Chegará o tempo em que a espécie humana, de
alguma forma, conquistará a imortalidade.
Inteligências artificiais atingirão um grau
inimaginável de aperfeiçoamento. E será com elas que as personalidades humanas
se eternizarão.
Serão instaladas espécies de chips nas pessoas,
que coletarão uma infinidade de dados, por um longo tempo, transmitindo-os para
centrais de processamento. Memórias, sensações, ações, reações, condutas,
procedimentos, hábitos, aprendizados, pensamentos, sentimentos, senso de humor,
enfim, tudo o que se passa com o indivíduo e que o torna único, com sua
identidade inigualável a qualquer outra. Tudo isto será utilizado para
construir uma inteligência artificial que, aos olhos de qualquer um, refletirá
totalmente a própria pessoa fornecedora das informações.
Unidades centrais de processamento, do tamanho
aproximado de um cérebro humano, abrigarão suas respectivas inteligências
artificiais, resultando em réplicas perfeitas de consciências e mentes.
Os corpos, que receberão os comandos destas
mentes, serão construídos usando um nível de engenharia tão avançado que será
muito difícil distingui-los dos corpos orgânicos. Inclusive até será possível
escolher a idade na qual uma determinada pessoa será “eternizada” (este é o
termo que usarão).
Por exemplo, aos sessenta anos, um homem decide
implantar em si o tal chip que coleta todas as informações necessárias para
replicar a sua mente. Ao fechar o contrato com a empresa que fornece os
produtos e serviços relativos à eternização, disponibiliza vídeos e hologramas diversos
nos quais aparece com a idade de trinta e seis anos, pois é com esta aparência
que deseja se eternizar perante o mundo. O tempo passa e ele morre por uma
causa qualquer, lá pela casa dos oitenta anos, dando assim início ao processo
contratado. A réplica da sua mente é armazenada em uma unidade central de
processamento. Um corpo com exatamente a sua aparência aos trinta e seis anos é
construído. Por fim, mente e corpo unidos dão origem a mais um eternizado na
face da Terra.
Será assim o processo de criação destes novos
seres, que nem podem ser chamados de vivos, pois nunca morrerão, desde que
sejam feitas as manutenções periódicas programadas. Quanto à energia para
manter em funcionamento esta maravilha da engenharia, a mesma será obtida de diferentes
maneiras. Cada corpo estará preparado para adquiri-la por meio da luz solar, ou
de quaisquer outras fontes luminosas. Outro meio de obtenção de energia será
através dos sons, ruídos ou vibrações. E, para fechar o leque de captação, o
magnetismo terrestre também servirá para carregar suas baterias.
Depois de ter deixado aqui registrado todo um avanço
em termos de tecnologia, penso que você, ao ler este meu exercício de
futurologia, agora deve estar pensando como seria a humanidade desta época.
Haveria também um grande avanço na área do bem estar social, resultando em uma
humanidade mais justa e com menos diferenças e privilégios? Não, infelizmente digo
que não, frustrando os mais otimistas. Na verdade, frustro a mim mesmo, pois,
no fundo mesmo, acredito na evolução do ser humano como ser humano. Parece
pleonasmo, mas não é. Trata-se de acreditar que o avanço moral do ser humano
acompanha, mesmo que com atraso, o avanço científico e tecnológico. Mas, nesta
minha experiência de retratar um cenário futurista, prefiro mostrar uma
humanidade com ainda mais mazelas em suas estruturas do que as que vemos hoje...
Assim sendo, diria que haveria uma classe de
privilegiados, aqueles que estariam no topo da pirâmide social. Portanto, a
eternização, por ser um pacote de produtos e serviços extremamente caro,
poderia ser adquirida somente por estes indivíduos, os mais abastados. Diria
também que a maior empresa neste mercado da eternização seria comandada por um
eternizado, pois o fundador do império não quis deixar o comando da organização
para ninguém, mas somente para uma cópia de si mesmo.
Pronto, assim completo esta crônica futurista, que vai para o meu blog. Ficará registrada em um ínfimo e perdido blog, em meio a um oceano de informações. Mas poderia ser o pano de fundo para um livro ou um filme, talvez. Fique à vontade, pode usar esta ideia, do jeito que quiser. Do meu lado, eu só fico aqui pensando se estas coisas vão mesmo acontecer... Será?