Não
poderia deixar de escrever sobre o tão falado fim do mundo, agendado pelos
maias para o próximo dia 21. Só porque, há muito tempo atrás, certo
calendarista maia resolveu parar de fazer o seu calendário justamente no dia
21/12/2012... Mal sabia ele que sua preguiça em continuar o serviço causaria
tanto impacto...
Há
aqueles que não acreditam na preguiça do calendarista, mas sim em uma motivação
mística ou espiritual. Esta data representaria, então, o final de um ciclo e o
começo de uma nova era. Virando a página para um mundo melhor.
Basta
fazer uma pesquisa na internet para perceber que este novo fim do mundo
espalhou-se também pelo mundo virtual. Daqui até o “dia D” a coisa promete
esquentar ainda mais. E, se tudo acabar em fogo, quente mesmo vai estar no
último dia!
Tem
um sujeito, onde trabalho, que já faz um bom tempo que vem falando sobre o dia
21 de dezembro. Acredita no fim, fala com convicção. Mas, como ele é
espirituoso, daqueles que soltam uma brincadeira de vez em quando, a gente
duvida da sua certeza. Mesmo porque o seu tom de voz, a maneira como diz, leva
a crer que está fazendo tipo. No entanto, seus comentários apocalípticos são
frequentes, fato este que nos leva a crer que, para ele, se não for verdade
verdadeira, o fim do mundo é algo que tem grande chance de acontecer agora, na
próxima sexta-feira.
Hoje
é domingo. Se os apocalípticos estiverem certos, não haverá mais sábado. Tampouco
manhã de domingo... Agora são quase duas e meia de uma tarde nublada. Estou
sentado em um banco de cimento, apoiado em uma mesa de igual material,
escrevendo estas palavras da minha última crônica antes do fim... Que trágico!
Os galos e galinhas ao meu lado mal sabem do pouco tempo que temos... Quanto
tempo será que tem a enorme seringueira que se espalha à minha frente? Por quantos
fins de mundo anunciados pelos homens teria passado? Os galos cantam o momento
presente. É uma chamada ao agora, ao que realmente importa. Os pássaros cantam,
o trenzinho passa, carregando adultos e crianças, serpenteando por entre a
majestosa vegetação...
Sentado
no meio de um parque, imerso na natureza e na tranquilidade, realmente não é o
melhor lugar para continuar a escrever esta crônica do fim do mundo. Na verdade,
isto aqui parece mais o começo do mundo... Uma formiga subiu no papel,
espantou-se com a ponta da caneta e seguiu sua caminhada. Uma menina diverte-se
no balanço. O ranger das correntes na viga espalha-se pelo ar, tal qual a
seringueira com seus galhos abraçando o céu. O cheiro
de terra e folhas úmidas, uma criança que passa correndo ao meu lado. Um casal
de terceira idade que para no meio do caminho, frente a frente, para se
abraçarem. E que depois seguem lado a lado, juntinhos no enlace dos braços... Tudo
isto está me desconcentrando do fim do mundo! Ainda mais agora, que o sol
começou a aparecer, e ficou ainda mais bonito!
Sentei
aqui neste banco, com a intenção de fechar o texto com observações inteligentes
sobre o fim do mundo, talvez até brilhantes, para que ficasse pontuado de
maneira a atrair o leitor... Mas eis que toda esta vida que me cerca, muito
mais brilhante que qualquer tirada literária, tomou conta das palavras e acabou
com o meu fim do mundo...
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