domingo, 19 de outubro de 2014

TUDO É RELATIVO


E se a seca continuar aqui no sudeste... Aí então o nível do reservatório Cantareira vai despencar de vez, com volume morto e tudo. Só vai sobrar terra rachada. De nada adiantará a riqueza do sudeste. Arranha-céus, bolsas de valores, megalópoles, megaempresas, megaganâncias... Sem água, tudo vai secar. A terra rachada reinará, soberana. Haverá migração. O povo de São Paulo tentará a vida no nordeste, com mais empregos, oportunidades, e até mais água. E os nordestinos darão o troco do preconceito que sofreram. Dirão assim: "O que esses sudestinos estão fazendo aqui? Deviam todos voltar pra sua terra...". Nem sei se existe a palavra sudestino. Se não existe, deveria existir... Esse termo ou qualquer outro para designar aquele que é natural do sudeste. Sudestino. Ficou bom. E engraçado... Mas não será nada engraçada a situação que enfrentaremos... Tem muita gente que diz que isso tem a ver com apocalipse, fim do mundo, essas coisas... Eu só sei que, se a coisa piorar por aqui na Terra, o homem vai dar um jeito de se mudar para outro planeta. Depois de cutucar a mãe-natureza, nela provocando as mais drásticas reações e consequências, escapará para um astro qualquer do universo infinito, a fim de, novamente, sugar tudo que este astro permitir ou não permitir, isto não importa...
E se o homem se mudar para a lua... Aí então estará livre da radioatividade, das enormes variações climáticas, e de todos os subprodutos de um holocausto nuclear... Xi, estraguei este planeta! Não tem problema, vamos pra outro! Não precisa ir para muito longe, o nosso satélite parece ser uma boa opção. É só construir uma porção de bases lunares, para abrigar os eleitos, agraciados com o direito de seguir com a devastação, universo afora... Como escolher estes poucos eleitos em um mundo com mais de sete bilhões de pessoas? Bom, isto não parece ser uma tarefa difícil para quem, ao longo de sua história, deu inúmeras mostras de sectarismos, promovendo infindáveis privilégios de poucos em detrimento das condições da imensa maioria... É só aplicar o Padrão Titanic, com seus botes salva-vidas insuficientes, mas totalmente disponíveis para atenderem plenamente a casta superior que estava a bordo. E quando todo este novo mundo estiver instalado na lua, um dos eleitos olhará para o céu e verá a Terra. Terra cheia. Apreciará a cena, pois será dotado de grande sensibilidade. Não nos esqueçamos de que, em matéria de preservação e continuidade da espécie humana, costuma-se manter a arte e os artistas. Assim sendo, além do necessário arsenal bélico (para combater qualquer ataque de seres extraterrestres – no caso, extralunares – ou mesmo para revidar ações guerreiras daqueles que ficariam na Terra), certamente também levariam um punhado de artistas e suas obras... (será que vai ter espaço para cronista?) Então, quando o artista eleito estiver divagando, lá na lua, as pessoas vão dizer que ele está no mundo da terra? Afinal, tudo é relativo. Mundo da lua, mundo da terra, lua cheia, terra cheia... Nordestino, sudestino...