quinta-feira, 12 de março de 2015

QUAL É A COR DO VESTIDO?


Qual é a cor do vestido? Esta é a pergunta que meu colega de serviço me faz, mostrando no celular a foto de um vestido listrado. Dourado e branco, é o que respondo. Eu vejo azul e preto, diz ele. Outra colega também vê estas mesmas cores. Uma terceira colega empata novamente o jogo ao dizer dourado e branco. E o placar segue disputado, sem definição. Surgem comentários e explicações:

“Acho que os mais velhos veem dourado e branco”,

“Eu vi a explicação de um especialista. Tem a ver com a cor do fundo e a luminosidade. Quando a gente vê, acaba fazendo uma compensação”,

“Tá bombando na internet”,

“Um cara postou essa foto do vestido da madrinha de casamento dele. Aí correu o mundo. Cada um vê de uma cor”.

Chego em casa e, antes de sair da sala para ir jantar, o telejornal também fala do tal vestido que muda de cor. Na cozinha, comento com minha esposa sobre o intrigante vestido capaz de parar a internet. “Não acredito que vocês também estão falando sobre esse vestido”, diz minha filha ao chegar perto da mesa. A refeição é interrompida. Vamos todos ao computador onde o meu filho está. É preciso saber e conferir que cores cada um de nós vê. Caminho até lá com a certeza de ver novamente dourado e branco, mas vejo azul e preto, as mesmas cores que minha esposa, filha e filho veem. “No serviço eu vi dourado e branco, mas agora estou vendo azul e preto!”, falo eu, surpreso com a mudança. “Tem gente que vê as duas cores”, explica minha filha. E meu filho não se conforma: “Como que você viu dourado e branco?! Impossível! É azul e preto!”.

Cansado de vestidos e cores, após o jantar sento no sofá e distraio-me em frente a televisão...

Minha filha entra na sala e acende a luz. “Nossa, pai! Não sei como você consegue ver TV com tudo escuro!”. Não acredito! Ela está preto e branco! Como nos televisores antigos! Minha filha e sua roupa também em diversos tons de cinza! Esfrego os olhos. Ela ainda está monocromática. Faço de conta que tudo está normal. Deve ser algum piripaque momentâneo, logo logo vai passar.

Mas levo um novo susto quando meu filho também entra na sala. Está esbravejando, revoltado com a derrota no jogo de computador. De sua boca vejo irradiar-se uma luz vermelha. Cada vez mais vermelha a cada palavra raivosa.

Tudo fica mais doido ainda quando chega minha esposa, com um perfume na mão. “Comprei da cabeleireira. Dá uma cheirada.”. Inalo a fragrância e minha vista se ofusca com tanta luz amarela que sai do vidro de perfume.

Acordo, sozinho na sala.

Após alguns instantes desnorteado, penso: “Então foi tudo sonho. Depois que sentei em frente a TV, acabei dormindo...”.

E falo para mim mesmo: “Chega de vestido colorido! Não quero nem saber que cor que ele é ou deixa de ser...”.

domingo, 1 de março de 2015

VIDA LONGA E PRÓSPERA


Hoje a sua vida acabou Sr. Spock. A lógica perdeu o seu maior expoente. Justamente agora, quando vivemos em um mundo tão necessitado de lógica.

A bordo da Enterprise ou teletransportado em um planeta qualquer, seus comentários e atitudes transmitiam sempre a segurança de quem atingiu a sabedoria através do caminho da razão.

Lutando sempre com sua parte humana, mostrava somente as qualidades de um vulcano. Controle das emoções, calma, precisão sob qualquer circunstância. Em seu corpo, mente e espírito, tudo parecia fluir de maneira perfeita, para que, logicamente, se gastasse o mínimo de energia para proporcionar o melhor resultado.

Nós, que não temos sangue vulcano, vivíamos e vivemos querendo absorver alguma essência dessa genética extraterrestre, para que nos permita ao menos controlar um pouco mais o cavalo xucro dos sentimentos e emoções que nos levam de um lado para outro, desequilibrando-nos. Ah, Sr. Spock, como invejamos a sua estabilidade, sempre senhor de si. Contrastando maravilhosamente com o Dr. McCoy, formavam um binômio de forças que tinha, ao centro, a figura marcante do Capitão Kirk.

Lógica perfeita, sem indecisões. Quando o capitão lhe questionava sobre algum ponto que demandava cálculos complexos, seu cérebro superior reunia rapidamente todas as variáveis e o resultado surgia, praticamente de maneira imediata, com uma precisão que, para aqueles que se debatem e sofrem pelos meandros da Matemática, chegava até a causar raiva.

Se todos nós, humanos, tivéssemos a sua lealdade e integridade, certamente boa parte dos problemas que enfrentamos, principalmente no campo da política, seriam todos resolvidos. Mas ainda temos que nos conformar com a nossa condição, entendendo que você está em um estágio superior, o “além do homem”... No entanto, a mensagem que disto fica é de esperança. Um dia todos nós, dentro da escalada evolutiva, mereceremos, e viveremos, em um mundo melhor...

Lembramos também da “sonda mental”. Ah, a sonda mental... Quem não desejaria ter esta capacidade? Qual homem, perturbado com os mistérios e contrariedades da mulher, da sua mulher, não gostaria de nela aplicar uma sonda mental? Desvendando assim as correntes de pensamentos e sentimentos que a conduz por caminhos aparentemente desprovidos de lógica...

Ninguém mais levantará a sobrancelha daquele jeito... Continuarei tentando imitar, mas sentindo que a referência foi-se embora. Mão espalmada com os dedos colados dois a dois. Vida longa e próspera, Sr. Spock, onde quer que você esteja.

27/02/2015