Meu nome é medo. Acompanho o ser humano em toda
a sua existência. Mas não limito minha presença a esta única espécie. No
maravilhoso leque das inúmeras criações da natureza, estendo o meu sufocante
abraço sobre muitas variedades de seres vivos.
Mas é com o homo sapiens que a minha relação é
muito mais complexa. Só para se ter uma ideia, basta dizer que estes seres têm
a capacidade de sentirem medo de sentirem medo. Conseguem ficar em permanente
estado de expectativa, aguardando minha aparição. Chamam isto de ansiedade.
E quando apareço, têm as mais variadas reações.
É nestas horas que as pessoas se mostram como são. Pode parecer maldade de
minha parte, mas acho engraçado quando, na hora-h, o sujeito deixa ruir tudo
aquilo que ele pensava que era...
Culpam-me por muitas reações impensadas, feitas
em meio ao desespero, mas isto é uma injustiça, pois não sou eu quem as faço.
Não tenho culpa se esta classe de ser vivente não consegue comportar-se melhor
em minha companhia. Apenas faço o meu trabalho.
Minha função é salvar o homem de muitos apuros.
Para não caírem em um poço, não baterem o carro, não apanharem do inimigo e
assim por diante. Dão-me até um adjetivo para estas situações, pois dizem que
nelas há o tal “medo bom”.
Mas, para os chamados outros tipos de medos, os
humanos não gostam de mim, abominam-me. Mal sabem eles que a causa está neles
mesmo! É um tanto difícil de explicar... Contudo vou contar o que acontece,
talvez assim fique mais claro.
Às vezes cismo de dar uma abraçadinha em alguém,
só pra me divertir um pouco. Porém, quando já estou me afastando, o sujeito me
atrai, me alimenta, entende? Aí eu volto e aperto um pouco mais o abraço, é
assim que funciona. Há aqueles que nem precisam da minha cutucada inicial,
vivem a me chamar. É contraditório! Sofrem comigo, mas não me querem longe!
E assim vou vivendo minha vida, tendo como
missão principal fazer com que os seres não percam as suas vidas antes do
tempo. Sim, porque vocês não têm o privilégio que tenho, pois, afinal, eu sou
eterno!
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