Se eu fosse escrever sobre este instante,
procuraria um lugar mais tranquilo. Mas este lugar mais tranquilo revelaria
outro instante, bem diferente deste.
O instante já acabou. O instante seguinte
também já acabou. A gente nem percebe um e já vem outro. E nem nota a diferença
entre eles. Acaba ficando tudo igual.
No mesmo lugar e ao mesmo tempo, duas pessoas
vivem momentos diferentes.
Vivemos sempre fora do tempo, perseguindo os
instantes futuros ou nos apegando aos instantes passados... Quero então agora
viver somente o instante presente. Encontrar algo diferente neste
congestionamento. Um sorriso de alguém que passa na calçada me faz lembrar que
as pessoas têm rostos. Começo então a notar a expressão de cada um que passa
pela janela da van que me leva ao serviço.
Agora é outro agora. Este lugar é outro lugar.
Estou em um instante diferente. Estou realmente ou só o meu corpo está?
Se eu digo “meu corpo”, então eu não sou só um
corpo...
Se não há movimento, então não há tempo.
Se não há ponto final, então o texto não acaba
nunca...
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