A
força da natureza é impressionante. De um imenso tronco cortado rente ao chão,
antiga base de gigantesca seringueira, surgem folhas verdes. É a vida
resistindo à brutalidade de um corte assassino. Não há dúvida. São folhas de
seringueira, pujantes, viçosas, provavelmente saindo de algo que pretende ser
um futuro galho, talvez um novo tronco, se deixarem a natureza em paz... Umas
dez ou quinze folhas, tentativa heroica e corajosa para dar continuidade ao
mesmo material genético que se pensava estar extinto.
Não
resisti. Tirei uma foto. Saquei o celular do bolso e registrei a cena, que
certamente passava despercebida pela imensa maioria de todos aqueles que circulavam
apressados ao saírem ou entrarem na estação de trem de São Caetano do Sul. Era
o final do dia e os últimos raios de sol incidiam quase que paralelamente,
tornando o quadro ainda mais bonito.
E
agora, ao ver a foto, não me canso de admirá-la. Vejo muitos significados nesta
imagem... Penso que daqui para frente, ao entrar ou sair da estação, em minha
rotina diária de ir e voltar do serviço, sempre procurarei este aglomerado de
folhas. Torcerei por elas. Para que continuem com a sua valentia. Para que
ninguém interfira em sua luta. Para que passem desapercebidas por aqueles que
mandaram cortar as gigantes árvores.
Até
entendo que deve ter havido uma motivação “justa” para a supressão tão radical
daqueles majestosos espécimes vegetais (ressalto as aspas colocadas na palavra
justa, como indicativo de ironia e por não acreditar na justiça da atitude
tomada). Isto porque talvez as grossas e potentes raízes estivessem afetando a
estabilidade dos trilhos do trem, afinal sabemos que este tipo de raiz
facilmente levanta calçadas e abala as estruturas das construções que se
encontram nas redondezas. Porém não posso deixar de questionar se acabar com as
seringueiras foi a saída mais justa. Será que não poderia ser feita algum tipo
de barreira, por meio de estudos especializados de engenheiros civis e
agrônomos trabalhando em conjunto, quem sabe com a utilização de grandes chapas
metálicas enterradas verticalmente no solo?
Mas
agora então, após o massacre vegetal, as poderosas raízes não mais empurrarão
os trilhos, deixando-os em paz. Então que deixem em paz também este milagroso
renascimento, pois que ele decerto não causará prejuízo algum às estruturas do
local (pelo menos por enquanto e por um bom tempo, acredito eu...).
Neste
embate de forças entre a civilização e a vida, torcerei pela vida. Não
significa que eu seja contrário ao progresso. Isto porque acredito ser sempre
possível civilizar e progredir sem agredir o meio ambiente.
Então
que este renascimento possa continuar... Pois ele representa muitas coisas... Que
eu possa ver o seu progresso no meu dia-a-dia. A vida lutando para viver,
enquanto nós também vamos lutando... Com todos os cortes que também levamos...
Alguns nos galhos mais grossos, ou mesmo até no tronco, rente ao chão, como
este... Mas vamos lá, amiga e companheira seringueira! Vamos vencer esta
batalha!
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