Seu Eustáquio é cheio de manias. Também é muito
reservado e sisudo. A família bem o conhece, e compreende.
Não costuma participar das festinhas e reuniões
em casa de parentes. Por mais que insistem, recusa-se a sair. Nestas ocasiões,
os familiares percebem que ele parece ansioso, como que querendo mesmo ficar
sem ninguém por perto o quanto antes. “Temos que instalar umas câmeras, pra ver
o que o velho faz quando a gente deixa ele sozinho em casa”, é o comentário
recorrente do genro barbudo.
Mais uma vez os familiares o deixam só. Ele fica
olhando do portão. Tão logo os carros dobram a esquina, Seu Eustáquio entra,
apressado. Tem medo de alguém o estar observando. Fica desviando a vista para
os lados, desconfiado.
Vai até o quintal nos fundos da residência. Pega
a enxada. Atrás da casa do cachorro, entre o muro e o pé de romã, olha para o
chão, buscando localizar o ponto certo. O Bob se aproxima, abanando o rabo,
curioso como sempre. “Ainda bem que você não consegue contar nada pra ninguém”,
fala o velho enquanto tira a terra que cobre o alçapão camuflado. Pensa que
tudo está saindo conforme planejado...
Mas a vida costuma acabar com alguns planos...
Na noite seguinte, Seu Eustáquio morre.
Duas semanas depois, a família fica sabendo do
seu segredo: muitas, muitas notas de dinheiro antigo. Outra mania sua: não
confiar nos bancos.
O seu tesouro já não vale mais nada, há muito
tempo...
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