Enquanto subo a escada do sobrado onde moro,
penso que esqueci o celular lá embaixo. No instante seguinte, percebo que está
no bolso. Mais um instante, e minha mente toma consciência de que sou um ser
que muito viveu na era pré-celular. Penso na década de 80, eu mais jovem, a
gente vivia sem celular! Surge uma sensação de superioridade, pois sinto que
todo o meu ser foi formado e viveu muito bem sem essa coisa, e isto me traz um
outro sentimento, o de independência. Pude viver sem ele, e trago comigo este
poder de ficar sem ele, ao contrário dos mais jovens, tão dependentes e que
vivem na sombra desse aparelho. Foi mais ou menos isto o que aconteceu dentro
de mim, em poucos degraus...
Alguns minutos depois, sob o chuveiro, vejo o
dia que passou como se fosse um bloco, rápido e rotineiro. E ao mesmo tempo
lembro que é primeiro de abril. "Poxa, passou todo o dia e eu não disse
nenhuma mentira... Mas agora já passou da meia noite, já era...", este
pensamento veio com um sentimento de perda, pois podia ter brincado, bolado uma
mentira bem legal pra pregar em minha esposa, seria divertido.
Logo em seguida, um instante de comparação entre
o momento atual e o passado. Antes era diferente, o dia primeiro de abril
contrastava com os outros dias, pois naqueles outros dias não estávamos
mergulhados em tantas mentiras ou, como se fala atualmente, fake news. O dia da
mentira perdeu totalmente a exclusividade. Infelizmente, agora ficou um tanto
sem graça usar a mentira para brincar, pois a gente vê tanta mentira por aí e,
pior ainda, tantas pessoas acreditando nelas, que até pegamos raiva da mentira,
queremos distância dela!
Mas tudo ficou pior com o celular! Espalhados em
tantas mãos, formando infinitos canais de propagação de inverdades, muitas
delas absurdas... Olha aqui o celular novamente, primeiro na escada e agora
debaixo do chuveiro...
Depois destas filosofias de escada e de chuveiro, o que eu desejo é que volte o tempo em que o dia primeiro de abril era mais divertido, e que a gente viva mais longe das telas e próximo das verdades!
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