Quatro
meses desempregado. Pensava que me recolocaria em no máximo um mês.
A
ideia surgiu no jantar. Não estava disposto a uma mudança assim tão radical em
minha vida profissional. Mas minha esposa e minha filha incentivaram. E eu,
sentindo o peso da necessidade de sustentar a casa, acabei aceitando.
Trabalhar
no ramo de transporte compartilhado, como Uber, parecia ser a única saída
naquele momento. Com a cabeça meio quente, mergulhado em mil pensamentos,
apreensivo com relação ao meu futuro ganha-pão, fui dormir.
Acordei
disposto a providenciar, o mais rápido possível, toda a documentação necessária
para a nova atividade. Fiz o cadastramento pela internet e aguardei a
aprovação. Na verdade eu não queria que desse certo. Torcia mesmo para que
encontrasse um emprego em minha área, mas, por mais que procurasse, nada.
As
noites eram agitadas e eu dormia com dificuldade. Acordava cansado e
preocupado...
Então,
de repente, lá estava eu como motorista de Uber... Na primeira viagem peguei um
passageiro que não parava de falar. Falou tanta coisa sobre o que disse ser uma
nova tendência da economia, o compartilhamento. Foi dizendo sobre todos os bens
e serviços que poderiam ser compartilhados... Falou, falou e falou...
Neste
primeiro dia, depois de muitas viagens, cheguei exausto em casa. Tudo que eu
queria era me largar na cama...
No
café da manhã, minha esposa me disse que entraria em um novo tipo de negócio
que estava surgindo. “Bolúber, é o Uber do bolo! O usuário entra no aplicativo
e pede um bolo. A solicitação é repassada para todos os fornecedores que
estiveram por perto. Aí aquele que quiser pegar o pedido é só confirmar e
começar a preparar o bolo... Você pode deixar um ou dois bolos prontos de
estoque... Mas tem que tomar cuidado com...”. Desliguei-me um pouco das
explicações dela. Achava meio estranho tudo aquilo... Então chega minha filha e
diz que vai ganhar um dinheirinho com um tal de Reforçúber, reforço escolar
compartilhado... “Pai, vou dar reforço de Matemática, porque eu tenho
facilidade...”.
Estava
ficando um tanto atordoado com aquelas estranhas novidades. Mas não tive tempo
sequer de me acostumar a este novo estado de coisas, isto porque o meu primeiro
passageiro daquele dia logo me foi informando a respeito de outra novidade que,
segundo ele, revolucionaria completamente o mercado de trabalho. Era o
“Job-Uber”, uma plataforma que conectava o trabalhador ao trabalho, a qualquer
hora, por qualquer tempo, pela cotação do valor de cada trabalho específico no
momento da contratação, feita por meio de um simples click, sem interferências
nocivas de retrógradas leis trabalhistas. Disse-me ainda o meu bem informado
passageiro: “Muitas grandes empresas já estão aderindo a este novo modelo...”.
Enquanto
ouvia, o meu estado de aflição com tudo isto foi aumentando mais e mais... Mas
as palavras foram ficando distantes... Até que acordei!
Desculpe,
leitor. Em algum ponto da narrativa acima, eu acabei dormindo e tendo este
atormentador sonho... Ainda bem que foi sonho! Ufa!
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