É
difícil falar sobre o medo. Tem que ter muita coragem para falar sobre o medo.
Tem que ser tudo de uma vez. Escrever de “uma sentada só”, sem levantar da cadeira,
sem interrupções. Lá vamos nós!
Todos
nós temos os nossos medos, uns mais, outros menos... Há medo de vários tipos. Os
intensos e profundos, que nos tragam para uma região desconhecida e que nos
jogam no vazio. Já tive um deste tipo. Era criança ainda, uns 9 anos eu acho.
Estava na casa de praia, no longo quintal da frente, no escuro da noite, perto
do muro que fazia divisa com o vizinho. De repente surgiram questionamentos
existenciais, do tipo, quem eu sou, de onde eu vim, para onde eu vou, o que eu
estou fazendo aqui... Deixei-me levar por eles... E o medo tomou conta... Para
sair deste estado, fui falando para mim mesmo, “Calma, está tudo bem, eu tenho
pai, eu tenho mãe...”. A referência e segurança da família arrancou-me daqueles
visgos tenebrosos. Era muito novo para mergulhar em questões tão sérias. Acho que
não há idade que nos dê o preparo para um mergulho deste tipo. Tanto é que,
depois deste incidente, evitei direcionar o pensamento para esta zona perigosa.
Hoje, com o arcabouço de ideias, conhecimentos, fé, certezas, crenças, que a
gente vai construindo e acumulando, acho que hoje estou um pouco mais protegido
deste medo existencial. Mas não me arrisco a novamente mergulhar nas suas
entranhas não... Há mergulhos muito mais interessantes para dar!
Há
aquele medo que a gente leva a tiracolo, para onde quer que sigamos. Tenho um
deste tipo também. É misturado com um monte de outras coisas, mas, nesta sopa
de sentimentos, o medo, de vez em quando, se sobressai. Medo de gaguejar.
Principalmente em situações envolvendo fila, tempo, telefone... O coração bate
mais forte, a insegurança... Como eu disse, é uma porção de coisas, pois a
gagueira é um bicho muito complexo, é uma disfunção neurológica mas também tem
muitos sentimentos envolvidos, e o medo, no meu caso, está presente no meio
disto tudo... Mas esta não é uma crônica de um gago discorrendo sobre sua
gagueira. Isto talvez fique para outro texto, outra ocasião. Por hora, fica
aqui apenas o registro de mais um medo meu.
Enquanto
o escritor aqui vai se abrindo, falando dos seus medos, você, meu caro leitor,
do seu lado, deve estar pensando nos seus medos. Ou talvez nem pensando neles,
pois são tão medonhos que nem é bom pensar, não é mesmo?
Medo
é algo muito particular. Os que coloquei aqui, tenho certeza que para a grande
maioria das pessoas não representa absolutamente nada. Não compreendem e nem
veem nenhum sentido nestes meus medos. Mas, com certeza, há muito sentido e
muito medo dos medos que eles têm, porque realmente acho que ninguém está
imune.
É
isso aí! Cada macaco no seu galho e cada um com seus medos! E lá vou eu com os
meus!
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