quarta-feira, 21 de junho de 2023

SOLSTÍCIO DE INVERNO

Hoje, exatamente às 11h58min, ocorreu o solstício de inverno no Hemisfério Sul. Então quer dizer que hoje, para quem está abaixo da linha do equador, foi o dia mais curto do ano. Amanhã o dia será um pouquinho mais longo que hoje, e o próximo mais um pouquinho, e assim por diante, até chegar ao dia 22 de dezembro, às 00h27min, quando ocorrerá o solstício de verão, com o dia mais longo do ano. Sempre me ligo nessas coisas. Gosto desta metade do ano, quando o Sol vai aparecendo cada vez mais, fazendo-se cada vez mais presente, esticando os dias!

Resolvi regar o quintal do fundo de casa agora de noite. Já comecei a tarefa informando às plantas sobre esse tal solstício, dizendo que hoje foi o dia mais curto do ano e que, já amanhã, o dia será um pouquinho mais longo que hoje, e o seguinte um pouquinho mais, e tudo isso que já foi aqui falado. Quis regar hoje para já dar essa boa notícia a elas. Sim, para pegá-las justamente após o pior dia e consolá-las. Digo “pior” porque creio que, para elas, que dependem do Sol, deve ser difícil ver os dias encurtando, um após o outro... Mas agora elas já sabem que, de agora em diante, até perto do Natal, é só melhorar, é só esticar cada vez mais o dia, trazendo mais luz e energia!

Em setembro recomeçarei com a horta. Até lá, recolherei todas as folhas das árvores que caem na parte cimentada e as espalharei pela terra, assim o solo vai ganhar mais fertilidade. A tentativa que fiz de cultivar a horta nesta primeira metade do ano não foi nada bem-sucedida. Além de ter descuidado das regas, acredito que ainda pesou negativamente a sombra de todas as árvores, e também da alta parede do vizinho do lado esquerdo, justamente o lado onde o Sol corre mais baixo no outono e no inverno.

Mas agora o Sol vai jogar a nosso favor!

É gratificante saber que hoje todas as plantas do quintal do fundo de casa estão devidamente hidratadas, bem molhadinhas, já com a boa notícia de que os dias começarão a esticar, pouco a pouco...

Todas as árvores já sabem!

O velho pé de acerola, um dos mais antigos, junto com o de romã. O grandioso pé de goiaba, que quer tomar conta de todo o quintal. Mas o de amora não se dá por vencido, pois na altura compete com a goiabeira, porém perde na extensão da copa. No entanto, o quintal tem um jovem integrante, o abacateiro, que está prometendo que vai crescer muito ainda, a julgar pelo viço dos seus galhos e folhas, bem se vê que nasceu para aparecer com grandiosidade! E não podemos esquecer daquele pé que está sendo a principal atração do momento, ofertando-nos suas deliciosas atemoias! Porém ainda há outros, os menores, mas que não devem ser menosprezados: pitanga, limão e mamão. Finalizando o time das frutas, vem a lichia. Ainda é uma pequena mudinha, nascida da semente que plantei.

Todas as plantas já sabem!

As roseiras, folhagens, erva-cidreira, espada-de-são-jorge, azaleia, arbustos... E as couves-brócolis, azedinhas, pimentões e cebolinhas, que lutam bravamente tentando levantar a bola do sofrido time da horta!

Agora é certeza! A cada dia, um pouquinho mais de dia! É o movimento de translação da Terra que garante, como um relógio, preciso, na dança dos astros...

E, por falar em astros, assim que acabei a “regada do solstício”, olhei para o alto e notei que, surpreendentemente para um morador da Grande São Paulo, muitas estrelas estavam visíveis! Fiquei observando, observando... E a mente divagando... Até que pensei: será que tem alguma horta ou quintal assim em algum planeta por aí?

sexta-feira, 9 de junho de 2023

O BANQUEIRO E O PASTELEIRO

Um dia desses meu futuro genro me disse que o banco onde trabalha demitiu 60 funcionários da área de marketing. "Tá cortando da própria carne", foi com esta expressão que descreveu a gravidade da situação. Recebi esta notícia com indignação. "Mas como pode? Banco tá sempre lucrando bem!", foi o que disse na hora. Aí ele completou falando que o aumento do lucro não foi o esperado. Então eu continuei manifestando minha aversão a esta postura do setor bancário. "O que eles estão querendo? Se em um ano lucrou 20%, depois, no ano seguinte, quer lucrar mais? E depois mais, sempre mais? A coisa não pode ser assim! A economia tem um limite! Tem um teto!". Gesticulava, fazendo com a mão esquerda o tal teto, e a direita batendo neste limite. E o pensamento, revoltado, girava, e nem sei o quanto disse ou o quanto pensei de elementos do tipo: "Ganância! Exploração! Só eles querem lucrar assim? A economia não aguenta!".

Bom, vamos segurar esta primeira situação que vivi, porque, poucos dias depois, tive uma outra conversa, que serviu como perfeito contraponto. Mas antes é preciso contextualizar. Estava voltando a pé para casa e, ao me aproximar do viaduto em obras e ver os tapumes cobrindo quase toda a parte da passagem dos pedestres, pensei: "Será que o Manoel perdeu o ponto mesmo? Talvez a prefeitura o tenha mandado para outro lugar de São Caetano... Ou suspenderam a licença e ele está tirando uma folga...". Porém, logo após passar por baixo do viaduto, eis que vejo, do lado esquerdo, a Kombi dele, com várias abelhas em volta, atraídas pelo doce do caldo de cana. Percebo que está nas arrumações finais.

– E aí Manoel! Então você conseguiu continuar com o seu ponto aqui? Eu até pensei que, com toda essa obra do viaduto, cê tinha perdido...

E o papo continua, com comentários sobre o seu novo local de venda de pastéis, poucos metros distante de onde estava, afastando-se somente o suficiente para fugir da área em obras, porém mantendo-se ainda em região de passagem de grande fluxo de pessoas, perto da entrada do hipermercado e do ponto de ônibus. Ressalto estes pontos positivos e ele fala que lhe perguntaram de qual lado do viaduto queria ficar. Explica então que decidiu por este lado porque do outro poderia haver complicações envolvendo uma casa nas proximidades ou, em outras palavras, as abelhas poderiam causar transtornos àqueles moradores... Pois bem, este é o contexto que precisava colocar antes de partir para o que o Manoel me contou, em determinado ponto da conversa, e que caiu como uma luva, no sentido de fazer um perfeito contraste com o pensamento dos banqueiros. Veja se eu não tenho razão. Disse-me ele:

– Outro dia uma senhora veio falando comigo, ela quase nunca tinha passado por aqui. Então ela pediu um pastel e eu disse que tinha acabado. Aí a véia já foi reclamando que eu tinha que trazer mais pastéis, que eu não podia parar naquela hora e isso e aquilo. Então eu respondi que tenho uma meta, vendendo um tanto por dia, pra mim tá bom. Disse que não adianta eu já ir trazendo mais pastéis no dia seguinte, porque a coisa não funciona assim, tem dia que vende mais, mas tem dia que vende menos, e eu não quero voltar com massa pra casa. Mas ela foi insistindo, dizendo que se abrir uma outra banca aqui do lado aí é que eu ia ver, e tudo mais... Aí eu falei: “quero ver se ele vai colocar o pastel a cinco reais como eu e, se colocar, faço por quatro, e quero ver qualidade do dele...”. Então, como ela não parava, acabei falando assim: “Olha, minha senhora, quer saber de uma coisa? Por que eu faço assim? É porque eu não tenho ganância! Chegando na minha meta do dia, pra mim está bom, entendeu?”. Aí ela foi saindo, com um bico na cara e resmungando alguma coisa...

Desnecessário comentar, tampouco colocar uma moral nesta história. Esta parte pode, caso se queira, ficar a cargo de quem lê. De minha parte, só me resta colocar um título neste texto, que ainda não foi rotulado com nenhum nome. Acho que este cai bem: “O banqueiro e o pasteleiro”.