sábado, 6 de julho de 2024

SOLEMAR – AS TRÊS CASAS E AS ESTRADAS (DE ASFALTO E DE FERRO) (PARTE 1 DE 3)

Solemar é uma praia que pertence à cidade de Praia Grande, no estado de São Paulo.

Decidi começar a crônica com esta frase, que dá a localização geográfica de um lugar que fez parte de minha vida por mais de quatro décadas. Desde 1966, quando tinha dois anos idade, até 2010, ano em que a casa foi vendida. Mas não foi somente esta casa que atravessou todo este tempo. Na verdade, foi uma espécie de corrida de bastões. O primeiro imóvel, vindo dos anos 60, atravessou a década seguinte e, no começo dos anos 80, passou o bastão para outro imóvel. Este prosseguiu até a virada do milênio, quando delegou a tarefa de acompanhar a minha família para o terceiro e último “corredor”, uma construção com quatro suítes cercando uma cozinha e sala conjugadas, tudo isto na parte posterior do terreno, pois a frente era embelezada por um jardim.

As três construções muito próximas, e todas elas muito próximas também da praia. A do meio em termos cronológicos, a que atravessou as décadas de 80 e 90, esta era em frente à praia, pé na areia mesmo. E foi assim, passando as férias de final de ano, que minha família passou de um imóvel para outro, sempre naquele final da rua Cecília Meireles, sempre Solemar. A primeira casa me viu crescer e chegar até a adolescência. A segunda presenciou meus anos de juventude, conheceu minha esposa e, em seu quintal de frente para o mar, alegrou-se ao ver minha filha brincando com os primos na piscina de armar. Meu filho, na barriga da mãe, conheceu as paredes recém-levantadas da terceira casa. São tantas recordações em cada uma delas... Nem sei por qual começar...

Não quero parecer injusto com nenhuma memória, lembrando de algumas e esquecendo outras, que dirão serem mais importantes que as primeiras, assim sendo tentarei deixar todas elas, as antigas, no passado, e procurarei relatar aqui o que aconteceu em uma rápida visita que lá fiz, há onze dias atrás. São memórias frescas, recentes, de um bate-volta entre São Caetano e Solemar, coisa que já estava querendo fazer há algum tempo.

Aproveitei o feriado em Barueri, cidade na qual trabalho, para dar esta escapada da rotina. Na verdade, há uma certa mentira quando digo “cidade na qual trabalho”. Isto porque atuo remotamente, no chamado regime home office. Mas tudo bem, isto não importa. O que vale é que é feriado na cidade da sede da empresa na qual eu fui registrado e, portanto, feriado para mim, oba! E lá fomos nós, eu e minha esposa, nesta jornada saudosista.

Ainda na estrada, mas já dentro da Praia Grande, observei que havia muito mais prédios pelo caminho, sinal do avanço da ocupação imobiliária. Fazendo as contas, acredito que não passava por ali há uns oito anos, tempo suficiente para mudanças significativas. Porém, uma das que me surpreendeu logo no começo, foi quando, ao sairmos da estrada, passamos por onde havia o trilho do trem. Aqui havia o trilho do trem! Aonde foi parar o trilho do trem? Só asfalto, asfaltaram tudo! Agora sim que não há mais chance de esta linha de trem ser reativada. Que pena! Tudo acabado! Agora, escrevendo estas linhas, lembro-me da viagem que fiz, ainda criança, com minha família e meus tios, de Solemar até Juquiá, naquele trem com bancos de madeira... Mas vou cumprir aqui o objetivo que já disse de deixar as memórias antigas no passado, certo? Não só para não cometer injustiças com as memórias, mas também para não me alongar muito, pois se fosse dar vazão a todas as lembranças, esta crônica viraria um livro de recordações...

(continua)

Nenhum comentário: