Robson
caminhava regularmente, duas vezes por dia, vinte minutos por vez, indo e
voltando do serviço. De sua casa até o ponto do ônibus fretado e deste mesmo
ponto até chegar novamente à sua casa.
Ganhava
o pão na área de exatas e divertia-se com o exercício da criatividade,
estimulando o outro lado do cérebro com a elaboração de textos, geralmente
crônicas.
Costumava
buscar ideias enquanto andava. E como naquela madrugada estava difícil encontrar
sequer um fiapinho de inspiração para um novo texto, eis que mudou o foco e
olhou para a copa da árvore que se aproximava.
Havia
uma sacola plástica amarrada a um galho.
Era
branca, fina, pouco menor que aquelas usadas em supermercados, opaca o bastante
para não permitir a identificação do seu conteúdo, mas ao mesmo tempo
translúcida na dose exata para despertar a curiosidade.de Robson. Acompanhou
com a cabeça o objeto que se erguia em seu campo de visão. Passou por baixo do
mesmo.
Esqueceu-se
da tal sacola durante o dia, mas depois, quando voltava do serviço, ao iniciar
a rotineira caminhada, já começou a pensar na misteriosa coisa ensacada que se
mantinha suspensa... “Será que é merda?”, perguntou-se. Desculpem-me os
leitores e, principalmente, as leitoras, por usar uma palavra assim tão vulgar,
mas não tive escolha, pois apenas reproduzi, entre aspas, o questionamento de
Robson, mantendo-me fiel à sua expressão.
Mesmo
com, digamos assim, a... “suspeita nojenta”, que lhe pairava na mente, mesmo
assim não se desviou um centímetro sequer da mesma trajetória de sempre, e
passou exatamente embaixo do saco atado ao galho.
A
partir daí aquela sacola passou a fazer parte do seu dia-a-dia, sempre no mesmo
lugar e nos mesmos horários, provocando e despertando-lhe pensamentos.
No
dia seguinte, de madrugada: “Vou continuar passando bem embaixo da sacola. É o
meu caminho. Nada vai acontecer...”.
Mesmo
dia, voltando do serviço: “Eu poderia dar um jeito de tirar isso daí. Subir na
árvore ou cutucar com alguma coisa comprida, um cabo de vassoura...”.
Na
semana seguinte, em um dia qualquer, de madrugada: ”Uma hora vai acabar caindo.
Essa noite choveu bastante. Ela está meio torta. Mais torta que de costume...”.
No
mesmo dia qualquer, voltando do serviço: “Pode ser que o galho em que ela está
amarrada quebre. O galho é meio fino. Parece que está um tanto ressecado...”.
No
mês seguinte: “Está resistindo bastante. Mas não vou alterar a minha rota. É
muito azar cair bem na hora em que eu estiver passando embaixo...”.
Cinquenta
e quatro dias depois, exatamente às 5 horas, 32 minutos, 13 segundos e 24 centésimos,
o galho se rompeu. A sacola, com seu fino e desgastado plástico, iniciou a
trajetória de queda, acelerando em direção à cabeça de Robson, na qual
espatifou-se logo em seguida...
Moral
da história: “Tem hora que se você não fizer nada, o pior pode acontecer. Em
uma caminhada, na vida familiar, profissional... Há sacos espalhados por aí... Na
política ou economia de um país... Então faça alguma coisa!”.
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