Faz muito tempo. Aconteceu em alguma noite no
começo da década de 90, quando era praticante de tai chi chuan. Primeiro o
mestre falou para respirarmos muito rapidamente. E assim ficamos, por um bom
tempo, neste processo de hiperoxigenação. Até que ele disse para inspirarmos
profunda e lentamente, e então segurarmos a respiração. Prosseguiu dizendo que
era para nós imaginarmos que estávamos fazendo a respiração fetal, sem
necessidade de ar, mentalizando um fluxo subindo e descendo, entre dois pontos,
não me lembro exatamente quais, só sei que eram na parte inferior do tronco.
Fiquei envolvido por esta experiência. Fui
fundo, acreditei na tal respiração fetal. Sentia que despertava algo que, de
alguma maneira, nutria-me e suplantava a necessidade de usar os pulmões. É
lógico que, nos minutos anteriores, saturei-me de oxigênio, o que tornou mais
fácil a tarefa de prender o ar.
Os segundos foram passando e eu mantinha a concentração
no fluxo imaginário que subia e descia. Não, não era imaginário! Estranha e incrivelmente
percebia que este processo estava me levando a uma marca nunca antes alcançada.
Sem necessidade de voltar a usar os pulmões, relaxado, o tempo avançava e eu,
com certeza, havia entrado em um estado diferente de tudo que vivi até aquele
momento, ou depois.
“O mestre ainda não falou para soltarmos o ar e voltarmos
a respirar. Mas já passou muito tempo!”. O intelecto brigava contra o inacreditável
fato de o meu corpo haver aposentado os pulmões. O cérebro não entendia o que
estava acontecendo. Mas eu continuava no sobe e desce do fluxo e, por incrível
que pareça, não sentia necessidade de respirar.
Não sei definir quanto tempo assim fiquei. Só
sei que foi muito. E que voltei a respirar mais por uma necessidade intelectual
do que por uma real necessidade de ar, dando a impressão de que poderia ficar
naquele estado indefinidamente. Muito estranho. Não ouvi o mestre dizer para
soltarmos o ar ou voltarmos a respirar. Acho que ele queria que cada um
chegasse ao seu limite ou descobrisse novas fronteiras. Ou simplesmente esqueceu
de dar o comando para que voltássemos a usar os pulmões, e cada um foi voltando
quando quis, ao seu tempo.
Esta experiência foi muito marcante. E agora,
umas três décadas após o ocorrido, percorri a internet em busca de alguma
explicação fisiológica. O que consegui encontrar de nada ajudou, pois a única
coisa que ficou clara foi a grande diferença entre o mecanismo de oxigenação do
sangue antes e depois do nascimento. Dentro do útero, nada de subir e descer na
região mentalizada na aula de tai chi. Sem cordão umbilical e placenta, não há
como retroceder à “respiração” fetal para suprir o não uso dos pulmões.
Porém seria interessante que a ciência se debruçasse sobre estas coisas estranhas. Afinal, acho que não sou o único que viveu ou viu por perto algo inexplicável, não é mesmo?
Nenhum comentário:
Postar um comentário