Último vagão do metrô.
Linha amarela. Volta do serviço. Olhos grudados nas telas dos celulares.
Muitos. Muitos olhos. Muitos celulares. Parece que há mais celulares do que
olhos. Então começou. Tinha que começar com alguém. O jovem estranha. Uma tela
branca aparece em seu celular. Em poucos segundos manipula o aparelho de mil
maneiras possíveis e impossíveis. Angustia-se. A tela branca não desaparece.
Crise de abstinência. Ele vai ficar cinco minutos desconectado! Durante todo o
dia estivera conectado, utilizando, principalmente, a rede social. Este vício,
em breve, lhe custaria o emprego. Mas talvez a tela branca surta algum resultado...
Ele foi o primeiro.
O segundo também era
jovem. Aconteceu naquela mesma noite. Na verdade, já era madrugada. A tela
branca surgiu quando ele estava no meio de uma partida, no ponto mais crucial
do jogo. Deu um murro na mesa. Gritou. Desesperou-se. Tudo travado. Nem
conseguia avisar os colegas de equipe. Justamente agora, quando subiria de
nível. Assim como o primeiro, tentou escapar da tela branca, também de mil
maneiras possíveis e impossíveis, sem sucesso. E foi dormir, arrebatado pelo
sono que chegou de repente. Após mais de quatorze horas ligado na tela do
computador, lá estava ele, largado na cama, dormindo profundamente, enquanto a
tela branca insistia em permanecer no monitor.
E assim, esta estranha
interferência, vinda sabe-se lá de onde ou de quem, alastrou-se rapidamente. No
terceiro dia, a misteriosa tela branca já era notícia nas redes de televisão.
Falava-se muito, também, dentro da internet, isto quando o próprio assunto
comentado – a tela branca – permitia...
Inicialmente supunha-se
tratar-se somente de um simples vírus. Lógico, não tão simples assim, pelo seu
impacto e extensão, mas ainda um vírus. Porém, logo os especialistas anunciaram
que não era possível identificar vírus algum. Completo mistério. Mas os
especialistas, os melhores do mundo, continuariam tentando...
Começaram a surgir
teorias para tentar explicar o que, para a lógica da informática, não tinha
explicação. Quando percebeu-se que os alvos da tela branca eram somente aqueles
mais aficionados no mundo virtual, começou-se a falar no tal “Hacker do Além”,
que seria uma espécie de intervenção divina, encarregada de policiar o uso dos
que abusavam...
Hacker do Além, era só
nisto que se falava... E ele se tornou ainda mais o centro das atenções quando
a tela branca deixou de aparecer para, no seu lugar, surgirem avisos do tipo:
– Largue o computador! Vá
à geladeira e pegue uma fruta!
– Mexa-se! Vá até a sala,
conversar com sua esposa!
– Chega de rede social
por hoje! Saia de verdade com os amigos!
E assim, tão
misteriosamente como surgiram, acabaram desaparecendo os ataques ou invasões do
Hacker do Além. De saldo positivo, o primeiro jovem mudou um pouco o seu
comportamento e está conseguindo manter o seu emprego, o segundo jovem já não
fica tantas horas pregado no computador, e “algumas” outras boas mudanças, aqui
ou acolá...
Hacker do Além, muito
obrigado! Nossa “sociedade virtualizada” agradece. Volte quando quiser!
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