Sonhei que ganhei na
Mega-Sena. Foi um sonho, é lógico. Mas parecia ser tão real esse sonho, tão real,
que nem parecia sonho. Para mim era verdade. A gente vive jogando na Mega-Sena
e tentando ganhar. Mas quando vê que a coisa realmente aconteceu, ou, pelo
menos, sente como se fosse uma verdade verdadeira, aí então começamos a pensar
diferente... Ah, você não concorda? Acha que vai pensar sempre do mesmo jeito e
que ganhar na Mega-Sena é sempre bom? Pois veja bem o que aconteceu comigo
neste sonho.
Lá estava eu com a
realidade diante de meus olhos. Havia ganhado a Mega-Sena. Não sabia o valor.
Mas sabia que era muito, muito mesmo. Então começaram os questionamentos.
“O que eu vou fazer com
tanto dinheiro? É muita responsabilidade... Para mim, quanto mais dinheiro se
tem, mais aumenta a responsabilidade. É todo aquele lado humano, espiritual,
que diz pra gente que devemos fazer bom uso da riqueza, ajudar os outros e tudo
mais... Mas quanto devo empregar de toda a minha fortuna neste sentido? Quantos
por cento? Dez por cento? O dízimo, pregado por algumas religiões, seria a
quantia certa neste caso? Mas ainda sobraria muito, muito dinheiro... E com
tanta gente passando necessidade... Que percentual usar nesse tipo de coisa?
Como usar? Como escolher as melhores maneiras de ajudar? É muito dinheiro
envolvido...”.
E o sonho prosseguiu,
cada vez mais intenso, cada vez mais real. Eu era o personagem único e,
bailando ao meu redor, os pensamentos atiravam flechas que perturbavam o que,
para muitos, seria motivo de extrema felicidade:
“Como aplicar o dinheiro?
Comprar imóveis? Guardar tudo no banco? Quais investimentos? Acho que é bom
abrir uma empresa, para não ficar só usufruindo da fortuna... Atitude nobre, girar
a economia, proporcionar progresso para a sociedade... Mas empresa de quê? Qual
ramo? Não importa qual seja, sempre absorverá muito o meu tempo, não terei sossego.
Mas é só arranjar uma pessoa de confiança para tocar o negócio. Mas não se acha
uma pessoa realmente de confiança assim tão fácil. Mas não precisa ser uma
perfeição em termos de integridade... Mas o dinheiro corrompe... Mas... Mas...
Mas...”.
Sonho mergulhado em
“mas”, já estava virando um pesadelo. E piorou quando pensamentos nefastos,
negativos, tomaram conta de mim:
“Todo mundo que se
aproximar de mim será por interesse, pensando somente no meu dinheiro... É
melhor sumir na vida, desaparecer... Qualquer pé-rapado que tem um pouquinho
mais já vira alvo de roubos, sequestros... Imagine agora eu, com toda essa
grana! Viver cercado por seguranças, vidros blindados, sem liberdade! Oh meu
Deus! O dinheiro compra tudo, todos os confortos e prazeres materiais do mundo
em que vivemos... Mas tira a alma da vida, a simplicidade das coisas simples
que valem pelo que são, e não pelo que custam... Oh meu Deus! E agora? E
agora?”.
Acordei... E dei graças a Deus por ter sido um sonho, por não ter ganhado na Mega-Sena.
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