“Você
montou a árvore?”, pergunto assim que entro na sala. “Tá montada faz tempo”,
responde minha esposa. Por quantos dias não enxerguei a árvore de natal de dois
metros de altura? Uns três dias, talvez. Também, pra quem não enxergou o novo
painel com rack instalado bem no meio da parede da sala, tudo se pode esperar,
qualquer distração é pouca... Confesso que esta falta por mim cometida tem a
ver somente com extrema distração, ou total desprezo por tudo aquilo que não
está no meu foco. Ou seja, como a árvore não estava no meu caminho, ou como não
tive que desviar da minha rota de todos os dias normais, igualmente não desviei
a vista para o lado, nem ao menos os poucos trinta graus necessários para
focalizar a grande árvore, tão cuidadosamente enfeitada... É, a coisa tá
ficando séria...
Mas
parece que eu não sou o único a ignorar os enfeites de natal. Olhando para as
ruas, para as casas e prédios por aí, reparei que neste ano as luzes diminuíram
bastante. Foram esquecidas. A causa disto talvez seja a tal da crise, com seus
milhões de desempregados e naturais desdobramentos socioeconômicos. Outra
possível causa tem explicação na correria do dia-a-dia a que todos nós estamos
sujeitos. O tempo passa tão rápido que minha esposa costuma falar que não vale
a pena tirar os enfeites em um ano para colocá-los no ano seguinte. “Pra quê? O
ano passa tão rápido que não vale a pena”, diz ela... É, a coisa tá ficando
séria...
Mas
será que a razão destes sintomas “antinatalinos” não se encontra na distração,
na crise ou na correria, mas sim em algo mais dramático, como por exemplo, “o
espírito de natal está morrendo”? Estas ideias me fazem contar o que aconteceu
com minha sobrinha-neta, de quatro anos, nesta noite de natal. Lá foi o meu
sobrinho, como vem fazendo nos dois últimos natais, vestir-se mais uma vez com
a roupa do Papai Noel. A menina ficou desconfiada, encarava o barbudo, olhava
nos seus olhos. Depois de todo o cerimonial clássico, envolvendo aquelas
perguntas do tipo “você foi uma boa menina?” e a tão esperada entrega do
presente, ele sai de cena, para trocar a roupa de “Papai Noel” pela de “papai”.
Quando volta, a pequenina fala, na lata: “Era o papai que estava vestido de
Papai Noel”. Diante desta descoberta, parece que foram os adultos que mais
sentiram a quebra do encanto natalino. Minha mãe chegou a considerar que ela
poderia ter ficado, de certa maneira, chocada com o acontecido. Mas que nada!
Pois que agora, quando perguntam para a garotinha se o Papai Noel existe, a
resposta é sempre a mesma e sem sombra de dúvida: ”Sim”.
Ela
está certa, o Papai Noel existe, acima de qualquer desmascarada. Mesmo que os
enfeites diminuam, ou que os distraídos não percebam árvores de natal de dois
metros de altura. Apesar de tudo, ele existe.
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