A
inspiração e a criatividade são coisas que só aparecem por vontade própria. Não
por nossa vontade, que por vezes fica a implorar ideias para compor pequenos
textos com um nível mínimo de originalidade, mas por suas próprias vontades,
como se elas fossem entidades com vida própria, que brincam conosco, aparecendo
e desaparecendo ao seu bel prazer.
Justamente
agora, quando coloquei algumas palavras de propaganda do meu blog no vidro
traseiro do carro, sinto a necessidade de elaborar uma crônica acima da média
para nele publicá-la. Quero causar uma boa impressão para aquele indivíduo
desconhecido que, por um milagre qualquer, resolva acessar o endereço
eletrônico, divulgado em letras brancas.
Mas
que nada! Nenhuma ideia! Assim não dá! Como vou prender este meu leitor em
potencial, talvez um seguidor assíduo dos meus textos mais ou menos mensais, ou
quem sabe até um propagador deles, divulgando e compartilhando no vasto “mundo
internético”? Se não conseguir escrever nada proveitoso, vai tudo por água
abaixo.
Atualmente
a concorrência é cruel. Como uma pequena crônica pode competir com vídeos que
nos transmitem tanta coisa em tão pouco tempo? Os chineses já diziam que uma
figura vale mais que mil palavras. O que dizer então dos vídeos, que nos
remetem de um lado para o outro, estimulando nossos sentidos? Vamos ser
sinceros, no mundo corrido que vivemos atualmente, fica cada vez mais difícil
alguém ter paciência de ler alguns poucos parágrafos. É muito mais fácil assistir
passivamente as curtas cenas que viralizam na internet, que são as mais
bizarras, ridículas, engraçadas, fofas, chocantes... Assim não dá pra competir!
Porém
eu sou teimoso. Fiquei a gritar em pensamento para aqueles neurônios escondidos
em algum canto obscuro de minha massa cinzenta, suplicando por alguma mísera
ideia que valesse a pena. A resposta que obtive foi o silêncio. Ou, quando
muito, as sinapses e impulsos nervosos entre as células do meu cérebro nada de
novo revelavam. Eram simplesmente caminhos viciados de um pensamento que
reclamava oxigenação. A rotina apressada do dia-a-dia, embebida de dificuldades
que se renovam constantemente, mas que são sempre as mesmas, como se estivessem
presas a um carrossel, tudo isso acaba consumindo os poucos lampejos de
criatividade que são reservados aos pobres mortais. E foi assim que minha
teimosia acabou cedendo terreno para a evidência dos fatos.
Então
finalmente desisti de sofrer em busca da extinta criatividade. Deixa pra lá. Na
verdade “extinção” é palavra muito forte e fatal para explicar o que acontece.
Pois ela vai voltar. A criatividade voltará! É sempre assim, é cíclico, em
fases. Sei que daqui um tempo ela surgirá novamente (espero...).
Vinculado
a esta desistência, decidi escrever sobre isto tudo. E lendo os parágrafos
acima, devo confessar que achei até que o resultado final foi aceitável... No
entanto, com certeza, estou muito longe do desempenho de minha esposa, pois quando
ela está “sem ideia” do que preparar na cozinha, costuma criar os mais
saborosos pratos. Seria bom que o mesmo acontecesse comigo com relação aos
textos...
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