Onório deitou-se. Após poucos minutos, o
mosquito começou a zunir em seu ouvido. Então ele colocou o espanta-mosquito,
aquele que vai na tomada e esquenta uma pastilha. Para garantir, também
colocou, em outra tomada, um aparelhinho que funciona com luz ultravioleta, que
atrai e mata os insetos.
“Pronto! Agora tá resolvido”.
Mas não. Enganou-se. Não contava que este
mosquito, o único que por ali rondava, por alguma inexplicável razão, não seria
espantado pelo cheiro exalado pela pastilha. Algo em seu pequeno organismo
garantia esta imunidade, um desvio genético lhe trouxe esta vantagem. E, para a
desgraça de Onório, a vantagem também se estendia à ação da outra arma,
conectada na outra tomada, pois a luz ultravioleta não exercia influência
alguma sobre o enxerido zumbidor alado.
A única influência capaz de atingir o estranho e
incomum inseto era a atração que orelha de Onório lhe provocava.
O tempo escoava, embalado pelos zunidos, uma
serenata de amor de um mosquito apaixonado por uma orelha.
Imagine se este incomum inseto, acidentalmente
dotado de uma genética que lhe garantia uma vantagem competitiva enorme,
imagine se, ao procriar-se, passasse estes dotes aos descendentes... Seria o
início de uma nova espécie... Um supermosquito! Uma verdadeira proeza da
seleção natural de Darwin!
Mas Darwin não contava com a raiva, a explosão e
o reflexo de Onório que, agarrando e girando o travesseiro no movimento em arco
do braço, estatelou o mosquito na parede, esmagado pela fronha!
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