Foi pensando a respeito do fechamento das escolas estaduais que
comecei a buscar alguma razão para este nosso mundo insano...
Procurei os motivos, tentando encontrar a mola mestra que
impulsionaria todas as decisões descabidas, tudo aquilo que é torto
e que, infelizmente, vai tomando conta de nossas miseráveis vidas...
Uma sensação estranha me levava a crer que descobriria uma espécie
de origem única para explicar (não para justificar) o porquê das
coisas.
Caminhava, voltando do serviço, carregando estes pensamentos na
mochila da mente, quando eis que um zíper dela se abre e despeja a
resposta: LINHA DE PRODUÇÃO.
Isso! Aí está a explicação de tudo! Então as ideias vieram
limpas e claras...
Voltei para o fechamento das escolas estaduais. Depois de instaurar a
aprovação automática, nada mais lógico que amontoar os alunos em
salas de aula superlotadas. Assim o processo fica otimizado. Ninguém
repete, para não atrasar a esteira. Todo mundo junto, compactado,
para garantir o ganho de escala. Linha de produção. Qualquer
semelhança com aquela clássica cena do consagrado filme Pink
Floyd - The Wall não é mera coincidência. Os alunos sobre a
esteira no moedor de carne da escola.
A partir daí, meu pensamento começou a pipocar e a fechar todas as
pontas...
Visualizei a linha de produção do consumismo, do capitalismo
desenfreado. Comprar produtos, consumir bens ou serviços, tudo isso
representa o último estágio da esteira que não para, nunca. Pelo
contrário, vai acelerando, cada vez mais. É preciso comprar,
comprar sempre. Bombardeados pelas propagandas, acreditamos ter a
necessidade de adquirir os mais variados objetos de consumo. E
ficamos infelizes se não conseguirmos este objetivo...
Linha de produção. Agora sei o porquê da pressa que nos oprime e
nos torna opressores, vítimas e algozes. Alguém nos apressa e
apressamos alguém. Contágio progressivo que nos torna eficientes
engrenagens de um mundo cada vez mais acelerado. Engrenagens e
esteiras devem correr o mais rápido possível, para que se lucre
cada vez mais. E correr o impossível. Não podemos parar. Não
podemos parar pra pensar. Linha de produção.
Mundo assim é um completo inferno para os perfeccionistas ou
detalhistas como eu. Não há tempo para perfeição ou detalhe.
Resta-me o consolo de poder fazer poucas coisas do jeito que quero.
Escrever, dentro da literatura, é uma delas. Nesta crônica, posso
demorar o tempo que eu quiser em busca da palavra perfeita. Fico
imaginando se a realização do meu sonho realmente me traria
felicidade. Escritor profissional. Até aí, tudo bem. Mas e o
editor, no meu cangote, pressionando acima dos limites para ter altos
volumes de produção, sobre os temas mais vendáveis? Neste
contexto, onde fica a qualidade? Qualidade? Parece que ninguém mais
está se importando com isso. Ultimamente fala-se muito em qualidade,
mas pratica-se pouco. Afinal, na linha de produção do mundo não há
tempo ou espaço para qualidade.
Tô fora! Pare o mundo que eu quero descer!
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