Estou no banheiro, em pé, em frente ao vaso
sanitário. Ao alívio de esvaziar a bexiga segue-se a aparição de uma barata.
Vem de trás do pedestal do lavatório. Corre, em uma trajetória curvilínea, e
estanca, ainda perto do pedestal. É pequena. Então penso que deve se tratar de
um ser jovem.
Com os olhos cravados no indesejado inseto, dou
o laço no cordão da bermuda. Não sei o porquê, talvez a ciência ainda explique
um dia, mas algo faz com que as baratas paralisem quando lhes pregamos a vista.
Não é garantia. Às vezes falha. No entanto, algo as prende com o nosso olhar.
Realizo o movimento de me abaixar, com o braço
esticado em busca do chinelo que está no pé. É um momento crucial. “Agora ela
escapa”, é o pensamento que surge em minha mente. Pego o chinelo e me preparo
para o ataque. “Poxa, que bom, ainda está no mesmo lugar!”, outra vez a voz
interior do caçador de insetos.
Aproximo a sola do chinelo até a distância exata.
Se for mais longe, torna o movimento mais demorado, aumentando assim as chances
da presa. E, se for mais perto, acaba espantando a caça antes do bote. Concluo
esta etapa também com sucesso.
A preparação para o golpe fatal envolve
mentalização. Explico. Imagino a “ida” e a “volta” do chinelo. Concentro-me no
ato concluído. Só existe a cena do movimento finalizado. Crio uma tensão e
ansiedade... Como só existe a ação terminada, este estado mental faz com que meu
braço se movimente tão rápido como um salto no tempo...
PLAFT!
Sucesso!
Agora o “eu caçador” fala em voz alta:
– Você tem que melhorar o seu reflexo...
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