sábado, 26 de outubro de 2019

BARCO + MAVERICK = AQUARICK

Abro o portão. Entro. Caminho pelo quintal lateral. Do meu lado esquerdo, o canteiro gramado. Folhagens e folhas, todas bem cuidadas. À frente vejo-os sentados, na lavanderia, tomando o sol da manhã.
Papai, com 95. Mamãe, 92. Uma parte da Dona Rosália já está no “outro lado”. É assim mesmo. O Alzheimer vai levando aos poucos. Já com seu Francisco, sua mente está bem mais preservada que a da esposa, se bem que ele já esqueceu uma porção de coisas...
Resolvo testar:
– Pai, o senhor lembra do Aquarick?
Depois de repetir várias vezes a pergunta, para driblar a surdez trazida pela idade, acabo constatando que esta é mais uma lembrança perdida... E olha que procuro outras referências:
– Aquele barco que o senhor inventou? Que foi feito sobre o chassi de um Maverick, com tambores para flutuação? Um anfíbio, que andava na água e na terra, para resgatar as vítimas da enchente? Lembra que o senhor fez um teste na represa?
Nada.
É um tanto frustrante... Ele, que inventou tantas coisas na vida, de vez em quando se perde na própria casa, não encontra o banheiro, o quarto...
Baixo os olhos. Ao levantá-los, miro o rosto de minha mãe. Está tranquila. Sorrio para ela. E ela me retribui com um lindo sorriso, que faz tudo ter sentido. Mesmo que ela não se lembre mais de mim. Mesmo que o meu pai não se lembre mais do Aquarick e nem de todas as suas outras maravilhosas invenções...

sábado, 12 de outubro de 2019

MEU MAIOR DESEJO

Ansiedade. Não vejo a hora de saber o tema do novo desafio de microcontos. Chego no serviço e, no computador, já abro uma aba na página do SWEEK. Nada. Deixo a aba aberta e, de vez em quando, vou lá e dou uma atualizada. O nada continua. E o trabalho se arrasta, mergulhado na expectativa.
Até que uma atualizada revela o novo post. “7 minutos”, é o tempo da publicação. “Saiu agora pouco!”, exclamo em pensamento. Pronto, já tenho o tema!
Desejo.
Volto ao serviço, mas não por muito tempo, pois tenho que interromper novamente. Número 2. Desculpe-me, leitor, por entrar em assuntos de excreção. Mas, pensando bem, não há mal nenhum nisto. Afinal, pertence à nossa natureza.
Sentado no trono.
“Desejo... Que história posso escrever com este tema?”.
Alguns segundos se passam. Força abdominal.
“Um sujeito que pode realizar todos os seus desejos, magicamente...”.
Dou aquela olhada básica: a obra está feita, boiando.
“Nada disso! Plágio daquele filme... O Todo Poderoso.”.
Descarga. Aproveito o momento para buscar alguma inspiração.
“Lâmpada mágica. Três desejos... Último desejo: quero ter infinitos desejos atendidos... O cara derruba o limite do gênio...”.
Papel higiênico, corto, dobro, começo a limpar.
“Não, desejos sem fim é muito... Nem sei como acabar essa coisa...”.
Uma ideia, desisto da ideia, uma limpada naquele lugar, e assim por diante...
Até que o papel acaba. Mas ainda falta limpar bastante! E agora?
De repente, todas as ideias e desejos ficam pequenos diante do meu maior desejo neste momento: papel higiênico!