Olhos
rápidos, saltando de um lado para outro. Olhos baixos, com vergonha de se
levantarem. Olhos que sorriem, junto com a boca, e até mais do que ela. Bocas
que mascam chiclete, que falam ao celular ou que são curvadas para baixo.
Orelhas com brinco, com piercing, com lóbulo colado ou não.
Para
cada ponto que se olha, a variedade é enorme, infinita! E o que está dentro do
corpo, não as entranhas, mas a própria alma, aí é mais que infinito! Os
sentimentos, as vibrações... Ódio, rancor, medo, amor, solidão, tristeza,
alegria, euforia, insegurança, orgulho, egoísmo...
Quando
olho para aquela massa humana, compacta, caminhando, em sentido contrário ao
meu, pelo túnel que liga as estações Paulista e Consolação do metrô, tento
captar a energia resultante... O "indivíduo multidão", resultado da
composição de todas as pessoas, como será que ele está? Triste, agitado, apressado,
alienado, conformado?
Eu
acho que estamos mais interconectados do imaginamos. Não falo das inúmeras
conexões que surgiram por meio de toda esta avalanche tecnológica que nos
invadiu. Refiro-me às conexões que sempre existiram, as de
"mente-a-mente". Os mais sensíveis percebem. Dizem que estamos
entrando em uma nova era na qual estas "ligações" ficarão mais
intensas. Mas não quero entrar nestes assuntos. Apenas comentei sobre estas
conexões porque quando vejo muitas pessoas juntas tenho duas percepções. Ao
mesmo tempo em que vejo uma variedade infinita de características físicas,
psicológicas, emocionais, comportamentais, energéticas, ou o que quer que seja,
também vejo como se todas as pessoas fossem uma coisa só, formando um
"indivíduo coletivo”.
Pode
parecer contraditório. E realmente é. Nas grandes aglomerações, nas ruas ou
transportes públicos apinhados de gente, as pessoas fazem questão de
permanecerem estranhas umas às outras. Mal sabem elas que não adianta este
esforço individualista, pois o "ser coletivo" sempre estará presente.
As conexões entre as pessoas acontecem, quer queiramos ou não.
Então,
quando fico olhando para as pessoas, observando detalhes e particularidades de
cada indivíduo, ou quando procuro captar as emanações ou energias do
"indivíduo multidão", acho que esta minha atitude é realmente
bastante estranha... No entanto acredito que não desperta a atenção dos outros,
visto que estão preocupados em ignorar o que é externo a eles mesmos e ao que
fazem (boa parte deles atentos ao celular que manipulam, concentrados).
E
assim vou levando minhas viagens pelos transportes públicos... Se, por um lado,
muitos veem uma mesma coisa, uma monotonia de pessoas, de muitas pessoas,
enxergando apenas rotinas e seres robotizados que se igualam uns aos outros,
eu, por outro lado, vejo diferenças e riquezas entre as pessoas. Acho que isto
é fruto dos olhos de escritor, ávidos por encontrar material e assunto para
mais uma crônica. E a crônica acabou saindo... É isso aí!
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