domingo, 1 de novembro de 2020

MEU NOME É MEDO

Meu nome é medo. Acompanho o ser humano em toda a sua existência. Mas não limito minha presença a esta única espécie. No maravilhoso leque das inúmeras criações da natureza, estendo o meu sufocante abraço sobre muitas variedades de seres vivos.

Mas é com o homo sapiens que a minha relação é muito mais complexa. Só para se ter uma ideia, basta dizer que estes seres têm a capacidade de sentirem medo de sentirem medo. Conseguem ficar em permanente estado de expectativa, aguardando minha aparição. Chamam isto de ansiedade.

E quando apareço, têm as mais variadas reações. É nestas horas que as pessoas se mostram como são. Pode parecer maldade de minha parte, mas acho engraçado quando, na hora-h, o sujeito deixa ruir tudo aquilo que ele pensava que era...

Culpam-me por muitas reações impensadas, feitas em meio ao desespero, mas isto é uma injustiça, pois não sou eu quem as faço. Não tenho culpa se esta classe de ser vivente não consegue comportar-se melhor em minha companhia. Apenas faço o meu trabalho.

Minha função é salvar o homem de muitos apuros. Para não caírem em um poço, não baterem o carro, não apanharem do inimigo e assim por diante. Dão-me até um adjetivo para estas situações, pois dizem que nelas há o tal “medo bom”.

Mas, para os chamados outros tipos de medos, os humanos não gostam de mim, abominam-me. Mal sabem eles que a causa está neles mesmo! É um tanto difícil de explicar... Contudo vou contar o que acontece, talvez assim fique mais claro.

Às vezes cismo de dar uma abraçadinha em alguém, só pra me divertir um pouco. Porém, quando já estou me afastando, o sujeito me atrai, me alimenta, entende? Aí eu volto e aperto um pouco mais o abraço, é assim que funciona. Há aqueles que nem precisam da minha cutucada inicial, vivem a me chamar. É contraditório! Sofrem comigo, mas não me querem longe!

E assim vou vivendo minha vida, tendo como missão principal fazer com que os seres não percam as suas vidas antes do tempo. Sim, porque vocês não têm o privilégio que tenho, pois, afinal, eu sou eterno!