sábado, 28 de julho de 2018

MEDO

É difícil falar sobre o medo. Tem que ter muita coragem para falar sobre o medo. Tem que ser tudo de uma vez. Escrever de “uma sentada só”, sem levantar da cadeira, sem interrupções. Lá vamos nós!
Todos nós temos os nossos medos, uns mais, outros menos... Há medo de vários tipos. Os intensos e profundos, que nos tragam para uma região desconhecida e que nos jogam no vazio. Já tive um deste tipo. Era criança ainda, uns 9 anos eu acho. Estava na casa de praia, no longo quintal da frente, no escuro da noite, perto do muro que fazia divisa com o vizinho. De repente surgiram questionamentos existenciais, do tipo, quem eu sou, de onde eu vim, para onde eu vou, o que eu estou fazendo aqui... Deixei-me levar por eles... E o medo tomou conta... Para sair deste estado, fui falando para mim mesmo, “Calma, está tudo bem, eu tenho pai, eu tenho mãe...”. A referência e segurança da família arrancou-me daqueles visgos tenebrosos. Era muito novo para mergulhar em questões tão sérias. Acho que não há idade que nos dê o preparo para um mergulho deste tipo. Tanto é que, depois deste incidente, evitei direcionar o pensamento para esta zona perigosa. Hoje, com o arcabouço de ideias, conhecimentos, fé, certezas, crenças, que a gente vai construindo e acumulando, acho que hoje estou um pouco mais protegido deste medo existencial. Mas não me arrisco a novamente mergulhar nas suas entranhas não... Há mergulhos muito mais interessantes para dar!
Há aquele medo que a gente leva a tiracolo, para onde quer que sigamos. Tenho um deste tipo também. É misturado com um monte de outras coisas, mas, nesta sopa de sentimentos, o medo, de vez em quando, se sobressai. Medo de gaguejar. Principalmente em situações envolvendo fila, tempo, telefone... O coração bate mais forte, a insegurança... Como eu disse, é uma porção de coisas, pois a gagueira é um bicho muito complexo, é uma disfunção neurológica mas também tem muitos sentimentos envolvidos, e o medo, no meu caso, está presente no meio disto tudo... Mas esta não é uma crônica de um gago discorrendo sobre sua gagueira. Isto talvez fique para outro texto, outra ocasião. Por hora, fica aqui apenas o registro de mais um medo meu.
Enquanto o escritor aqui vai se abrindo, falando dos seus medos, você, meu caro leitor, do seu lado, deve estar pensando nos seus medos. Ou talvez nem pensando neles, pois são tão medonhos que nem é bom pensar, não é mesmo?
Medo é algo muito particular. Os que coloquei aqui, tenho certeza que para a grande maioria das pessoas não representa absolutamente nada. Não compreendem e nem veem nenhum sentido nestes meus medos. Mas, com certeza, há muito sentido e muito medo dos medos que eles têm, porque realmente acho que ninguém está imune.
É isso aí! Cada macaco no seu galho e cada um com seus medos! E lá vou eu com os meus!

quarta-feira, 4 de julho de 2018

SENTIMENTO

Não dá para definir. Pode se apresentar de infinitas maneiras. Como um camaleão que muda de cor. Mas ele pode mudar muito mais que seu colorido. Altera sua intensidade, seu calor, e até sua direção, pois nos impulsiona para cima ou nos puxa para baixo.
Chega de mansinho ou de repente, como uma explosão. Às vezes fica mais tempo do que desejaríamos. Ou escapa rapidinho antes que percebamos. Voluntarioso.
Pode vir de dentro de nós mesmos, ou vir de fora. É possível transmiti-lo ou recebê-lo. Muitas vezes até contagia.
Envolve as palavras que dizemos, os gestos que fazemos.
Alguns conseguem escondê-lo, mas há outros que, pelo contrário, por mais que tentem, não conseguem ocultá-lo.
Tem hora que ele fica alfinetando dentro da gente. Como uma pedra no sapato, pode parecer pouca coisa, mas atrapalha bastante.
Há momentos em que ele nos massacra, como um rolo compressor ou uma serra elétrica. Dizem que não há muito o que fazer nestas ocasiões, apenas resistir e esperar que ele passe, como algo inevitável, que tem que acontecer, esvaziar, como um furacão que devasta e depois perde a força. Por outro lado, existem pessoas que possuem alguma habilidade especial para combater as suas ações negativas. São capazes de gerar, dentro de si, forças contrárias, positivas, que, de certa forma, anulam as negativas.
Ele é tão variável, tão multifacetado...
Pode surgir sutilmente, quando olhamos a lua gigante, amarelada, erguendo-se no começo da noite. Ou quando o suave calor do sol, ao entardecer, aquece nossa pele. Se recordamos alguém querido, ele aparece. Aparece também com a lembrança de pessoa odiada.
Há quem diga que a fonte, que a origem de todos eles é única, como se eles fossem feitos de uma mesma energia, que se manifesta de múltiplas formas.
Não se consegue viver sem ele. Até mesmo quem o tem em níveis muito baixos, acaba tendo uma vida que não é vida. Mesmo quando nos faz sofrer, é melhor tê-los assim do que não tê-los, pois dizem que ele sempre nos ensina alguma coisa.
Pode ser incompreendido, não aceito, discriminado. Nestes casos machuca ainda mais.
Quando não correspondido, corrói por dentro.
É força viva, que conecta as pessoas. É capaz de unir, de mobilizar multidões.
Assim ele é... Poderia falar sobre ele indefinidamente, pois é imensa a sua riqueza e variedade.
Mas vou ficando por aqui. Sem dizer o seu nome. Porque ele é tão grande que não caberá em nenhum nome.