Meu nome é Jurassic. Este
nome estranho veio por causa do filho do boiadeiro. Quando nasci,
aquele filme, Jurassic Park, fazia o maior sucesso. Então o menino
João Paulo não teve dúvida. Assim que me viu, quando ainda tentava
me endireitar sobre as patas cambaleantes, disse: “Pai, ele vai se
chamar Jurassic!”.
No começo minha vida era
muito boa. Dura, é claro, mas boa. Jumento não se queixa de dureza
e serviço pesado. Fomos talhados pra isso mesmo. Gostamos de
trabalhar com o bicho-homem. Neste grande sertão sem-fim, já
fizemos muita coisa juntos.
Porém, tudo começou a piorar
quando João Paulo, com seus vinte e poucos anos, meteu-se em um
financiamento e apareceu com uma moto. No começo o pai desconfiava
da utilidade daquela geringonça barulhenta. Mas o filho insistiu que
com ela era mais fácil tocar o gado. Foi que foi que acabou
convencendo o velho a abandonar minha mãe na beira da estrada. Dizia
que ela empacava demais. Depois foi o meu tio, que já estava um
pouco velho. Compraram mais uma moto e aí foi a vez do meu pai. Mais
algumas semanas e lá estava eu, no mesmo fim.
Agora, toda a nossa população,
lutando para sobreviver e sendo atropelada nas estradas, virou
assunto para políticos e autoridades. Tem até um tal promotor que
quer matar todos nós para servir de comida para presidiários...
Levando em conta que nós, jumentos, sempre fomos fiéis
trabalhadores a serviço do homem nordestino... Decisão justa, não?
E ainda se consideram seres humanos...
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