sábado, 24 de novembro de 2012

MEU MODO DE VER O MUNDO – PARTE 3


Algo me chama a atenção e olho para o alto. Vejo um beija-flor, aflito, voando de um lado para outro, tentando escapar por uma das janelas lacradas com vidro transparente. Penso: poxa, por que ele não passa por baixo?
Tenho que explicar o cenário para o leitor. Vamos lá! Está preparado? Imagine um estacionamento coberto. Ótimo. Agora amplie o pé direito. Não tem nada a ver com o seu pé ou quanto você calça. Refiro-me ao termo “pé direito”, comum em engenharia civil ou arquitetura. Entendido? Então, o vão entre o piso e a laje superior tem bem uns oito metros ou até mais... Em dois dos lados não há paredes, e é justamente por aí que o tal do beija-flor pode escapar. Um espaço livre, com os seus cinco metros de altura, acima do qual começam as paredes nas quais estão as já citadas janelas, mostrando retângulos de céu azul.
Descrito o cenário, agora você pode então compartilhar da angústia retratada neste terrível problema vivido pelo nosso belo e rápido espécime de pássaro. Fica ele lá no alto, fascinado pelos retângulos azuis. Para na frente de um, de outro, de um, de outro... Mantém-se a uma distância de uns dois ou três metros do vidro. Não avança. De alguma maneira sabe que não dá para passar.
Tento uma comunicação impossível. Falo em volume baixo, mas mesmo assim sinto-me um pouco envergonhado, pois desconfio que sou ouvido por alguém que passa ao meu lado. “Abaixa amiguinho, abaixa!”, é o que digo. Falar sozinho não é conveniente. Tampouco conversar com pássaros em lugares públicos. Mas isso não importa. Estamos diante de um grave problema de um pequeno ser que se sente preso sem estar preso. Ele não sabe como sair, não consegue ver. Pousa em um cano que passa lá no alto, perto do teto...
Para nós, que estamos olhando de outro ângulo, é tão óbvio. É só voar mais baixo, para então vislumbrar todo o espaço aberto por onde se pode escapar. Porém, a atração das janelas azuis é forte. Como uma lâmpada para uma mariposa. Luz, céu azul, liberdade. Mas tem a questão das limitações. O beija-flor nem sequer se lembra de que abaixo das janelas há um grande vão, pois certamente por aí passou, antes de encurralar-se. Falta-lhe memória. Sobra-lhe o anseio por liberdade. Por isso não consegue distanciar-se das janelas que lhe mostram o maravilhoso céu azul, seu tão adorado campo de voo.
Afasto-me da cena. Não se tem tempo para libertar um beija-flor... Mas minha mente e meu espírito lá ficaram...
Imaginei um desfecho para o fim deste drama. O pobre pássaro, exausto de tanto voar, vai ao chão. E lá embaixo movimenta-se, débil, no perigo dos carros que manobram ao seu lado. Para então olhar para o alto e ver todo o espaço livre à sua frente. Está livre!
Já que não sei o fim real deste fato verídico, imagine você o seu fim. Alegre ou triste. Maravilhoso ou trágico. Fantástico ou banal. E pode também elaborar mil analogias, comparando a situação vivida pelo beija-flor com nossas vidas. Crie uma moral da estória... E busque a sua janela azul...

terça-feira, 20 de novembro de 2012

MEU MODO DE VER O MUNDO – PARTE 1

As coisas do mundo estão aí para todo mundo ver. Ver com os olhos, com as mãos, com a imaginação... Através da audição, do olfato, do paladar. Usando os cinco sentidos, o sexto, ou qualquer outro que consigamos alcançar. O mundo é o mesmo para todos, mas cada um o cria a seu modo.
Ando reparando que às vezes me detenho sobre coisas tão aparentemente insignificantes, e que as percebo de uma maneira tão peculiar, que achei por bem começar a registrar este meu modo de ver o mundo. Esta é a primeira parte, de um total de sei lá quantas partes vão ter. É assim como a vida, que começa e a gente não sabe quando vai acabar.
Não vá pensando, caro leitor, que esta série tem algum objetivo ou enredo qualquer. Esta não é a minha intenção. Quero apenas mostrar certos ângulos da vida, como percebo a realidade ou a irrealidade, só isso. Não quero mudar suas opiniões. Não quero prendê-lo a esta leitura. Você é livre, leitor. Fique à vontade para parar de ler, agora, sem ao menos terminar a parte 1. Eu não ligo. Mesmo porque, nem sei quem você é. É a vantagem da impessoalidade. Inclusive até, pode ser que você esteja no futuro, lendo as palavras de um escritor que não existe mais...
Mas se você continuar, meu caro ou cara leitora, não lhe prometo nada. Apenas lhe digo, vem comigo, e vamos ver no que vai dar.

MEU MODO DE VER O MUNDO – PARTE 2


Um bem-te-vi pousa em um frágil galho de uma grande árvore ao meu lado. Instantes depois, o galho quebra, pegando o pássaro de surpresa. Por alguns décimos de segundo, ele cai junto com o galho. É o tempo do seu reflexo, até que a informação lhe chegue ao cérebro de ave e que este ordene às asas para que entrem em ação. Ele então sai voando, como quem diz “Cair não me pertence”.
Agora, um sabiá insiste em cutucar algo perto do canteiro de arbustos. Parece uma migalha de pão. Para, olha ao redor, vigia. O que está bicando lhe parece ser algo importante, não quer ver ninguém por perto. Tanto é que pega a sua preciosidade com o bico e alça voo para longe do meu olhar curioso.
Cantos de pássaros, folhas sacudidas pelo vento, silêncio, harmonia e natureza... Os galhos do coqueiro estão dançando. A luz do sol, filtrada pelo céu nublado, produz um impressionante contraste por entre os mais variados matizes de verde. Leonardo da Vinci aconselhava os pintores a saírem em busca de cenas e cores justamente em dias assim, quando as tonalidades ficam mais distintas...
Natureza é arte. É por isto que uma das vertentes da arte é imitar a natureza. O ser humano, em sua brincadeira de ser divindade, criou a arte para tentar copiar as expressões de criação que lhe cercam. E quando conseguem atingir os mais elevados graus de realização, sentem-se pequenos deuses. A pintura que abraça, a escultura que oprime, a música que eleva ou transtorna. Tudo é arte. A arte do belo e do feio, do êxtase ao medonho...
Eu, sentado no banco do meu carro. Cercado pela natureza contagiante. Esperando minha filha que, juntamente com muitos outros jovens, luta por uma das 30 vagas ao curso de Artes Visuais... Arte lá dentro, em cada uma das salas onde é aplicada a prova de aptidão. Criações borbulhando de cada mente jovem e entusiasmada. Arte aqui fora, com a natureza, toda convencida, esbanjando sua perfeição...
Lembro-me agora da última coisa que lhe disse quando estava para entrar na prova: “Seja feliz!”. Arte é sentimento. Arte é expressão. Arte é felicidade.