Solemar é uma praia que pertence à cidade de
Praia Grande, no estado de São Paulo.
Decidi começar a crônica com esta frase, que dá
a localização geográfica de um lugar que fez parte de minha vida por mais de
quatro décadas. Desde 1966, quando tinha dois anos idade, até 2010, ano em que
a casa foi vendida. Mas não foi somente esta casa que atravessou todo este
tempo. Na verdade, foi uma espécie de corrida de bastões. O primeiro imóvel,
vindo dos anos 60, atravessou a década seguinte e, no começo dos anos 80,
passou o bastão para outro imóvel. Este prosseguiu até a virada do milênio,
quando delegou a tarefa de acompanhar a minha família para o terceiro e último “corredor”,
uma construção com quatro suítes cercando uma cozinha e sala conjugadas, tudo
isto na parte posterior do terreno, pois a frente era embelezada por um jardim.
As três construções muito próximas, e todas elas
muito próximas também da praia. A do meio em termos cronológicos, a que
atravessou as décadas de 80 e 90, esta era em frente à praia, pé na areia
mesmo. E foi assim, passando as férias de final de ano, que minha família
passou de um imóvel para outro, sempre naquele final da rua Cecília Meireles,
sempre Solemar. A primeira casa me viu crescer e chegar até a adolescência. A
segunda presenciou meus anos de juventude, conheceu minha esposa e, em seu
quintal de frente para o mar, alegrou-se ao ver minha filha brincando com os
primos na piscina de armar. Meu filho, na barriga da mãe, conheceu as paredes
recém-levantadas da terceira casa. São tantas recordações em cada uma delas...
Nem sei por qual começar...
Não quero parecer injusto com nenhuma memória,
lembrando de algumas e esquecendo outras, que dirão serem mais importantes que
as primeiras, assim sendo tentarei deixar todas elas, as antigas, no passado, e
procurarei relatar aqui o que aconteceu em uma rápida visita que lá fiz, há
onze dias atrás. São memórias frescas, recentes, de um bate-volta entre São
Caetano e Solemar, coisa que já estava querendo fazer há algum tempo.
Aproveitei o feriado em Barueri, cidade na qual
trabalho, para dar esta escapada da rotina. Na verdade, há uma certa mentira
quando digo “cidade na qual trabalho”. Isto porque atuo remotamente, no chamado
regime home office. Mas tudo bem, isto não importa. O que vale é que é feriado
na cidade da sede da empresa na qual eu fui registrado e, portanto, feriado
para mim, oba! E lá fomos nós, eu e minha esposa, nesta jornada saudosista.
Ainda na estrada, mas já dentro da Praia Grande,
observei que havia muito mais prédios pelo caminho, sinal do avanço da ocupação
imobiliária. Fazendo as contas, acredito que não passava por ali há uns oito
anos, tempo suficiente para mudanças significativas. Porém, uma das que me
surpreendeu logo no começo, foi quando, ao sairmos da estrada, passamos por
onde havia o trilho do trem. Aqui havia o trilho do trem! Aonde foi parar o
trilho do trem? Só asfalto, asfaltaram tudo! Agora sim que não há mais chance
de esta linha de trem ser reativada. Que pena! Tudo acabado! Agora, escrevendo
estas linhas, lembro-me da viagem que fiz, ainda criança, com minha família e
meus tios, de Solemar até Juquiá, naquele trem com bancos de madeira... Mas vou
cumprir aqui o objetivo que já disse de deixar as memórias antigas no passado,
certo? Não só para não cometer injustiças com as memórias, mas também para não
me alongar muito, pois se fosse dar vazão a todas as lembranças, esta crônica
viraria um livro de recordações...
(continua)
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