sábado, 4 de junho de 2016

TÁ TRANQUILO, TÁ FAVORÁVEL

De repente, no mundo interconectado e instantâneo no qual vivemos, alguma coisa se espalha com velocidade astronômica. Cai na boca de todo mundo. Tem até um termo novo, mais especificamente um verbo, que é usado para identificar tais situações: viralizar. Quando determinado conteúdo propaga-se de maneira exponencial pela internet, diz-se que viralizou. Pois bem, uma das últimas ondas que nos invadiu, como um surto repentino, foi a expressão: “Tá tranquilo, tá favorável”. Vindas de uma música de um tal MC Bin Laden, estas quatro palavras tomaram conta dos comentários nas redes sociais. E se incorporaram ao vocabulário. Viraram uma espécie de chavão filosófico. Chegou até a aparecer em propaganda de automóveis na TV. E cheguei até a fazer brincadeira. Estávamos eu e minha família no carro, na portaria de um parque aquático, prestes a entrarmos para uma estadia de quase três dias, quando o atencioso funcionário nos orientou: “É só seguir em frente, por esse caminho, tranquilo...”. Então eu rebati, espontâneo: “Tá tranquilo, tá favorável”. Todos nós rimos.

Um dia desses, em uma pausa no serviço na qual fui à busca de um cafezinho na copa, eis que ouvi: “Tranquilo?”. Era o cumprimento de um amigo que trabalha na outra ala do andar, ao que eu respondi: “Tá tranquilo, tá favorável!”. Afastei-me do recinto. Então tive uma ideia. Voltei e com ele compartilhei o pensamento filosófico que me surgiu, dizendo: “O segredo da vida é estar sempre tranquilo, mesmo quando a situação não seja favorável”. Neste momento ocorreu a ruptura, quando ficou claro que, apesar de estarem colados no chavão que viralizou, nem sempre o “tranquilo” e o “favorável” andam juntos.

Então comecei a pensar sobre esta questão... Quem consegue ficar tranquilo quando a situação não está favorável? É difícil. É um grande desafio. Mas tenho a impressão de que o sujeito que consegue esta proeza vive bem melhor. Isto porque, muitas vezes, a situação fica desfavorável, ou menos favorável, justamente devido à nossa intranquilidade. Afinal, não é verdade que quando estamos nervosos, inquietos ou apressados, aquela pequenina porca sempre nos escapa da mão e desaparece diante dos nossos olhos? É verdade sim, neste nosso estado de alma, a diminuta peça parece que ganha vida e brinca de se esconder. Some no chão ou, pior, mete-se em cada lugar, os piores lugares, dentro do aparelho com o qual estamos lidando... E ficamos mais nervosos, com o parafuso na mão, e esta nossa falta de tranquilidade agrava ainda mais a situação. É o intranquilo que induz ao desfavorável, e vice-versa, em uma realimentação negativa que nos puxa para baixo.

Mas quem consegue romper com este ciclo, este sim demonstra sabedoria. Entendeu que pode ficar tranquilo, mesmo quando a situação está desfavorável...

Bom, eu poderia estender-me muito mais sobre essas coisas... Mas, como não pretendo fazer uma crônica de autoajuda, vou parando por aqui. Pelo menos acho que este texto serviu para mostrar que se pode tirar algo de útil de conteúdos aparentemente bobos que viralizam por aí...