Ando sofrendo muitos ataques ultimamente. Querem
me destruir, acabar comigo. Os meus inimigos chegam ao poder utilizando-se da
minha estrutura. Enchem a boca para falar o meu nome. Mas, sempre que podem,
procuram me enfraquecer.
Não é de hoje que este tipo de coisa acontece.
Desde que surgi no mundo é assim: quando apareço, querem me derrubar. No
entanto, mais recentemente, com a disseminação das redes sociais, ficou muito
mais fácil de criar e alimentar os elementos destrutivos que se voltam contra
mim. Tais elementos atendem pelos nomes: idolatria, fanatismo, negacionismo e
outros mais.
Neste meio de cultura que se esforçam em
promover, cujo único objetivo é a minha eliminação, é preciso colocar mais
alguns importantes ingredientes. O primeiro deles é o ódio, muito ódio, que
pode ser, por exemplo, direcionado para os imigrantes, refugiados, comunistas
(mesmo que não existam...), esquerdistas, e assim por diante, não importa quem
seja. O que importa é ter um inimigo, para destruir! Isso lhes mantêm o foco e
serve como combustível, a alimentar a insanidade.
Outros ingredientes, muito bem trabalhados e usados
contra mim, são o preconceito e a intolerância. Enfim, acho que já deu para
perceber que todas as armas empregadas pelos meus algozes vêm com uma carga
muito negativa. E, dentro deste cenário, a religião, que poderia servir como um
elemento apaziguador, muitas vezes e, infelizmente, é empregada justamente no
sentido contrário, a promover o sectarismo e a repressão.
Mas sabe o que mais me incomoda? Não é nem toda
esta carga, toda esta artilharia contra mim, não é nem isso. Isso a gente sabe
que é assim mesmo, sempre foi assim e sabe-se lá por quanto tempo mais que assim
será. São ondas, fases, que vêm e vão. Regimes totalitários ganharam espaço e
culminaram na Segunda Guerra Mundial. E agora... Bom, agora vamos ver onde vai
dar... Mas sabe, como ia dizendo, o que mais me incomoda é ver as pessoas que
deveriam me defender fazerem justamente o contrário. Tem uma expressão que se
usa hoje em dia: “passar pano”. Então é isso que elas fazem, ficam “passando
pano” em golpistas. Um golpe de estado é tentado, os culpados são
identificados, prédios públicos são depredados e depois, quando a justiça é
aplicada, acham que é injusto. Minimizam os atos criminosos daqueles que tentaram
derrubar um governo legitimamente eleito.
Por isso gostaria de deixar aqui registrado o
meu apelo. Não deixe que me enfraqueçam. Aqueles que tentaram acabar comigo
devem ser punidos. Toda a cadeia de ação, desde os arquitetos, as cabeças pensantes
que idealizaram e planejaram tudo, passando pelos financiadores e apoiadores,
chegando por fim nos que colocaram a mão na massa, invadindo e quebrando
patrimônio público com violência, todos, todos eles devem ser punidos.
Em 1964 fui apunhalada. Estive morta por mais de
duas décadas. Naquela ocasião, meus algozes saíram impunes. E esta impunidade
ajudou a formar um novo cenário contra mim, que culminou em 2023, com um golpe
tentado e, felizmente, malsucedido, pois senão agora eu estaria novamente morta.
Apesar de eu ter a capacidade de sempre ressuscitar, demorando mais ou menos
tempo para que isto aconteça, não deixe que me matem novamente.
Anistiar golpista é agir em favor do golpe. É
alimentar outro golpe, mais adiante.
Sem anistia!
Meu nome é democracia!