Palavra.
Falada. Escrita. Pensada. Verdadeira ou vazia. Comprometida ou inconsequente.
Dizemos: “São só palavras”. Mas palavras são tudo.
Com
a palavra se decreta voz de prisão. Cerceia a liberdade. Mas também liberta, na
voz de um juiz. É faca de dois gumes. Pode dar conselhos positivos ou provocar
intriga. É faca de múltiplos gumes. Pode ser interpretada de muitas maneiras,
gerando consequências que vão do céu ao inferno. A lei está cheia de palavras.
Com elas os advogados dos poderosos encontram caminhos para defender os
interesses de seus clientes. Porém, para quem não tem condições, a palavra só
tem a oferecer a sua mais fria interpretação.
Palavras
que travam, que não saem. Mas nem por isto menos palavras. Valem pelo que
deveriam dizer. Porque muitas vezes a palavra pensada tem mais força que a
palavra falada.
Palavras
precipitadas, a causa de muitos males.
Palavras
esquecidas, que fogem da mente. Deixam-nos no vazio. Sentimento e raciocínio
sem expressão.
Palavras
que mentem, manipulam, distorcem a realidade. Habilmente veiculadas por quem
quer dominar. Os seus alvos são pessoas simples, que se deixam enganar.
Palavras
que rimam. Dizem que na prosa elas não podem rimar. Então já não sei como este
texto classificar.
Para
tudo há palavra. Nossa mente racional não admite que nada exista sem nome,
rótulo ou explicação. E, para explicar, amontoa palavras. Como se não bastasse
as que já existem, de vez em quando surge alguma nova. É a gíria inventando
novas palavras.
Elas
não acabam. Mesmo em silêncio elas são pronunciadas em nossa mente. O nosso
próprio pensamento, parece que ele não vive sem elas. Mas será que Helen
Keller, enquanto estava mergulhada em seu isolamento, sem nada ouvir ou ver,
criança ainda, será que ela não pensava por não conhecer palavra alguma? E
depois, quando Anne Sullivan conseguiu fazê-la entender o que é palavra e para
que serve, após dominar maestralmente uma infinidade de palavras, conseguindo
entendê-las e expressá-las em maravilhosos discursos, será que só aí ela passou
a pensar? As palavras são o pensamento ou elas atrapalham o pensamento? Você já
pensou sem palavras? Ou isto não seria pensamento, mas sim sentimento? São só
perguntas. Mas perguntas também são feitas com palavras.
Não
dá para escapar delas. Cercam e inundam o nosso ser. Mas, mesmo assim, muitas
vezes parecem insuficientes, quando nenhuma delas diz o que queremos dizer. Por
outro lado, há momentos em que encontramos a palavra exata, quando elas fluem
de uma maneira impressionante, encaixando-se perfeitamente umas às outras. É
quando elas contornam perfeitamente o pensamento, como uma fina máscara que
cobre um ser etéreo. É quando as palavras não atrapalham.
Enfim,
o que posso dizer com certeza é que lidar com as palavras é uma arte... Na qual
me sinto um eterno aprendiz!
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