Pim é uma pomba-rola muito curiosa. Adora ciscar
o chão a procura de algo que lhe sirva para colocar goela abaixo. Quando está
ciscando em grupo, é sempre a primeira a encontrar as melhores coisas para
comer. As outras pombas-rolas vivem admirando a sua habilidade: "Nossa
Pim! Você é boa mesmo, hein?". Mas também a advertem de vez em quando:
"Você tem que tomar cuidado! Se mete em cada lugar!".
E assim a vida para Pim segue normalmente, até
que em uma tarde ela decide ir para um quintal muito bonito, cheio de árvores,
lugar que ela já conhece por ter ido algumas vezes. Só desta vez não quer
ninguém por perto. Assim pode ciscar à vontade, sem outras pombas falando para
ela tomar cuidado e não se enfiar aonde não deve.
Assim que chega, logo nota um objeto diferente.
Bom, neste ponto eu preciso explicar que este objeto é um vaso de vidro, em
forma de cubo, sem terra nenhuma, que o Seu Rimeda limpou e deixou de cabeça
pra baixo, sobre umas pedras chatas e redondas que são usadas para pisar no
quintal. Preciso explicar também que o espaço entre a boca do vaso e o chão de
terra é muito pequeno. E dizer que é bom a Pim não se meter a fuçar lá embaixo,
senão...
Mas a gente conhece como é a Pim, não é mesmo? E
lá vai ela, explorar a novidade. Cisca perto da boca do vaso e, ao encontrar
algo que lhe interessa lá dentro, não vê mal algum em enfiar a cabeça por baixo
da borda de vidro para pegar. Segura com o bico e... O tal negócio escapa e vai
parar mais para dentro ainda! Ela não tem dúvida. Contorce ainda mais o corpo
e, com muita vontade, estica-se para pegar novamente, até que... Oh meu Deus!
Pim está presa dentro do vaso!
Como é de vidro e dá para ver tudo lá fora, ela
pensa que dá para atravessar. Coitada! Não sabe que vidro engana os pássaros, a
gente enxerga tudo, passa a luz por ele, mas ninguém consegue passar!
Então ela se desespera dentro do vaso, bate as
asas, bate de tudo quanto é jeito nas paredes e no teto. Se cansa, para um
pouco e, cada vez mais assustada, volta à sua luta para escapar!
O tempo vai passando, começa a escurecer. No
mesmo quintal, por trás de uma cerca, mora um velho cachorro, o Bob. Mas Pim
pode perder as esperanças, pois, por mais que ela bata as asas no vidro, ele
não vai latir para chamar seus donos... Porque se Seu Rimeda aparecesse,
poderia lhe salvar, tirando-lhe o vaso de cima. Mas que nada! O barulho que ela
está fazendo não chama a atenção do cachorro. Além do mais, o Bob, pela idade
avançada, anda meio molengão e dorminhoco, se depender dele, a nossa Pim terá
um trágico fim.
Na rotina da casa, o próximo horário em que
alguém virá para o quintal, será somente
lá pelas onze da noite ou até mais, que é quando o dono dá ao cão um quitute
com o remédio no meio, tira os cocôs que
ele fez, joga água no xixi, etc. Até lá, Pim, pelo grau de desespero em que se
encontra, não suportará...
Mas ainda bem que existem anjos da guarda,
porque, se assim não fosse, esta história não terminaria nada boa...
Neste mesmo dia, Dona Sarima havia lavado os
dois panos felpudos que o Bob deixa dentro da sua casinha, para aconchegar-se
enquanto dorme. E, usando justamente este fato, o anjo da guarda entra em ação.
Vai lá no ouvido da Dona Sarima e lhe assopra um pensamento: "Os
cobertores do Bob!".
Então ela fala para o marido:
– Nossa! O Bob tá sem os cobertores dele! Acho
que já secou. Tem que colocar...
Aí o que o Seu Rimeda responde deixa o anjo da
guarda com as penas das asas em pé!
– Que nada! Que frescura para um cachorrão
vira-lata! Ele pode ficar um dia sem isso...
Para a sorte da Pim, Dona Sarima não liga para o
que o marido disse e sai em busca dos cobertores. Logo depois que os colocou
dentro da casa do Bob, ouve um barulho e, um tanto assustada, chama o Seu
Rimeda. Ele procura descobrir de onde vem o som e logo acha a nossa pobre Pim,
desesperada, batendo as asas contra as paredes do vaso de vidro!
Rapidamente ele levanta a prisão da agoniada ave
que, ao ver-se livre, voa para longe...
Bom, agora que tudo acabou bem, acho que, depois deste apuro, Pim não vai ser tão curiosa...
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