Vou lhe contar a minha história. Não espero que
acredite, mas posso lhe garantir que é a mais pura verdade.
Quando completei 54 anos, minha cunhada me
presenteou com um relógio de pulso. Aparentava ser normal, porém estranhei, na
parte de trás, o minúsculo orifício. Não podia ser reset, visto que era
analógico, de ponteiros. Fui em busca do pequeno manual-folheto que veio na
caixa. “Acione para paralisar o tempo”, é o que estava escrito. Como sou muito
curioso, no meio da festa mesmo, fui pegar um palito de dente e acionei o dito
cujo.
Imediatamente tudo paralisou. Todo mundo feito
estátua. A bexiga que meu neto jogava ficou estacionada no ar. Caminhei entre
as pessoas, estarrecido.
Cutuquei outra vez o botão. No mesmo instante
apareci no exato lugar onde estava e tudo voltou ao normal.
Naquela tarde repeti várias vezes a paralisação.
Ninguém percebeu nada. Não adiantava mudar as coisas de lugar. Quando apertava
novamente, tudo voltava como estava antes, inclusive eu.
Como não adiantava tentar contar ou explicar
esta loucura para qualquer pessoa, resolvi então aproveitar a situação.
Paralisava o tempo e... lia livros. Era a única
coisa que podia fazer que não era perdida. Ao voltar, o resto, tudo era
restaurado como estava no exato instante da paralisação, menos minha memória.
Aumentei muito o meu conhecimento e cultura.
Diverti-me muito também...
Até que o relógio foi roubado.
Agora fico pensando que o safado do ladrão anda
paralisando o tempo e ninguém percebe!
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