dos astros...

E, por falar em astros, assim que acabei a “regada do solstício”, olhei para o alto e notei que, surpreendentemente para um morador da Grande São Paulo, muitas estrelas estavam visíveis! Fiquei observando, observando... E a mente divagando... Até que pensei: será que tem alguma horta ou quintal assim em algum planeta por aí?

sexta-feira, 9 de junho de 2023

O BANQUEIRO E O PASTELEIRO

Um dia desses meu futuro genro me disse que o banco onde trabalha demitiu 60 funcionários da área de marketing. "Tá cortando da própria carne", foi com esta expressão que descreveu a gravidade da situação. Recebi esta notícia com indignação. "Mas como pode? Banco tá sempre lucrando bem!", foi o que disse na hora. Aí ele completou falando que o aumento do lucro não foi o esperado. Então eu continuei manifestando minha aversão a esta postura do setor bancário. "O que eles estão querendo? Se em um ano lucrou 20%, depois, no ano seguinte, quer lucrar mais? E depois mais, sempre mais? A coisa não pode ser assim! A economia tem um limite! Tem um teto!". Gesticulava, fazendo com a mão esquerda o tal teto, e a direita batendo neste limite. E o pensamento, revoltado, girava, e nem sei o quanto disse ou o quanto pensei de elementos do tipo: "Ganância! Exploração! Só eles querem lucrar assim? A economia não aguenta!".

Bom, vamos segurar esta primeira situação que vivi, porque, poucos dias depois, tive uma outra conversa, que serviu como perfeito contraponto. Mas antes é preciso contextualizar. Estava voltando a pé para casa e, ao me aproximar do viaduto em obras e ver os tapumes cobrindo quase toda a parte da passagem dos pedestres, pensei: "Será que o Manoel perdeu o ponto mesmo? Talvez a prefeitura o tenha mandado para outro lugar de São Caetano... Ou suspenderam a licença e ele está tirando uma folga...". Porém, logo após passar por baixo do viaduto, eis que vejo, do lado esquerdo, a Kombi dele, com várias abelhas em volta, atraídas pelo doce do caldo de cana. Percebo que está nas arrumações finais.

– E aí Manoel! Então você conseguiu continuar com o seu ponto aqui? Eu até pensei que, com toda essa obra do viaduto, cê tinha perdido...

E o papo continua, com comentários sobre o seu novo local de venda de pastéis, poucos metros distante de onde estava, afastando-se somente o suficiente para fugir da área em obras, porém mantendo-se ainda em região de passagem de grande fluxo de pessoas, perto da entrada do hipermercado e do ponto de ônibus. Ressalto estes pontos positivos e ele fala que lhe perguntaram de qual lado do viaduto queria ficar. Explica então que decidiu por este lado porque do outro poderia haver complicações envolvendo uma casa nas proximidades ou, em outras palavras, as abelhas poderiam causar transtornos àqueles moradores... Pois bem, este é o contexto que precisava colocar antes de partir para o que o Manoel me contou, em determinado ponto da conversa, e que caiu como uma luva, no sentido de fazer um perfeito contraste com o pensamento dos banqueiros. Veja se eu não tenho razão. Disse-me ele:

– Outro dia uma senhora veio falando comigo, ela quase nunca tinha passado por aqui. Então ela pediu um pastel e eu disse que tinha acabado. Aí a véia já foi reclamando que eu tinha que trazer mais pastéis, que eu não podia parar naquela hora e isso e aquilo. Então eu respondi que tenho uma meta, vendendo um tanto por dia, pra mim tá bom. Disse que não adianta eu já ir trazendo mais pastéis no dia seguinte, porque a coisa não funciona assim, tem dia que vende mais, mas tem dia que vende menos, e eu não quero voltar com massa pra casa. Mas ela foi insistindo, dizendo que se abrir uma outra banca aqui do lado aí é que eu ia ver, e tudo mais... Aí eu falei: “quero ver se ele vai colocar o pastel a cinco reais como eu e, se colocar, faço por quatro, e quero ver qualidade do dele...”. Então, como ela não parava, acabei falando assim: “Olha, minha senhora, quer saber de uma coisa? Por que eu faço assim? É porque eu não tenho ganância! Chegando na minha meta do dia, pra mim está bom, entendeu?”. Aí ela foi saindo, com um bico na cara e resmungando alguma coisa...

Desnecessário comentar, tampouco colocar uma moral nesta história. Esta parte pode, caso se queira, ficar a cargo de quem lê. De minha parte, só me resta colocar um título neste texto, que ainda não foi rotulado com nenhum nome. Acho que este cai bem: “O banqueiro e o pasteleiro”.

domingo, 16 de abril de 2023

CONTRAPONTO A UMA CORRENTE DE WHATSAPP

Um dia desses recebi uma corrente de WhatsApp que mexeu comigo e que está me motivando a escrever estas linhas. Ninguém é dono da verdade, mas a verdade não deve ser deturpada ou completamente negada para atender a determinados interesses, nestes casos, sempre sombrios interesses.

Explico melhor, para que o leitor possa entender o que estou querendo dizer. Primeiramente devo mencionar que a mensagem recebida tinha cerca de 80% do texto com conceitos aderentes ao meu pensamento, e creio que também condizentes ao senso comum, sem ferir a verdade, pois falava sobre todas as coisas que as crianças devem aprender em casa. Boas maneiras, honestidade, solidariedade, respeito, cooperação, etc. Ninguém, em sã consciência, pode ser contrário a estes princípios. Até aí, tudo bem. Na sequência, o texto prossegue, listando o que os professores devem ensinar na escola, enumerando todas as matérias que conhecemos: Matemática, Português, História, Geografia, Ciências, etc. E, para completar a primeira parte, mencionava que os professores “apenas reforçam o que o aluno aprendeu EM CASA!!!”. Estava escrito exatamente assim como aqui coloquei, com todas as letras maiúsculas e exclamações. Outra vez, até aí, tudo bem. Isto porque não há como negar que todo o aprendizado dos princípios acima descritos deve acontecer, prioritariamente, em casa, e que a tarefa da escola é, apenas, reforçar tais princípios civilizatórios.

Mas os 20% finais do texto me deixou de queixo caído. Não acreditava no que estava lendo. Transcrevo, abaixo, a parte mais impactante:

“NA ESCOLA NÃO se aprende sobre:

1 – Sexo

2 – Ideologia de Gênero

3 – Ativismo LGBT

4 – Comunismo

5 – Esquerdismo

6 – Islamismo”.

Respiro fundo. Organizo os pensamentos e as emoções. Vamos lá, combater a deturpação das ideias e o ataque rasteiro e preconceituoso a coisas que nem sequer se conhece...

Não ensinar nada sobre o sexo? E como fica a gravidez precoce? Falar sobre sexualidade nas escolas, na idade certa, representa uma orientação segura e responsável para se evitar ou minimizar consequências desagradáveis, afinal, infelizmente, nem todas as famílias têm condições de bem conduzir seus filhos neste delicado assunto. Outra pergunta: a sexualidade não pertence à nossa biologia? Dentro do ensino das Ciências deve haver assunto proibido?

Ideologia de gênero é uma fantasia criada na cabeça dos reacionários mais radicais. Oh meu Deus! Alguém ainda acredita em “mamadeira de piroca” nas creches?

Sobre o “ativismo LGBT”, creio ser preciso esclarecer que não se trata, em absoluto, de corromper ou influenciar a sexualidade de quem quer que seja. Entendo ser, simplesmente, um mecanismo para combater os preconceitos que recaem fortemente sobre os indivíduos que não se encaixam no padrão “homem/mulher/cisgênero”. Mostrar este preconceito, fazer com que os jovens aceitem e respeitem as diferenças, quaisquer que sejam, não seria também uma educação com elevados propósitos de cidadania? Que mal há nisso?

“Comunismo” e “esquerdismo” são palavras que foram demonizadas pela ignorância. Mas, enfim, o que é o comunismo? A definição mais simples que encontrei foi esta: “Uma ideologia política, social e econômica contrária ao capitalismo, na qual se estabelece uma sociedade igualitária”. Mais uma pergunta: “Se é aceitável ensinar, nas escolas, sociologia, filosofia e história, por que não abordar todas as ideologias existentes, tratando do comunismo, capitalismo, liberalismo, neoliberalismo, imperialismo, etc?”. É libertador para o aluno conhecer todas as vertentes de pensamento, para que possa, por fim, formar o seu próprio pensamento.

A presença do termo “islamismo” como algo negativo e que não deve ser ensinado nas escolas representa o mais alto grau de preconceito com uma religião como outra qualquer. Aliás, é a segunda maior população religiosa do mundo, depois dos cristãos. Penso que é extremamente válido que a escola mostre aos alunos os traços principais das diversas religiões: cristianismo católico, cristianismo protestante, espiritismo, umbanda, candomblé, judaísmo, islamismo, hinduísmo, budismo, confucionismo, xintoísmo, taoismo, vodu, etc. Conhecimento não é pecado, é mostrar ao aluno o enorme leque composto por vários caminhos, e cada um segue o que quiser depois, ou nenhum deles, pois o ateísmo também é um caminho válido e que deve ser respeitado, como qualquer outro.

Não é porque existem maus religiosos, que misturam as coisas e promovem o terrorismo fundamentado no “radicalismo islâmico”, que temos o direito de incriminar o islamismo. Não é a religião que é ruim, são alguns dos seus fiéis que o são. Afinal, o catolicismo também carrega uma carga muito negativa em sua história, com a santa inquisição e as cruzadas. De onde se conclui que é preciso separar a religião do religioso. Eu mesmo, que sou espírita, já me decepcionei bastante com os espíritas, mas não com o espiritismo.

Finalizando, faço um apelo para você que me lê, e que chegou até esta conclusão do meu raciocínio, para que não se deixe levar por preconceitos e correntes de WhatsApp. Família é algo muito importante, e os primeiros 80% do texto que recebi retratam esta importância sem incorrer em distorções ou mentiras. No entanto, os 20% restantes empurram os incautos para o terreno do preconceito e do ataque a conceitos demonizados e nunca explicados com a clareza que merecem. Fique atento. Não se deixe levar por coisas que lhe fazem odiar certas coisas. Isto nunca é um bom caminho. Você estará cada vez mais distante de um pensamento livre e justo.

Recado dado. Afinal, não poderia deixar passar este texto em corrente de WhatsApp sem dar o meu contraponto. 

sábado, 15 de abril de 2023

ANTITEXTO OU OS DEZ MOTIVOS QUE ME LEVAM A NÃO ESCREVER

Não vou escrever sobre política, apesar de acreditar que este tema é absolutamente importante e necessário.

Não vou escrever sobre economia, apesar de acreditar que eu posso, sim, contestar as taxas de juros do Brasil, que são “pornográficas”.

Não vou escrever sobre religião, apesar de acreditar ser importante alertar sobre o uso indevido da religião para favorecer interesses nada elevados.

Não vou escrever sobre futebol, pois depois que o São Caetano saiu de cena, após sua breve passagem pelo rol das grandes equipes, fiquei órfão de time.

Não vou escrever sobre coisas que aconteceram comigo ultimamente, porque nenhuma delas tem potencial para render algo literariamente interessante.

Não vou escrever sobre as plataformas de redes sociais, apesar de acreditar ser urgente aplicar sobre elas uma regulamentação que estanque o ódio que transita pelas mesmas.

Não vou escrever sobre filmes que vi, porque não sou crítico de cinema.

Não vou escrever sobre livros que li, porque leio muito pouco livro, e deveria ler muito mais.

Não vou escrever uma história criativa, porque não tive nenhuma ideia que valesse a pena e nem o ChatGPT me ajudou nisso.

Não vou escrever algo só para cumprir o compromisso de manter meu blog, porque escrever é coisa séria, que não deve ser banalizada.

É por isto tudo que não vou escrever. Mas, já que escrevi os motivos que me levam a não escrever, sendo que, nesta tarefa, acabei escrevendo, então por que não fazer disto tudo mais um texto, ou um “antitexto”?

domingo, 12 de fevereiro de 2023

EU, PELOS ARES!

Estou sentado em frente ao computador, em busca de inspiração para criar mais um texto para este blog. Está difícil... A ideia que tinha perdeu o colorido. Começo então a ver tudo que escrevi, nestes mais de onze anos de projeto para exercitar a escrita. Rolo a tela, recordo... Mas a ideia não vem.

Desvio então o olhar para a direita e eis que ele crava sobre um antigo álbum de fotografias, daquelas pequenas, 10 x 15, sobre a escrivaninha e atrás da garrafa d’água, vazia. Resolvo abri-lo, pois talvez me traga a esperada inspiração.

Fotos da época do colégio, no início dos anos 80. Caramba! Já faz mais de quatro décadas! Uma foto chama a minha atenção. Tiro-a do plástico e, no verso, encontro algumas palavras a respeito da mesma: “Euforia de fim de ano resultando no meu arremesso para o “espaço” (2º ano)”. Calculo então a data: novembro ou dezembro de 1981.

Fico admirando a cena, captada em um breve instante, no qual o meu arremesso para o espaço devia estar em seu ponto mais alto. O clique foi perfeito. De baixo para cima, fotografou-me em pleno voo, arremessado por um bando de adolescentes, como eu, bons tempos... Que loucura! A brincadeira era jogar o cara para cima, o grupo todo impulsionando, rodeando e sustentando o projétil humano por todos os lados. Um, dois, três! E lá fui eu para os ares! Acredito que passei dos três metros, talvez até cheguei aos quatro. Deu tudo certo na foto: um bonito céu de fundo, imagem centralizada nos quatro mastros de bandeiras, sendo que havia somente a do Brasil hasteada, esticada pelo vento... Meio que sentado no ar, meu pé esquerdo parecia chutar o símbolo nacional, enquanto os braços, esticados e para frente, buscavam dar ao corpo algum equilíbrio no espaço.

Fui o primeiro, escolhido por ser o mais leve. Depois vieram outros... Fui bem acolhido no pouso. Porém com um de nós o resultado não foi inteiramente feliz. Houve algumas desistências no momento de amortecer a queda e ele foi parar no chão! Nada quebrado, nada muito sério, apenas uma demonstração da insanidade reinante no nosso grupo!

É incrível como um instante, captado em um negativo e registrado quimicamente em papel fotográfico, é capaz de provocar recordações e emoções... São tempos que não voltam mais...

Por duas vezes entrei em grupos de WhatsApp de colegas daquela época. Não deu certo. Diferenças políticas muito marcantes inviabilizaram minha permanência nos mesmos. Foi melhor assim. Não vale a pena discorrer mais sobre esta questão agora, vamos ficar com as boas recordações, de um tempo em que nem imaginávamos as transformações sociais que viriam pela frente...

E esta foto, com certeza, captou um instante único, que nos faz suspirar... E que rendeu o texto do blog deste mês! 

sábado, 28 de janeiro de 2023

MÃE, MÃE, MÃE, MÃE!

Um negro sendo espancado por cinco policiais negros. A vítima grita pela mãe, que mora a uns 80 metros do local da agressão. Cassetete, arma de choque, spray de pimenta e muita, muita violência.

Mãe, mãe, mãe, mãe!

É muito chocante. A cena é de uma covardia extrema. Ver um homem, totalmente subjugado, apanhando brutalmente, agarrando-se no que lhe parecia ser a única salvação para escapar da morte, clamar por quem lhe deu a vida.

Mãe, mãe, mãe, mãe!

Seus gritos não alcançaram os ouvidos da mãe. Após A sessão de espancamento, foi encostado na lateral de um carro. Largado, não esboçava reação alguma. Mas seu corpo reagiu, com a morte, três dias depois.

Qualquer assassinato é revoltante, mas há alguns que movimentam nossas mais profundas fibras e que nos deixam totalmente indignados. Precisava acontecer isso por, segundo a versão dos policiais, “direção imprudente”? Arrancado à força do carro e submetido a uma execução...

O pano de fundo é óbvio: racismo estrutural. E não adianta vir com o argumento de que os agressores, todos eles, também são pretos. Isso não lhes tira a capacidade de terem preconceito com sua própria cor.

Vivemos em um mundo rodeado por muitas sombras. Tenho, em meu íntimo, que devemos buscar a luz, de todas as formas possíveis. Não é nada agradável escrever coisas com este gigantesco grau de negatividade. Mas às vezes é preciso, para alertar, para tornar cada vez mais evidente que é urgente que se faça algo para evitar estas ações terríveis, que aproximam a humanidade da bestialidade.

No entanto, enquanto nada é feito, só nos resta clamar...

– Mãe, mãe, mãe, mãe!

quinta-feira, 19 de janeiro de 2023

PENINHA

Escrever sobre coisas que aconteceram é sempre mais fácil, pois a ideia já está pronta. Ao colocar estas coisas no papel, ou teclá-las na tela do computador, não importa a maneira como registramos as memórias, acabamos por salvá-las de caírem no esquecimento. E fazer isso enquanto as experiências estão relativamente frescas na lembrança, acredito que seja o melhor momento, porque aí conseguimos retratar os fatos com a fidelidade que merecem, sem distorções.

Deveria começar a narração seguindo a ordem cronológica, a partir do momento em que ouvi as exclamações vindas da garagem, quando elas, minha esposa e filha, disseram que um passarinho lá estava, naquela manhã do segundo sábado do mês de novembro de 2022, enquanto nos preparávamos para sair rumo à aula de Pilates. Mas não, prefiro começar contando pela lembrança mais marcante para mim, aquela que mostra o grau de intimidade que aquele pequeno ser, em tão pouco tempo adquiriu, ao ficar empoleirado sobre os meus óculos, pendurados no pescoço, enquanto eu, andando cuidadosamente, desfilava com a sua companhia, tendo-o rente ao peito, fazendo do objeto que são os meus olhos de ver de perto um balanço ou um poleiro improvisado. Que boa sensação! Também gostei muito quando andei um pouco pela casa, tendo-o pousado sobre meu ombro direito. Sempre quis desfrutar este grau de proximidade e confiança. Faz-me lembrar dos filmes que mostram papagaios pousados em ombros humanos. Muito boa experiência!

Batizei-o de Peninha. Mesmo nome do personagem principal de um conto infantil que fiz há décadas atrás. Diferente do seu xará da ficção, não tinha nenhuma peninha que teimasse em ficar espetada sobre a cabeça. Acho que o nome surgiu como uma espécie de resgate da antiga criação, apesar de nada se parecer com ela, mais sendo a minha vontade de materializar o protagonista daquela história, como se o mesmo viesse me visitar após tanto tempo.

Logo procuramos descobrir qual seria a sua espécie. Primeiramente pensei em pomba-rola, mas o bico mais comprido, apesar do seu pequenino tamanho, apontava para outra classificação. Minha sogra dizia que era sabiá, palpite que trazia boa probabilidade de corresponder à verdade, pois a presença destes pássaros é comum aqui nas redondezas. Cheguei até a imaginar que fosse filhote de bem-te-vi, mas descartei a ideia, pois não havia uma coloração amarela mais intensa em seu peitinho. O que havia, neste mesmo lugar, era um quase imperceptível amarelo-amarronzado, fazendo com que a hipótese da sogra, e também da esposa e da filha, ganhasse o ranking dos palpites.

E lá fui eu, pesquisar na internet, quanto tempo vive um bicho desses, o sabiá. Encontrei resultados variados, de 10 até 30 anos. Na pior das hipóteses, considerei uma década de longevidade, e fiquei a imaginar como seria o convívio com o passar do tempo. Havíamos decidido criar o animalzinho solto, e eu cultivava a esperança de que ele, mesmo após os cuidados que pretendíamos lhe dar em seu começo de vida, não nos abandonasse, permanecendo no entorno da casa, em especial no quintal do fundo, onde temos várias árvores que servem como um bom habitat para os pássaros. Que bom seria ter um animalzinho de estimação criado com total liberdade, mas que, pela vontade de nos ter por perto, optasse por conviver conosco! O conheceríamos de imediato pelo grau de intimidade, já chegaria pousando ao nosso lado, no nosso ombro. Conversaria em silêncio com a gente, contando-nos como é bonito ver o mundo de cima, rasgando os ares. Mas também estava perfeitamente preparado para um natural abandono da parte dele, deixando-nos para trás, para voar por terras distantes...

A memória não é algo linear ou contínuo. É composta por momentos, que trazem emoções. E uma das coisas que não posso deixar de contar foram as ocasiões nas quais o Peninha, sempre muito curioso e xereta, escapava do nosso olhar e sumia do mapa. Aliás, acho que este espírito desbravador e inquieto foi a causa do seu desgarramento da família. Um dos sumiços começou com a seguinte cena: o safadinho esforçando-se para subir a escada que leva ao que chamamos aqui em casa de salãozinho. Degrau após degrau, às vezes sem conseguir voar o suficiente para atingir o próximo nível, mas sempre bastante empenhado na sua exploração do território. Tenta uma, duas, três vezes. Tem degrau em que ele emperra. Aí depois embala uns dois ou três em seguida. E assim vai. Lá em cima, ao final da escada, uma grande maleta de plástico, embalando uma prancheta de desenho portátil, repousa atravessada rente ao portãozinho, para evitar que o xeretinha se perca entre tantas coisas que ali guardamos. No entanto isto se mostrou insuficiente para contê-lo. De repente: onde está o Peninha? Acredito que ele, já no último degrau, tenha dado um jeito de passar por baixo da grade lateral, entrando assim no pior aposento da casa em que poderia entrar, pois encontrar o pequenino seria, como diz o ditado, procurar uma agulha em um palheiro.

Andei com muita cautela entre as caixas, sacos, mesa e poltronas, no estreito caminho reservado à passagem, olhando cuidadosamente o chão que pisava, com medo de esmagá-lo acidentalmente. Procurava concentrar-me na audição, porque era possível ouvir um quase inaudível pio que às vezes o danadinho resolvia soltar. Mais difícil era saber de onde vinha o baixíssimo som. Cheguei até a pensar que ele ali morreria, perdido em algum canto. Fiquei nervoso e inconformado com a falta de cuidado que provocou este desfecho. Porém, depois de certo tempo, não muito, eis que o encontro, perto do portãozinho, na beira da curva do caminho entre todas as coisas. Ufa! Logo peguei-o com alívio. Até parece que queria dar uma volta naquela selva de objetos e, quando se deu por satisfeito, apareceu para ser resgatado. Que safado!

Algo parecido ocorreu no quintal do fundo. Nesta ocasião, eu estava sempre de olho no bichinho, enquanto varria as folhas. É uma área verde, cercada por muros e paredes, não teria como ele fugir de casa. Os seus pequenos e baixos voos não seriam suficientes para fazê-lo escapar. E como foi prazeroso vê-lo voar! Ele deve ter ficado contente por ter atingido a fenomenal altura de uns 70 centímetros, conseguindo pousar sobre um dos quatro canos do cercado que envolve o pé de goiaba. Depois fez um voo curto até o cano do canteiro da romã e, daí, arriscou-se em um trajeto de longa distância, quase dois metros, até empoleirar-se na cerca que delimita o canil, um pouquinho mais alta, com seus 80 centímetros, aproximadamente. Deve ter gostado bastante de aventurar-se por aquele pedaço de natureza que, para ele, era gigantesco! Outra cena que me lembro bem é vê-lo, outra vez empoleirado, no meio da grade da cerca. Ver aquele bichinho, pousado sobre o arame, em pequena altitude, em uma das muitas aberturas que formam a grade, foi muito bom. Fiquei contente, pois acho que ele se divertiu bastante... Mas eu tenho que deixar aqui algumas palavras sobre como é o quintal, a fim de que você, que procura acompanhar este meu relato, possa se orientar melhor... Do lado esquerdo há uma cerca e um pequeno portão de madeira, que definem a área lateral de um canil, onde há a casa do cachorro. Três pequenos canteiros que abrigam os pés de acerola, romã e goiaba, além do cimentado entre estas árvores, formam o quintal particular daquele que não está mais aqui para aproveitar... O nosso querido Bob se foi... E o querido Peninha quis também explorar este território natural. Aproveitou a minha rápida entrada para dentro de casa, a fim de fazer ou pegar algo que agora não me lembro, e sumiu novamente! Quando voltei ao quintal, nada de passarinho naquela região na qual ele estava. E olha que aqui também havia o perigo de ele perecer nesta aventura, pois do lado direito, sob e entre outros pés de fruta, folhagens, roseiras, há uma espessa camada de uma planta rasteira chamada “dinheiro em penca”, na qual o Peninha poderia perfeitamente afundar e se enroscar. Outro apuro! Caramba! E agora? Mais nervosismo e preocupação. Procura que procura e nada! Ao menos, de vez em quando, ouvia o seu quase inaudível pio, que era uma garantia de que ele não havia escapado para fora dos limites da casa, pois parecia que o baixíssimo som estava sendo emitido de algum lugar do meu quintal. Imaginava ele enroscado no emaranhado do dinheiro em penca, armadilha perfeita para pegá-lo em toda a sua fragilidade. Não deveria ter me ausentado nem um segundo sequer! Enquanto varria as folhas com os olhos grudados no bichinho, não tinha como ele se perder. Que irresponsabilidade a minha! Porém a coisa acabou como no salãozinho. De repente ele me aparece, com a mesma cara que diz: pronto, já dei uma voltinha por aí, agora já pode me pegar!

Chegou a hora de contar sobre a alimentação. Bom, quanto a esta parte, logo percebemos que ele não sabia comer sozinho. Na mesma hora em que ele apareceu aqui em casa, o colocamos em uma caixa de papelão ao lado de um pedaço de mamão. Esperávamos que ele comesse algo, mas, ao voltarmos da aula de Pilates, constatamos que o mamão estava intacto e a caixa vazia. Como o deixamos no corredor lateral, que vai dar em um pequeno quintal, também lateral e a céu aberto, pensei que ele havia partido para longe, e até achei bom. Fiquei, de certa forma, contente por ele ter conseguido independência, acreditando que dali para frente ele se viraria por si. Mas, pouco tempo depois, encontrei-o empoleirado sobre a haste de metal que serve de base para o carretel da mangueira. Foi o primeiro sumiço do safadinho... Bom, voltando à alimentação, ainda naquela manhã de sábado em que ele apareceu, consegui fazer com que tomasse um pouco de água na seringa. O coitadinho estava com sede.

No entanto, neste primeiro dia, depois de o Peninha matar a sede, não abriu o bico para engolir mais nada. Tentamos suco de mamão, água, e o biquinho continuava lacrado. Apesar de ele se mostrar ativo e esperto, não podia ficar sem comer. Então, ao final do dia, ainda naquele sábado em que ele resolveu aparecer aqui em casa, fui em busca de algum alimento apropriado. Saí do pet shop tendo em mãos um potinho com pó, que deveria ser dissolvido em água. Um composto específico, cheio de nutrientes, feito para filhotinhos de aves. Mas nem isso agradou o Peninha.

No dia seguinte, a casa estava cheia, pois era a festa de aniversário de minha filha. O Peninha estava no meu quarto, lá em cima, para não se estressar com tanta gente, pois dizem que os passarinhos são sensíveis com essas coisas. Sobre a caixa de papelão, um xale de furos largos para que evitasse um novo sumiço, mas também para permitir certo grau de iluminação e, principalmente, de ventilação. Porém, em determinado momento da festa, resolvi buscar o mais novo integrante da família, para apresentá-lo para as pessoas. Minha cunhada mostrou-se preocupada com o fato de ele não estar se alimentando. Minha irmã já sentenciou que ele estava doentinho, só de ver, sem mais nenhum exame, e este diagnóstico dado assim de repente, sem que fosse solicitado, deixou-me chateado. Poxa, que pessimismo! E olha que ela não é nenhuma especialista em pássaros! Achei bem mais pertinente o comentário do amigo de minha sobrinha, que disse que ele estava assustado. Ele havia morado muito tempo na Bahia, nasceu lá, acho que em região rural. Então as suas palavras ganharam valor, pois deve ter vivido situações e adquirido algum conhecimento capaz de fazê-lo perceber quando um animalzinho assim encontra-se amedrontado. Desta maneira, logo voltei com o Peninha para o meu quarto e lá o deixei, como antes, a fim de não mais estressá-lo.

Ainda nesta mesma tarde resolvi efetuar nova tentativa de fazê-lo comer alguma coisa. A papinha com o pó que havia comprado foi feita, desta vez, bem ralinha. Fiquei muito contente quando ele abriu o bico para nutrir-se do líquido, que eu empurrava e que saía de outro bico, o da seringa. Que ótimo! Parece que as coisas estavam melhorando com relação à alimentação do pequenino. Mesmo bem ralinha, a quantidade que ele engoliu já dava esperança de que conseguiríamos ajudá-lo nesta fase inicial da vida, para que crescesse e se desenvolvesse, ao nosso lado. Não importa se depois quisesse voar para longe. Seria criado sempre livre, nada de gaiolas. Então, logo após este primeiro sucesso em fazê-lo ingerir algo diferente de água, coloquei-o novamente na caixa de papelão. Até aquele momento, somente o matar a sede na manhã do dia anterior e esta papinha bem rala. Mas era o começo. Certamente melhoraria com o passar do tempo. Por muitas vezes eu o sustentaria, aconchegando-o em uma das mãos, enquanto a outra, empunhando a seringa, também o sustentaria.

Voltei a deixá-lo no quarto e retornei para a festa. Busquei tranquilizar a cunhada que havia manifestado preocupação por ele não estar se alimentando. Contei-lhe este primeiro êxito em fazer o Peninha ingerir os nutrientes contidos no pó. Que bom! Sem dúvida conseguiríamos cuidar deste mais novo integrante da família. E por falar em integrante da família... O Bob foi embora no domingo de Páscoa daquele mesmo ano. Sempre pedia aos céus para que ele tivesse uma passagem rápida, sem muito sofrimento. Dizia que ele era “muito gente boa” e que não merecia sofrer. E fui atendido. Foi levado pelos tumores que, felizmente, não o impuseram maiores sofrimentos. Sempre bem cuidado com o que a medicina veterinária pode proporcionar, fizemos o possível. Então, naquele momento, ao voltar para a festa, deixando o pequenino no quarto, com nutrientes em sua barriguinha, tudo levava a crer que a providência divina, vamos dizer assim, havia dado à nossa família um novo integrante. Levou o Bob, mas mandou-nos o Peninha!

Acabada a festa, já de noite, transportei a caixa, tirando-a do meu quarto e deixando-a ao pé da escada que leva ao salãozinho, um dos lugares prediletos dele, pois nestes dois primeiros dias gostou muito de subir até os últimos degraus, fazendo da escada uma espécie de árvore, satisfazendo o que acredito ser um instinto, de ficar por cima, aconchegado entre os galhos... Que chato que ele perdeu o seu ninho... Mas, não ligue não Peninha! Você foi parar no lar de amigos de pássaros. Será muito bem tratado aqui entre nós e, principalmente, com liberdade. Mas agora, nesta segunda noite aqui em casa, ainda ficará dentro desta caixa de papelão, coberta pelo xale, para evitar que se meta em enrascadas, certo? Então resolvi não o incomodar e nem levantei o xale para ver como estava. Com certeza estaria bem, dormindo, após ter se nutrido pela primeira vez com o tal pozinho que, naquele momento, era, aos nossos olhos, a salvação que o conduziria em direção a um pleno desenvolvimento. Fui dormir contente.

Na manhã do dia seguinte, antes mesmo que eu levantasse da cama, minha esposa, que levanta mais cedo e que já havia descido para a cozinha, voltou novamente ao quarto para me alertar: “Vem cá ver o passarinho! Eu não quis nem olhar direito! Não tenho coragem! Acho que ele está com a asinha meio torta, esticada... Coitadinho! Eu acho que...”.

Imediatamente fui ver. E constatei que ele estava morto. Nem toquei, não era preciso para ter certeza do acontecido. Parecia que já estava de algum modo enrijecido. Algumas formigas o cercavam, indicando que a natureza não para. Já estavam se aproveitando dos restos mortais do pobrezinho. A sua imagem no canto da caixa de papelão destruiu instantaneamente todas as esperanças de um futuro convívio. E trouxe também muitas perguntas sem resposta. Aliás, na verdade, apenas uma pergunta básica: por que ele morreu? E, a partir desta base, outras questões. Se ele morreu de fome, não era para ter ficado bem debilitado antes de morrer? Será que ele tinha algum problema de saúde? Será que o inconveniente comentário de minha irmã estava correto? Será que é por isto que ele nos apareceu aqui em casa? Dizem que certos animais abandonam a cria quando percebem que a mesma sofre de algum problema... Mas que problema seria esse? Algo no sistema cardíaco? Será que teve um infarte? Será que ele passou muito estresse quando eu o apresentei para as pessoas na festa? Será que isto teve consequência?

Muitas, muitas perguntas... Pesquisei um pouco na internet e vi que estes pequeninos seres são muito sensíveis às variações de temperatura. Aí me lembrei que o deixei no quarto na tarde anterior de um dia quente... Devia ter pesquisado isso antes, ter tomado mais cuidado! Mas será que foi isso? Ontem à noite eu nem quis ver como ele estava, para não o incomodar. Tinha confiança de que estava tudo bem. Fui dormir contente! Oh meu Deus! Será que nessa hora ele já estava morto? Quando aconteceu e, acima de tudo, por quê? Como disse, são muitas, muitas perguntas...

Peninha, meu amiguinho, que fez dos meus óculos um poleiro ou balanço, e passeou comigo, rente ao meu peito. Que se empoleirou no meu ombro direito, deixando-me contente por tê-lo assim ao meu lado. Que gostava de xeretar e dar os seus sumiços... Vida breve aqui com a gente! Nem quarenta e oito horas!

E a vida foi seguindo depois disso...

Aproximadamente um mês depois, estava aqui em casa um conhecido meu, que tentava arrumar uma gaveta com problema e que, além de entender de montagem de móveis, conhece bastante sobre passarinhos, pois cuida de muitos e tem isso como hobby. Pois bem, quando lhe contamos a história do Peninha, perguntou se ele já tinha penas, se estava totalmente “penado”. Respondi que sim. Então ele foi categórico. “Se não tem pena ainda, ou se tem poucas penas, aí o filhote abre bem o bico, procura comida. Mas se já está com todas as penas, aí não tem jeito. Ele morre de fome, mas não abre o bico para comer!”. Palavra de especialista.

Enfim, restaram perguntas sem respostas, mas, principalmente, restaram também ótimas lembranças!

Peninha, valeu por ter convivido conosco! Valeu mesmo! Acho que, como aconteceu, foi justamente aquilo que você queria. Deu suas sumidas, explorou bastante o mundo de uma maneira que jamais teria feito se tivesse permanecido no ninho...

Um grande abraço e voa com Deus! 

domingo, 20 de novembro de 2022

DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA

Hoje é dia da Consciência Negra.

E eu não soube nem como terminar a frase anterior. Pensei em colocar um ponto de exclamação após a palavra “negra”, para denotar um chamamento, demonstrar uma importância que beira a urgência. Mas depois desisti deste acento e resolvi colocar ponto final, pois assim adquire um ar mais formal, permitindo uma interpretação com pesar, que carregue todo o preconceito acumulado durante séculos.

Esta minha indecisão em como escrever uma primeira frase simples de seis palavras sobre este assunto deve estar acontecendo por eu não ter o que hoje se chama “lugar de fala”. Não vivi, não vivo, e não viverei o preconceito que a maioria dos brasileiros sofre, literalmente, na pele. Digo “maioria” porque estou tomando como base que mais da metade de nossa população se autodeclara preta ou parda.

Mesmo não tendo lugar de fala, aventuro-me em falar sobre este assunto, pois acredito que é tarefa de todos nós construirmos um mundo sem preconceitos. No entanto nem sei como continuar este texto. Não quero repetir frases feitas, nem elaborar pensamentos vibrantes, como quem quer ensinar os outros.

Para aqueles que realmente são preconceituosos, nada tenho a dizer. Alguma coisa tem que mudar dentro deles, para que possam enxergar as pessoas e o mundo de outra maneira. O caminho é longo. Mas não é somente no terreno da conscientização que este caminho deve ser percorrido. Não devemos esquecer que racismo é crime, e que a lei deve ser aplicada de maneira geral e firme.

Para aqueles que dizem não ter preconceito com pretos ou pardos, surge a pergunta: será que não existe realmente nenhum preconceito? Devemos nos observar, em nossos pensamentos e sentimentos...

É tudo uma questão de consciência, que deve ser exercitada e questionada não só hoje, dia da Consciência Negra, mas em todos os dias de nossas vidas.

sábado, 22 de outubro de 2022

VIVEMOS TEMPOS DIFÍCEIS...

Vivemos tempos difíceis...

Onde os maiores absurdos se sucedem.

Onde a violência e a opressão ganham espaço.

Onde a mentira coloca um cabresto de medo em uma população ignorante.

Onde está o comunismo? Quando houve comunismo aqui no Brasil? Quando haverá?

Não houve. E provavelmente nunca haverá.

O que houve foram tempos melhores para os mais pobres. E os mais pobres sabem disto. Mas esta melhora temporária assustou nossas elites, as elites do meu país, as mais atrasadas do planeta.

Vivemos tempos difíceis...

O fascismo estende as suas garras.

Os preconceitos e as agressões são naturalizados.

Fanáticos se apegam a uma pauta de costumes e misturam religião na política.

Sequestraram os símbolos nacionais, bradam por liberdade, mas encontram-se aprisionados em seu próprio ódio.

Acreditam naquilo que querem acreditar. Constroem um universo paralelo. Negam a ciência. Seguem o seu mito. Cegos que seguem um insano.

Tanto que fizeram, tantas atrocidades, em uma escalada que só produziu um esgarçamento das instituições democráticas. Até o ponto em que o chamado “PIB” e a grande mídia perceberam que o casamento entre o ultraneoliberalismo e o fascismo não chegou aonde queriam.

Mas o que fazer agora com todo este povo enlouquecido? Atiçados por agentes que queriam e conseguiram voltar ao poder por meio de um golpe, continuam em seu frenesi. Porém agora estes mesmos agentes desejam se separar do fascismo. No entanto não sabem como descontaminar grande parcela da população. Ignoraram que mexer com estas coisas é muito perigoso...

Mas há uma saída, ainda há uma saída.

Acontecerá na hora do voto, naquele instante mágico.

Que neste momento...

O amor vença o ódio.

A esperança vença o medo.

A verdade vença a mentira.

O esclarecimento vença o preconceito.

A compaixão vença o egoísmo.

A democracia vença o autoritarismo.

A paz vença a violência... 

domingo, 25 de setembro de 2022

SIMPLIFICAÇÕES

Sabe, um dia desses estava pensando... Bem que o mundo podia ser bem mais simples e menos trabalhoso. Não, não se trata de preguiça, e vou provar isso para você, descrevendo o que pode ser chamado de uma nova concepção de vida, sob também novas leis da natureza.

A primeira simplificação seria com a alimentação ou, em outras palavras, com a obtenção de energia por parte de todos os seres vivos. É fácil observar que passamos grande parte do dia empregando esforços para conseguirmos nos alimentar. Começando pelo trabalho que, nos dias de hoje, infelizmente, para muitas pessoas nem está sendo suficiente para gerar recursos que proporcionem uma alimentação decente. Isso para os felizardos que conseguem algum emprego. Bom, mas isso é um outro assunto que fica para outra hora. Vamos sair da área social e voltar para a área científica ou, mais especificamente, para o campo da biologia. E vamos já dizer como poderia ser: sem necessidade de comer, simples assim. Obteríamos a energia de outra maneira, através do sol, por exemplo, como fazem as plantas, ou por meio de alguma conexão divina, captando as boas energias vindas do “Alto”. Pense nas vantagens... Se, por um lado, ficaríamos privados de saborear uma picanha suculenta, poderíamos ter alguma compensação prazerosa nesta tal conexão divina, sem falar que estaríamos livres de tudo aquilo que cerca a preparação dos alimentos: trabalho, tempo gasto, louça na pia, cozinha suja, etc. As refeições seriam bem mais rápidas, uns cinco ou dez minutos no máximo, o tempo suficiente para encher o nosso tanque de energia. Isso poderia ser feito individualmente ou em conjunto. Ou também, estou pensando em outras possibilidades agora, esta carga de energia poderia ser feita durante todo o dia, em uma espécie de Wi-Fi espiritual, ou ao longo da noite, enquanto estivéssemos dormindo. Sim, confesso que seria meio que sem graça, pois é durante as refeições que interagimos socialmente, principalmente quando nos alimentamos em festas, por exemplo. Mas olha, será que não compensaria um pouco de privação por uma vida com muito menos trabalho? Poderíamos encontrar outras maneiras de interação social e sobraria muito tempo para ser empregado em outras coisas... Além do que, desta maneira, ninguém passaria fome. Acredito que este último argumento seja o mais forte de todos...

A segunda simplificação que pensei envolve uma total mudança das condições atmosféricas do planeta, fazendo com que a temperatura, umidade e todas as condições climáticas fiquem dentro de padrões totalmente perfeitos. Imaginei que, desta maneira, poderíamos dispensar as roupas, ou usá-las apenas nas partes que desejássemos esconder... Menos vestimentas, menos trabalho em lavá-las, secá-las, passá-las, e outros “lás”... E aqui também teríamos outro ganho social: ninguém morreria de frio.

Foram estas as duas simplificações que imaginei. Pode parecer loucura pensar nestas coisas, mas será que é tão “fora da caixa” divagar nestas ideias? Ou parecem distantes por estarem, realmente, fora da nossa “caixa”? Bom, não pretendo aqui responder estas questões. Deixo somente as perguntas e repito a frase de Sócrates (não, não é o talentoso jogador de futebol e também doutor, mas sim o filósofo ateniense): “Só sei que nada sei”.

sexta-feira, 12 de agosto de 2022

DIA PRIMEIRO DE ABRIL

Enquanto subo a escada do sobrado onde moro, penso que esqueci o celular lá embaixo. No instante seguinte, percebo que está no bolso. Mais um instante, e minha mente toma consciência de que sou um ser que muito viveu na era pré-celular. Penso na década de 80, eu mais jovem, a gente vivia sem celular! Surge uma sensação de superioridade, pois sinto que todo o meu ser foi formado e viveu muito bem sem essa coisa, e isto me traz um outro sentimento, o de independência. Pude viver sem ele, e trago comigo este poder de ficar sem ele, ao contrário dos mais jovens, tão dependentes e que vivem na sombra desse aparelho. Foi mais ou menos isto o que aconteceu dentro de mim, em poucos degraus...

Alguns minutos depois, sob o chuveiro, vejo o dia que passou como se fosse um bloco, rápido e rotineiro. E ao mesmo tempo lembro que é primeiro de abril. "Poxa, passou todo o dia e eu não disse nenhuma mentira... Mas agora já passou da meia noite, já era...", este pensamento veio com um sentimento de perda, pois podia ter brincado, bolado uma mentira bem legal pra pregar em minha esposa, seria divertido.

Logo em seguida, um instante de comparação entre o momento atual e o passado. Antes era diferente, o dia primeiro de abril contrastava com os outros dias, pois naqueles outros dias não estávamos mergulhados em tantas mentiras ou, como se fala atualmente, fake news. O dia da mentira perdeu totalmente a exclusividade. Infelizmente, agora ficou um tanto sem graça usar a mentira para brincar, pois a gente vê tanta mentira por aí e, pior ainda, tantas pessoas acreditando nelas, que até pegamos raiva da mentira, queremos distância dela!

Mas tudo ficou pior com o celular! Espalhados em tantas mãos, formando infinitos canais de propagação de inverdades, muitas delas absurdas... Olha aqui o celular novamente, primeiro na escada e agora debaixo do chuveiro...

Depois destas filosofias de escada e de chuveiro, o que eu desejo é que volte o tempo em que o dia primeiro de abril era mais divertido, e que a gente viva mais longe das telas e próximo das verdades!