quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

PARALISANDO O TEMPO

Vou lhe contar a minha história. Não espero que acredite, mas posso lhe garantir que é a mais pura verdade.
Quando completei 54 anos, minha cunhada me presenteou com um relógio de pulso. Aparentava ser normal, porém estranhei, na parte de trás, o minúsculo orifício. Não podia ser reset, visto que era analógico, de ponteiros. Fui em busca do pequeno manual-folheto que veio na caixa. “Acione para paralisar o tempo”, é o que estava escrito. Como sou muito curioso, no meio da festa mesmo, fui pegar um palito de dente e acionei o dito cujo.
Imediatamente tudo paralisou. Todo mundo feito estátua. A bexiga que meu neto jogava ficou estacionada no ar. Caminhei entre as pessoas, estarrecido.
Cutuquei outra vez o botão. No mesmo instante apareci no exato lugar onde estava e tudo voltou ao normal.
Naquela tarde repeti várias vezes a paralisação. Ninguém percebeu nada. Não adiantava mudar as coisas de lugar. Quando apertava novamente, tudo voltava como estava antes, inclusive eu.
Como não adiantava tentar contar ou explicar esta loucura para qualquer pessoa, resolvi então aproveitar a situação.
Paralisava o tempo e... lia livros. Era a única coisa que podia fazer que não era perdida. Ao voltar, o resto, tudo era restaurado como estava no exato instante da paralisação, menos minha memória.
Aumentei muito o meu conhecimento e cultura. Diverti-me muito também...
Até que o relógio foi roubado.
Agora fico pensando que o safado do ladrão anda paralisando o tempo e ninguém percebe!