domingo, 18 de fevereiro de 2018

AMIGA E COMPANHEIRA SERINGUEIRA




A força da natureza é impressionante. De um imenso tronco cortado rente ao chão, antiga base de gigantesca seringueira, surgem folhas verdes. É a vida resistindo à brutalidade de um corte assassino. Não há dúvida. São folhas de seringueira, pujantes, viçosas, provavelmente saindo de algo que pretende ser um futuro galho, talvez um novo tronco, se deixarem a natureza em paz... Umas dez ou quinze folhas, tentativa heroica e corajosa para dar continuidade ao mesmo material genético que se pensava estar extinto.
Não resisti. Tirei uma foto. Saquei o celular do bolso e registrei a cena, que certamente passava despercebida pela imensa maioria de todos aqueles que circulavam apressados ao saírem ou entrarem na estação de trem de São Caetano do Sul. Era o final do dia e os últimos raios de sol incidiam quase que paralelamente, tornando o quadro ainda mais bonito.
E agora, ao ver a foto, não me canso de admirá-la. Vejo muitos significados nesta imagem... Penso que daqui para frente, ao entrar ou sair da estação, em minha rotina diária de ir e voltar do serviço, sempre procurarei este aglomerado de folhas. Torcerei por elas. Para que continuem com a sua valentia. Para que ninguém interfira em sua luta. Para que passem desapercebidas por aqueles que mandaram cortar as gigantes árvores.
Até entendo que deve ter havido uma motivação “justa” para a supressão tão radical daqueles majestosos espécimes vegetais (ressalto as aspas colocadas na palavra justa, como indicativo de ironia e por não acreditar na justiça da atitude tomada). Isto porque talvez as grossas e potentes raízes estivessem afetando a estabilidade dos trilhos do trem, afinal sabemos que este tipo de raiz facilmente levanta calçadas e abala as estruturas das construções que se encontram nas redondezas. Porém não posso deixar de questionar se acabar com as seringueiras foi a saída mais justa. Será que não poderia ser feita algum tipo de barreira, por meio de estudos especializados de engenheiros civis e agrônomos trabalhando em conjunto, quem sabe com a utilização de grandes chapas metálicas enterradas verticalmente no solo?
Mas agora então, após o massacre vegetal, as poderosas raízes não mais empurrarão os trilhos, deixando-os em paz. Então que deixem em paz também este milagroso renascimento, pois que ele decerto não causará prejuízo algum às estruturas do local (pelo menos por enquanto e por um bom tempo, acredito eu...).
Neste embate de forças entre a civilização e a vida, torcerei pela vida. Não significa que eu seja contrário ao progresso. Isto porque acredito ser sempre possível civilizar e progredir sem agredir o meio ambiente.
Então que este renascimento possa continuar... Pois ele representa muitas coisas... Que eu possa ver o seu progresso no meu dia-a-dia. A vida lutando para viver, enquanto nós também vamos lutando... Com todos os cortes que também levamos... Alguns nos galhos mais grossos, ou mesmo até no tronco, rente ao chão, como este... Mas vamos lá, amiga e companheira seringueira! Vamos vencer esta batalha!