Foi um choque. Quando vi meu pé de mamão tombado
ao chão, esta triste cena me deixou meio desorientado. Logo chamei minha esposa
para mostrar aquela longa vareta estendida sobre a terra. Sim, o pé de mamão,
que deveria ter mais galhos e folhas, resumia-se a um caule que acho que
ultrapassava um metro de altura. Bem no topo deste mini-arranha-céu vegetal
havia umas duas ou três microfolhas. Apesar desta estrutura totalmente atípica,
cultivava eu a esperança de um dia colher formosos mamões em um majestoso pé de
fruta...
A primeira suspeita para explicar o acontecido
foi pensar em um rato, vindo da casa abandonada que faz divisa com o meu
quintal. Ou talvez um gato vindo das vizinhanças. Falei e tentei mostrar para a
minha esposa, no escuro da noite, a borda de um canteiro de terra, que tinha
sido arduamente por mim levantado há quase duas semanas, dizendo que alguém
tinha pisado e deformado a lateral do mesmo. “Eu não pisei no canteiro, eu não
ia pisar...”, argumentava para ela, jogando a culpa do acontecido com o pé de
mamão em um maldoso ou desastrado animal que, além de derrubar minha esperança de
colher mamões, deixou também sua marca neste canteiro.
Ao tentar levantar o pé caído, constatei que ele
não mais se sustentava. Então imaginei um rato roendo o caule. O fato é que não
havia como recuperar a planta. Fui em busca da tesoura de jardineiro e cortei o
caule, uns três ou quatro dedos acima do solo, que foi justamente onde parecia
ter sido comido pelo vândalo roedor. Fiz o corte na diagonal, e o motivo disto era
a insistência da minha esperança, que acreditava que assim, naquela superfície
maior, surgiriam brotos e o pé renasceria, tal qual uma Fênix...
No dia seguinte, minha sogra, que estava de
passagem em casa porque minha esposa a havia levado para fazer um exame, ao
analisar o longo caule cortado, desconfiou da minha tese do rato. Disse que o
pé já não estava bem. Então resolvi inspecionar melhor, agora na luz do dia, o
que restou do querido vegetal, no qual depositava as mais sinceras esperanças
de lindos frutos. Logo verifiquei que ela estava certa. Em determinada região, justamente
onde ele tombou, o caule estava meio ressecado e um tanto afinado. Era uma
doença que não transparecia para quem visse a esbelta planta (bota esbelta
nisso!). Se bem que aí já comecei a relacionar os acontecimentos... Estava
explicada a razão das microfolhas que não se desenvolviam. Com este sério problema
no talo, lá embaixo, os nutrientes mal chegavam no topo da estrutura vegetal.
No próximo fim de semana já procurei
providenciar um sucessor para carregar minhas esperanças. Deixei secar ao sol sementes
de mamão, afofei bem a terra no mesmo local do falecido, e semeei...
Dizia o sujeito do vídeo no YouTube, visto neste
mesmo fim de semana, que mamão frutifica entre cinco a sete meses de idade. Caramba!
Pelos meus cálculos o finado pé contava com quase dois anos de idade e nada...
Muito longe mesmo de qualquer fruto! Vamos ver se este pé que ainda nem nasceu
tem uma sorte diferente. Dizia também o mesmo sujeito do vídeo que é preciso
regar diariamente. Pois bem, estou fazendo e procurarei continuar fazendo a
minha parte com relação às regas. O resto é com a natureza.
Ainda vou comer um doce mamão colhido aqui no quintal de casa!