Qual
é a cor do vestido? Esta é a pergunta que meu colega de serviço me
faz, mostrando no celular a foto de um vestido listrado. Dourado e
branco, é o que respondo. Eu vejo azul e preto, diz ele. Outra
colega também vê estas mesmas cores. Uma terceira colega empata
novamente o jogo ao dizer dourado e branco. E o placar segue
disputado, sem definição. Surgem comentários e explicações:
“Acho
que os mais velhos veem dourado e branco”,
“Eu
vi a explicação de um especialista. Tem a ver com a cor do fundo e
a luminosidade. Quando a gente vê, acaba fazendo uma compensação”,
“Tá
bombando na internet”,
“Um
cara postou essa foto do vestido da madrinha de casamento dele. Aí
correu o mundo. Cada um vê de uma cor”.
Chego
em casa e, antes de sair da sala para ir jantar, o telejornal também
fala do tal vestido que muda de cor. Na cozinha, comento com minha
esposa sobre o intrigante vestido capaz de parar a internet. “Não
acredito que vocês também estão falando sobre esse vestido”, diz
minha filha ao chegar perto da mesa. A refeição é interrompida.
Vamos todos ao computador onde o meu filho está. É preciso saber e
conferir que cores cada um de nós vê. Caminho até lá com a
certeza de ver novamente dourado e branco, mas vejo azul e preto, as
mesmas cores que minha esposa, filha e filho veem. “No serviço eu
vi dourado e branco, mas agora estou vendo azul e preto!”, falo eu,
surpreso com a mudança. “Tem gente que vê as duas cores”,
explica minha filha. E meu filho não se conforma: “Como que você
viu dourado e branco?! Impossível! É azul e preto!”.
Cansado
de vestidos e cores, após o jantar sento no sofá e distraio-me em
frente a televisão...
Minha
filha entra na sala e acende a luz. “Nossa, pai! Não sei como você
consegue ver TV com tudo escuro!”. Não acredito! Ela está preto e
branco! Como nos televisores antigos! Minha filha e sua roupa também
em diversos tons de cinza! Esfrego os olhos. Ela ainda está
monocromática. Faço de conta que tudo está normal. Deve ser algum
piripaque momentâneo, logo logo vai passar.
Mas
levo um novo susto quando meu filho também entra na sala. Está
esbravejando, revoltado com a derrota no jogo de computador. De sua
boca vejo irradiar-se uma luz vermelha. Cada vez mais vermelha a cada
palavra raivosa.
Tudo
fica mais doido ainda quando chega minha esposa, com um perfume na
mão. “Comprei da cabeleireira. Dá uma cheirada.”. Inalo a
fragrância e minha vista se ofusca com tanta luz amarela que sai do
vidro de perfume.
Acordo,
sozinho na sala.
Após
alguns instantes desnorteado, penso: “Então foi tudo sonho. Depois
que sentei em frente a TV, acabei dormindo...”.
E
falo para mim mesmo: “Chega de vestido colorido! Não quero nem
saber que cor que ele é ou deixa de ser...”.
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