Todo mundo falou assim: “Vai você, que contigo é só uma vez por ano mesmo. Então aproveita. Agora, pelo menos te ouvem alguma coisa. Depois, as pessoas se esquecem completamente de você, e aí já era.”.
Concordei com a opinião geral e aqui estou eu, neste pequeno palco para monólogos de personagens. Na verdade, não foi bem uma “opinião geral”, foi mais um “apelo geral”. Nenhum de meus colegas queria ajudar o escritor nestas duas últimas semanas do ano. A maioria está de folga, acompanhando a pausa na criação literária que costuma ocorrer nesta época. Os escritores, seguindo o movimento geral, estão bastante ocupados com a correria das festas, compra de presentes, amigo-secreto, almoços, confraternizações, preparativos para viagem, férias, etc., etc., etc. E aqui, do nosso lado, é a maior liberdade! Imagine só o que acontece quando os personagens ficam sem ninguém por perto para controlá-los... Você acha que algum deles vai querer estar aqui, quebrando o galho do escritor deste blog? É, então sobrou pra mim. “Vai lá você, Espírito do Natal!”, foi o que disseram.
Sou bastante usado pelos autores de contos, cronistas, roteiristas de filmes e até compositores de músicas. Mas tudo fica limitado à época de Natal. Confesso até que me canso de tanta solicitação e apelo em poucas semanas de muito trabalho. Na verdade, não é um trabalho muito produtivo não... As pessoas ficam meio perdidas, tentam me encontrar por aí, nos megaenfeites da Avenida Paulista, nas grandiosas árvores enfeitadas nos parques, nas renas, Papai-Noel, presépios... Mas poucos me encontram. Há também aqueles que nem me procuram. Sinto mais por estes...
Seria bom que eu grudasse nas pessoas. Que eu não durasse apenas um instante. Que a minha energia permanecesse viva e pulsante no coração de cada um que me deixasse entrar. Como uma “praga do bem”, um contágio positivo, de um vírus que produzisse sintomas de felicidade e plenitude.
Poderia ficar aqui, por linhas e linhas, exercendo o meu ofício de sensibilizar os corações mais duros... Seria apenas o meu ofício. É a minha parte. Quero então fazer diferente. Na verdade, é somente um pedido que lhe faço: não deixe que eu escape de dentro de você. Tenho muitas maneiras de entrar em seu ser: um gesto, um sorriso, um olhar... Misturo-me com aqueles que estão em sintonia comigo e me faço transmitir através deles... São muitas portas de entrada, e sei a dinâmica de cada uma delas. Como disse, esta é a minha parte. Mas se você não me segurar, nada posso fazer. Neste jogo, a sua parte é fechar as portas de saída... Só isso. Tudo isso.
Meu recado foi dado. Já estou quase acabando. Fiquei sabendo que o escritor não quer muitas linhas. E agora, quando estou chegando ao final da segunda página, fico com medo, temo que ele me mate, aplicando assim a maneira mais rápida de abreviar um texto: eliminando o personagem principal.
No entanto acho que ele não vai cometer este ato brutal. Assassinar o Espírito do Natal, em pleno Natal, seria o cúmulo da crueldade. Só para manter a obsessão pelos textos curtos, cada vez menores, de uma “blogada” para outra... Mas é bom não abusar. Não confio muito no escritor. Ele bem que pode acabar comigo... Melhor eu mesmo dar um fim nesta coisa.
E acho que não há melhor maneira de finalizar do que desejando...
UM FELIZ NATAL PARA TODOS VOCÊS !!