Talvez o principal motivo que me levou a visitar
Solemar foi a construção de um grande prédio bem ao lado da casa em que lá ficávamos.
O novo empreendimento, com quatorze andares e ampla frente para o mar, ocupa a
área do que era um terreno vazio e, pelos meus cálculos, avançou para uma ou
mais casas ao lado. O quintal onde nos demorávamos nas redes ou cadeiras, vendo
as crianças brincarem na piscina, parte desta área virou o estande de venda deste
prédio vizinho. No que restou da nossa ex-casa, pude ver, na parte da frente,
que o imóvel ganhou uma nova estrutura, aumentando para cima e virando um
sobrado. A parte de trás, maior em comprimento, não foi possível ver, por estar
escondida por um alto muro ou parede azul. O que aconteceu com as três janelas (da
sala, banheiro e quarto) e com o corredor lateral? Foram “engolidos” pelo avanço
do telhado e deixaram de existir? Ou estão atrás do muro azul? Agora, vendo detalhadamente
o vídeo que fiz para registrar a cena, decidi pela primeira hipótese. Mas nada
disso importa, pois o resumo da história é que tudo foi muito, muito modificado
mesmo, e tudo que me lembro não existe mais!
Até a praia estava diferente, com o mar bem mais
recuado quando comparado com minhas lembranças. E neste cenário que
constantemente era contraposto com nossas memórias, lá fomos, eu e minha esposa,
caminhar na beira da água, molhando os pés. Estávamos quase só nós dois na
imensidão de areia, pois, apesar de o dia estar bonito naquele começo de
inverno, era segunda-feira. Se o feriado não fosse em Barueri, mas sim na
cidade de São Paulo, aí sim a praia estaria com muito mais gente. Porém é
melhor assim, vazia, pois o contato com a natureza se faz mais presente.
Em algumas regiões a água se acumulava, formando
rasíssimas piscinas onde a areia era um pouquinho mais baixa. Nesses lugares os
pés sentiam a temperatura ligeiramente maior. Logo começamos a pegar algumas
poucas conchas que surgiam, mas o que mais nos chamou a atenção foi o que
parecia ser uma estrela-do-mar. Na verdade não era uma estrela-do-mar, mas sim “bolacha-do-mar”.
Fiquei sabendo seu nome correto justamente agora, quando fui pesquisar na
internet o nosso achado. Mais um pouco de conhecimento: a tal bolacha-do-mar pertence
à ordem Clypeasteroida e é parente próxima da estrela-do-mar. De cor acinzentada
e com o desenho de uma flor ao centro, encontramos algumas na areia molhada,
mortas. Uma delas estava inteira, nenhuma parte quebrada, um achado que mereceu
ser guardado em um saquinho plástico. No entanto, minutos depois, ao olharmos
novamente para este brinde que roubamos da natureza, constatamos que havia se
quebrado, e aí percebemos que se tratava de algo muito frágil, que logo depois voltou
para a areia, pois não valia a pena guardá-la daquele jeito.
A caminhada continuava e, justiça seja feita, nem
tudo piorou com o passar dos anos, pois não posso deixar de registrar que não
passamos por nenhum esgoto a céu aberto. Antigamente, de quando em quando,
tínhamos que pular os caminhos tortuosos, que seguiam poluindo a areia até atingirem
a água do mar. Alguns, menores, não conseguiam atingir as primeiras ondas.
Morriam em algum ponto do percurso arenoso, mas nem por isso deixavam de
degradar o meio ambiente. Mas agora o cenário é bem diverso. Foram construídos
emissários, que levam o esgoto em longas tubulações até regiões mais profundas
do mar. Não que isto deixe totalmente de poluir, mas acaba sendo, vamos dizer
assim, uma poluição mais bem comportada, pois se aproveita da “grande
capacidade de depuração do oceano, em função de seu enorme volume de água” (com
as próprias palavras, entre aspas, que encontrei no site da CETESB – Companhia Ambiental
de Estado de São Paulo).
(continua)
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