sexta-feira, 20 de novembro de 2015

LINHA DE PRODUÇÃO

Foi pensando a respeito do fechamento das escolas estaduais que comecei a buscar alguma razão para este nosso mundo insano... Procurei os motivos, tentando encontrar a mola mestra que impulsionaria todas as decisões descabidas, tudo aquilo que é torto e que, infelizmente, vai tomando conta de nossas miseráveis vidas... Uma sensação estranha me levava a crer que descobriria uma espécie de origem única para explicar (não para justificar) o porquê das coisas.
Caminhava, voltando do serviço, carregando estes pensamentos na mochila da mente, quando eis que um zíper dela se abre e despeja a resposta: LINHA DE PRODUÇÃO.
Isso! Aí está a explicação de tudo! Então as ideias vieram limpas e claras...
Voltei para o fechamento das escolas estaduais. Depois de instaurar a aprovação automática, nada mais lógico que amontoar os alunos em salas de aula superlotadas. Assim o processo fica otimizado. Ninguém repete, para não atrasar a esteira. Todo mundo junto, compactado, para garantir o ganho de escala. Linha de produção. Qualquer semelhança com aquela clássica cena do consagrado filme Pink Floyd - The Wall não é mera coincidência. Os alunos sobre a esteira no moedor de carne da escola.
A partir daí, meu pensamento começou a pipocar e a fechar todas as pontas...
Visualizei a linha de produção do consumismo, do capitalismo desenfreado. Comprar produtos, consumir bens ou serviços, tudo isso representa o último estágio da esteira que não para, nunca. Pelo contrário, vai acelerando, cada vez mais. É preciso comprar, comprar sempre. Bombardeados pelas propagandas, acreditamos ter a necessidade de adquirir os mais variados objetos de consumo. E ficamos infelizes se não conseguirmos este objetivo...
Linha de produção. Agora sei o porquê da pressa que nos oprime e nos torna opressores, vítimas e algozes. Alguém nos apressa e apressamos alguém. Contágio progressivo que nos torna eficientes engrenagens de um mundo cada vez mais acelerado. Engrenagens e esteiras devem correr o mais rápido possível, para que se lucre cada vez mais. E correr o impossível. Não podemos parar. Não podemos parar pra pensar. Linha de produção.
Mundo assim é um completo inferno para os perfeccionistas ou detalhistas como eu. Não há tempo para perfeição ou detalhe. Resta-me o consolo de poder fazer poucas coisas do jeito que quero. Escrever, dentro da literatura, é uma delas. Nesta crônica, posso demorar o tempo que eu quiser em busca da palavra perfeita. Fico imaginando se a realização do meu sonho realmente me traria felicidade. Escritor profissional. Até aí, tudo bem. Mas e o editor, no meu cangote, pressionando acima dos limites para ter altos volumes de produção, sobre os temas mais vendáveis? Neste contexto, onde fica a qualidade? Qualidade? Parece que ninguém mais está se importando com isso. Ultimamente fala-se muito em qualidade, mas pratica-se pouco. Afinal, na linha de produção do mundo não há tempo ou espaço para qualidade.
Tô fora! Pare o mundo que eu quero descer!