Escrevo
sim com muitas reticências... E dai? Tenho vontade de colocar os três pontinhos
e já vou colocando. Não faço cerimônias... Como agora! Sabe, tem hora que
parece imprescindível... Sinto que o texto vai ficar muito seco e sem emoção se
eu cortar as reticências... É uma pontuação que parece dar uma continuidade no
texto, como se estivesse emendando tudo, para que não haja “quebras” entre uma
frase e outra...
Geralmente,
após escrever algum texto, em uma das etapas da revisão que faço, saio cortando
os três pontinhos... Começo por aqueles que, a meu ver, não são tão
essenciais... Mas mesmo estes, quando os deleto, sinto como se estivesse
tirando algo muito importante... É como se arrancasse a entonação das palavras,
tornando assim as frases sem alma... Frases “quadradas”, que não se encaixam
muito bem umas com as outras...
Mas
desta vez farei diferente! Vamos contar quantas reticências coloquei até agora...
Foram onze... Doze com esta última... Treze... Chega! (...) Chega nada! Não
quero nem saber! Desta vez não vou cortar nenhuma reticência! Vou deixar tudo
como está! Sabe o porquê, meu caro leitor? É porque eu acabei de chegar da casa
de um cunhado... A gente brinca um com o outro, eu e esse cunhado, dizendo que
se cunhado fosse bom não começaria com “cu”... Então, brincadeiras a parte,
devo dizer que nesta minha última visita, meu ilustríssimo “cu”nhado acabou me
provocando... Disse que os textos não precisam de pontuação, que esse negócio
de ficar pontuando tudo é coisa de gente “quadradinha”, que não sai da “caixa”...
Também falou que não tolera “aspas”... Que, para ele, a cada ”aspas” que ele
encontra no texto, é como se este sinal de pontuação ficasse encravado em sua
garganta... Pois aqui está, meu caro “cu”nhado... Se você estiver lendo este
texto agora, tome “aspas”! Foram dez pares até agora! Vinte “aspinhas” para
entalarem na sua garganta... Vinte e duas com estas últimas... E reticências
então? Vinte e quatro até agora! Pode se afogar no meio de tantos pontinhos...
Até este ponto (ponto este que não
está sendo contado), são setenta e cinco pontinhos! E não vou parar por aqui...
A
conversa se esticou... Ele de um lado e eu do outro... Ele me veio falando do
Saramago e daquele tal “de Andrade”, não sei se era o “Osvald” ou se era o “Mário”...
Só sei que falou que não colocavam pontuação, que o Saramago direcionava o
texto de uma maneira que não precisava pontuar, que este direcionamento
denotava a grande capacidade de narrativa deste escritor, e assim por diante...
Sinto
muito... Não estou nem aí com essas “modernidades” que querem arrancar a
pontuação dos textos... Ora essa! Então, como protesto, já vou logo postar este
texto no meu blog. Para o meu “cu”nhado e todos aqueles leitores que se julgam
tão “fora da caixa”. Pois eu vou continuar “na caixa”! Cheia de reticências,
aspas e todas as pontuações que eu tiver direito...
Um comentário:
Que bunitinho o meu cunhado fazendo birra. Até posso vê-lo fazendo biquinho, punhos cerrados e batendo o pezinho. Ui. Agora vou mostrar que posso encher uma crônica com reticências e aspas, pois a crônica é minha e posso fazê-la do jeito que quiser. Na verdade não sei se o seu texto é uma crônica ou uma equação matemática, mas acho que vale com exercício para um conto infantil, sei lá. Quanto ao tal de Andrade que você cita, eu estava me referindo ao Oswald de Andrade (O nome dele é com W e não com V, como você colocou. Perdoe-me a correção). Este é um escritor que todos aqueles que querem seguir esta carreira devem conhecer. No entanto, isso não é obrigatório, claro. Há muito artistas, ou pretensos artistas, que não tem uma cultura da própria área. Isto é compreensível, já que estamos falando de Brasil. E aqui a leitura é coisa rara, mesmo para quem é da área artística. Posso não concordar com você, mas sempre vou defender o seu direito de pensar e agir. Pode parecer contraditório, mas acho que você não deve mesmo se importar com alguns Andrades, Saramago, Clarice Lispector ou outros escritores que você ache que não são fundamentais para quem escreve. Grande abraço meu caro.
Postar um comentário