Olhei para aquele sujeito microscópico. Feio.
Feito uma bola, cheia de bastonetes. Aproveitei a oportunidade e perguntei-lhe,
pois, vai que ele tenha boca e fale...
– Qual é o seu nome?
Ele remexeu-se, balançando seus bastonetes e,
para minha surpresa surge uma boca mole, em sua porção inferior, que fala:
– Nosso nome é Covid, Covid-19.
Estranhei a primeira pessoa do plural, mas isto
não atrapalhou o entusiasmo. “Oba! Agora vou encadear uma porção de perguntas!
Furo de reportagem!”, foi o que pensei.
– De onde que você veio?
– Tem gente que pensa que nós fomos feitos pelos
chineses. Outros pensam que foram os americanos. Mas, na verdade, nós
acreditamos que surgimos devido a uma intromissão do ser humano no habitat dos
morcegos, lá em Wuhan, na China.
Ajeitei minha máscara (e ao mesmo tempo lembrei
que não é bom ficar mexendo nela...), dei um passo para trás e, um tanto
temeroso, prossegui:
– Já esteve em muitos lugares?
– Sim, estamos no mundo todo.
– Porque você sempre fala na primeira pessoa do
plural?
– Somos uma coletividade... – neste momento,
todos os seus bastonetes deram uma tremidinha, e eu imaginei que era uma
espécie de comunicação com seus semelhantes. Meio impressionado, quis manter um
clima ameno na entrevista:
– E de qual lugar você mais gostou? (...) Ou
vocês mais gostaram?
– Nós gostamos mais aqui do Brasil!!! – a
tremida dos bastonetes, desta vez, foi bem mais intensa.
– Por quê? Foi por causa das nossas praias ou do
nosso povo hospitaleiro?
– Nada disso! Foi o seu presidente que nos
ajudou muito, nos menosprezando, dizendo que éramos uma gripezinha. Conturbou
todo o combate contra nós... Enquanto isso, nós fizemos a festa, e ainda
estamos fazendo!!!
Lembro-me que foi nesta hora que pensei: “Ainda
bem que a entrevista não é ao vivo, assim dá pra editar...”. Mas foi tudo muito
rápido e acabou interrompendo este pensamento. A tal bola cheia daquelas coisas
chacoalhou-se toda e saiu na disparada. Estava toda animada! Acho que iria
continuar na sua festa!
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