terça-feira, 9 de julho de 2024

SOLEMAR – O GRANDE PRÉDIO, AS BOLACHAS-DO-MAR, E OS EMISSÁRIOS (PARTE 2 DE 3)

Talvez o principal motivo que me levou a visitar Solemar foi a construção de um grande prédio bem ao lado da casa em que lá ficávamos. O novo empreendimento, com quatorze andares e ampla frente para o mar, ocupa a área do que era um terreno vazio e, pelos meus cálculos, avançou para uma ou mais casas ao lado. O quintal onde nos demorávamos nas redes ou cadeiras, vendo as crianças brincarem na piscina, parte desta área virou o estande de venda deste prédio vizinho. No que restou da nossa ex-casa, pude ver, na parte da frente, que o imóvel ganhou uma nova estrutura, aumentando para cima e virando um sobrado. A parte de trás, maior em comprimento, não foi possível ver, por estar escondida por um alto muro ou parede azul. O que aconteceu com as três janelas (da sala, banheiro e quarto) e com o corredor lateral? Foram “engolidos” pelo avanço do telhado e deixaram de existir? Ou estão atrás do muro azul? Agora, vendo detalhadamente o vídeo que fiz para registrar a cena, decidi pela primeira hipótese. Mas nada disso importa, pois o resumo da história é que tudo foi muito, muito modificado mesmo, e tudo que me lembro não existe mais!

Até a praia estava diferente, com o mar bem mais recuado quando comparado com minhas lembranças. E neste cenário que constantemente era contraposto com nossas memórias, lá fomos, eu e minha esposa, caminhar na beira da água, molhando os pés. Estávamos quase só nós dois na imensidão de areia, pois, apesar de o dia estar bonito naquele começo de inverno, era segunda-feira. Se o feriado não fosse em Barueri, mas sim na cidade de São Paulo, aí sim a praia estaria com muito mais gente. Porém é melhor assim, vazia, pois o contato com a natureza se faz mais presente.

Em algumas regiões a água se acumulava, formando rasíssimas piscinas onde a areia era um pouquinho mais baixa. Nesses lugares os pés sentiam a temperatura ligeiramente maior. Logo começamos a pegar algumas poucas conchas que surgiam, mas o que mais nos chamou a atenção foi o que parecia ser uma estrela-do-mar. Na verdade não era uma estrela-do-mar, mas sim “bolacha-do-mar”. Fiquei sabendo seu nome correto justamente agora, quando fui pesquisar na internet o nosso achado. Mais um pouco de conhecimento: a tal bolacha-do-mar pertence à ordem Clypeasteroida e é parente próxima da estrela-do-mar. De cor acinzentada e com o desenho de uma flor ao centro, encontramos algumas na areia molhada, mortas. Uma delas estava inteira, nenhuma parte quebrada, um achado que mereceu ser guardado em um saquinho plástico. No entanto, minutos depois, ao olharmos novamente para este brinde que roubamos da natureza, constatamos que havia se quebrado, e aí percebemos que se tratava de algo muito frágil, que logo depois voltou para a areia, pois não valia a pena guardá-la daquele jeito.

A caminhada continuava e, justiça seja feita, nem tudo piorou com o passar dos anos, pois não posso deixar de registrar que não passamos por nenhum esgoto a céu aberto. Antigamente, de quando em quando, tínhamos que pular os caminhos tortuosos, que seguiam poluindo a areia até atingirem a água do mar. Alguns, menores, não conseguiam atingir as primeiras ondas. Morriam em algum ponto do percurso arenoso, mas nem por isso deixavam de degradar o meio ambiente. Mas agora o cenário é bem diverso. Foram construídos emissários, que levam o esgoto em longas tubulações até regiões mais profundas do mar. Não que isto deixe totalmente de poluir, mas acaba sendo, vamos dizer assim, uma poluição mais bem comportada, pois se aproveita da “grande capacidade de depuração do oceano, em função de seu enorme volume de água” (com as próprias palavras, entre aspas, que encontrei no site da CETESB – Companhia Ambiental de Estado de São Paulo).

(continua)

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