segunda-feira, 30 de setembro de 2024

MANOEL

Agora não vai ter mais pastel e caldo de cana por cinco reais cada um. Muita gente vai sentir falta destes preços baixos. Já faz um bom tempo que o pastel da feira passou para 10 reais. Mas o do Manoel, embaixo do viaduto, em frente à entrada lateral do Carrefour, manteve-se, heroicamente, nos cinco reais, e com uma qualidade muito boa.

Porém isto só se manteve até anteontem, sexta-feira. Neste dia, o meu irmão, em sua costumeira caminhada matinal, passou por lá e, parando na Kombi do Manoel, comeu o seu pastel e, como sempre, manteve aquela boa conversa com ele, pessoa de bom papo, amigo da nossa família.

Manoel tinha planos de se aposentar logo, tão logo completasse 65 anos, no ano que vem. Queria deixar os pastéis e o caldo de cana de lado, para criar porcos, galinhas, e cuidar de um pedaço de terra que pretendia comprar lá pelos lados de Ribeirão Pires.

Antes dos pastéis, ele trabalhou como pedreiro. Também lidava com jardinagem. Aqui em casa dá para ver as várias coisas que ele fez... O canil do Bob, englobando a casinha, o cimentado, os canteiros e a cerca. Ao lado disto, outro cimentado, redondo, para suportar a piscina de encher. Nesta obra do cimentado redondo, usou suas habilidades de jardinagem para transplantar um pé de amora de um ponto a outro do quintal. E assim foi, sempre nos socorrendo com os seus serviços... E até para nos tirar de situações difíceis! Lembro-me agora de uma vez que o chamamos para tirar o Bob do porta-malas do carro. Com muito medo e disposto a morder, ninguém conseguia tirá-lo de lá. Mas o Manoel conseguiu! Tinha jeito com cachorros e o nosso cão gostava bastante dele. Ao leitor que ficar intrigado para saber mais desta história do porta-malas, ficarei devendo explicações, pois não quero misturar as histórias. Aquela é curiosa, inusitada, e esta é triste, chocante...

Realmente foi um choque para todos nós. Uma vida acabar assim tão de repente, inesperadamente. Tentamos encontrar alguma razão, algum sentido nisso tudo. A sensação é de algo interrompido, um filme inacabado. Gostava de conversar com ele, tinha uma sabedoria que transparecia naquilo que falava, de um modo simples e verdadeiro.

Foi tudo muito rápido. Infarto fulminante. Pelo que sua esposa, agora viúva, me contou, deve ter durado nem cinco minutos. Estava tudo bem naquela noite de sábado, viram TV normalmente, ele tomou café, e depois foi ao banheiro. Foi quando ela começou a ouvir respirações ofegantes... Não, não vou contar detalhes. De nada adiantará.

O fato é que está tudo acabado. Seus planos em Ribeirão Pires e todos os seus projetos... Tudo interrompido, assim como este texto, que morre junto com ele.

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