quinta-feira, 14 de agosto de 2025

IA

Estou falando do futuro. Não estou supondo como será o futuro. O que vou falar para você, agora, é sobre o futuro que eu estou vivendo, neste exato momento. E você, meu ouvinte, ou melhor, meu leitor ou leitora, está no passado, com relação ao tempo que estou vivendo, é claro.

Ficou difícil de entender? Então volte para o parágrafo anterior e leia novamente. Entenda bem o princípio que rege este texto: eu estou no futuro e você está no passado, simples assim. E não me venha com questionamentos ou dúvidas, do tipo: “Como eu posso estar no futuro? Como estas minhas palavras podem chegar até você, em outro tempo, no passado? Como podem coexistir dois tempos ao mesmo tempo?”.

Para terminar de vez esta problemática, peço para que você pense como se estivéssemos nos comunicando por uma espécie de telefone, ou aplicativo de mensagens, para ser um pouco mais moderno. Só que, ao invés de estarmos separados pelo espaço, estamos separados pelo tempo, entende? Se bem que também estamos separados pelo espaço... Bom, é melhor parar por aqui, para não lhe confundir mais...

Entendido onde cada um de nós está, posso prosseguir, pois quero lhe dizer como são, ou como estão as coisas agora, no futuro em que vivo.

Sabe, meu caro ou cara leitora, as coisas mudaram bastante no futuro... Mas quero focar o meu relato em um aspecto em particular: a IA, Inteligência Artificial.

A partir da década de 2020, a IA foi ganhando cada vez mais espaço. O mercado de trabalho sofreu um grande impacto, com várias profissões se extinguindo. A automação e a robótica, comandadas pela IA, tomaram o lugar dos empregados nas empresas. Esta perda dos postos de trabalho, causada pelo avanço da tecnologia, já vinha acontecendo antes da IA, mas com ela este processo acelerou exponencialmente.

Não vou aqui discorrer sobre todos os problemas que isto causou, pois são muitos e, se for lhe contar todos eles, com todos os desdobramentos, este texto vai ficar muito comprido e até meio chato. Sim, porque não quero ir por este caminho de ficar desfilando todas as consequências negativas... Digo-lhe somente uma coisa: se quiser escapar deste futuro, indo parar em outro futuro, mais feliz e com menos problemas, então cuide para que não se esqueça de pensar no que fazer com todas as pessoas que perderem seus empregos para a IA. Pois parece bonito e fácil construir um mundo assim, em que o ser humano não precisa fazer mais nada, nem pensar precisa. Ok, mas como isto se encaixa em um mundo capitalista? O que fazer com todas as pessoas que não conseguirem se encaixar neste novo mercado, muito menor em termos de postos de trabalho? O que elas farão? Como encontrar uma saída para fechar a conta da economia?

Ah, neste momento agora você deve estar pensando se, no futuro em que vivo, estes problemas estão equacionados. E eu já lhe adianto que não, eles ainda estão muito presentes...

Mas deixa isso pra lá. Quero continuar te contando sobre todo o espaço que a IA está ocupando aqui no meu futuro. Pois bem... Pensar é algo que está bem em desuso atualmente. Deixa eu ver como eu posso te explicar... No seu tempo, sei que vocês estão bastante envolvidos com os celulares, com toda a infinidade de aplicativos, as redes sociais e tudo mais... Sei que a IA já está surgindo como algo revolucionário e, pode crer, vai revolucionar mesmo... Então agora vou lhe dizer o próximo passo. A grosso modo é assim, imagine que, ao invés de o celular estar na mão das pessoas, esteja dentro da cabeça delas, na forma de um implante cerebral, fazendo com que elas tenham contato direto com a internet e possibilitando uma interação completa entre o ser humano e a IA. Então, pense bem: pra que pensar? É só lançar qualquer questão para a IA, projetando o pensamento no tal implante cerebral e, instantaneamente, obter a resposta dela por meio de um “pensamento-resposta”.

Portanto, no mundo de hoje em que vivo, pensar é algo muito raro. O que se faz, via de regra, é deixar que a IA pense por nós. Pois afinal ela está dentro de nós, basta somente que pensemos em utilizá-la para que o tal implante em nossas cabeças estabeleça a comunicação instantânea com ela. Medonho, não? Mas agora é coisa absolutamente normal e a gente acaba se acostumando muito facilmente com isto. Para que você possa me entender, é como se, no seu tempo, uma pessoa, que está acostumada a dirigir somente carros com câmbio manual, pegue um carro automático para dirigir. Após um curto período de adaptação, não vai mais querer dirigir nenhum veículo com marchas para trocar, não é mesmo?

É lógico que há pessoas que se recusam a usar tais implantes. São os chamados “puristas”, que criticam todo este nosso mundo baseado na IA. Dizem que a criatividade e a arte não mais existem, que as músicas de hoje em dia são o mero resultado de algoritmos. Vivem dizendo que a humanidade ficou refém da IA e que estamos caminhando para onde ela quer. Alertam que isto desembocará no próprio fim da humanidade.

Agora, em sua mente, meu caro leitor ou leitora, deve estar pipocando uma série de perguntas... O que eu, aqui no futuro, penso sobre tudo isto? Eu tenho o tal implante? Este texto que escrevi para você teve participação da IA? Ela escreveu tudo? Por que, realmente, eu não quis lhe contar melhor sobre as consequências sociais provocadas pelo uso massivo da IA? Por que, por que, por quê?

Sinto muito, mas não vou lhe dar estas respostas, pois quero terminar logo este texto. Aliás, não sei como terminá-lo. Acho que vou lançar a questão para a IA e pedir para que ela termine para mim. Mas nem vou colocar aqui o final que ela me der. Afinal, você também pode fazer isso, né? Vai dar no mesmo.

Então posso deixar o texto assim, inacabado mesmo.