quinta-feira, 30 de dezembro de 2021

NARRATIVAS

De vez em quando certas palavras ficam na moda. Agora é a vez da “narrativa”. Tudo é narrativa. Quando o sujeito não concorda com o que o outro fala, diz que está sendo vítima de determinada narrativa. E parece que não concordar é o lema da atualidade. Mas a coisa está tomando dimensões enormes e saindo fora do controle...

Um aluno do ensino fundamental, naquele período da pré-adolescência, questiona a explicação da professora de ciências, alegando que essa história de dizer que a Terra é redonda, não passa de uma narrativa tendenciosa, de quem quer impor o seu modo de pensar sobre os outros. Sim, porque ele não acredita nisso e tem todo o direito de crer que a Terra é plana!

Outra narrativa bastante contestada atualmente é aquela que apoia a vacinação em massa como o principal meio de combater a pandemia que estamos atravessando. Aliás, muitos acreditam que a própria pandemia é uma narrativa.

É neste ponto que eu fico a pensar que tudo aquilo que é contrário ao que o indivíduo pensa é classificado de duas maneiras. É rotulado de fake news ou, caso seja algo maior, envolvendo um contexto mais elaborado, ganha a segunda denominação possível: narrativa.

A internet e as redes sociais criaram inúmeras bolhas de pensamento e, infelizmente, algumas destas bolhas rebatem tudo aquilo que contesta as suas ideias e certezas dentro deste raciocínio irracional, rotulando tudo como fake news ou narrativa.

Nada escapa. Ciência, medicina, história, todo o conhecimento humano deve se curvar perante a ignorância.

É o triunfo da bestialidade sobre a civilização!

Mas, sob certo ponto de vista, eles estão certos. É tudo uma grande narrativa. Vivemos uma enorme narrativa de terror mesmo!

sábado, 27 de novembro de 2021

É TEMPO DE NATAL, E DE OUTRAS COISAS TAMBÉM...

Na minha caminhada, após mais um dia de home office, vejo luzes e enfeites, lembretes de que é tempo de Natal...

 Poxa, o tempo está meio estranho...

 Não é o tempo climático, mas sim o temporal. Digo, não o temporal climático, mas sim o que tem a ver com o passar do tempo. Acho que agora ficou menos confuso. As palavras nos dão nós e brincam com a gente. Nós que nos atam, deu pra perceber que um acento muda tudo? Não o com dois "s", pois este não muda nada, muito pelo contrário, serve só para acomodar os nossos glúteos, deixando tudo como está...

 Mas eu dizia que o tempo está estranho. Verdade verdadeira. Porém esta expressão também é estranha: verdade verdadeira. Pois se é realmente verdade, desnecessário dizer que é verdadeira. No entanto vivemos tempos das mentiras verdadeiras, as chamadas “fake news”. Tempos estranhos...

 E a gente estranha todas as coisas que parecem que estão fora do tempo certo. Por exemplo, neste ano que passou, tanto se falou em eleição, mas não foi ano eleitoral. Tá tudo muito insanamente adiantado. Aliás, o sujeito, desde que entrou, só está pensando na próxima eleição. Tempos estranhos...

 E a gente não sabe se a pandemia começou neste ano ou no passado. Tudo tão rápido, tudo tão igual. E o tal do vírus foi batizado com o ano retrasado: 19. Covid-19. Já não sei mais nada. Só sei que vivemos tempos estranhos...

 Mais que estranhos, tempos de ódio, preconceito e perseguição. As ideias são perseguidas, as palavras são atacadas por outras palavras. Escrever e pensar virou um jogo perigoso. E a gente se pergunta: quanto tempo isto vai durar?

 Mas é tempo de inaugurar um novo tempo nestes tempos. O negacionismo não sufoca a Arte. Há luz no fim do túnel!

 Se não há túnel, o artista o faz, abrindo um caminho para escapar deste inferno. E se não há luz no fim dele, a Arte iluminará.

 No ventre de todos estes tempos sombrios, um novo tempo está sendo gerado. Impossível conter.

 Mais do que tempo de Natal, é tempo de outros tempos...

sábado, 30 de outubro de 2021

MILIONÁRIOS

O assunto é o quanto a gente ganhava antigamente. Então eu, para ilustrar a conversa, vou em busca do pacote onde guardo todos os meus holerites. De volta à sala, exibo o calhamaço de papéis e digo: "Olha o tanto de holerite que eu tenho! E ainda faltam quatro anos para eu me aposentar!".

O "genrão" faz uma conta rápida e rebate: "Sogrão, mais 48 desses e você já se aposenta!".

Sento e começo minha procura pelos pagamentos da época em que trabalhava como programador de computador no CREA-SP (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Estado de São Paulo). Sei que são deste tempo os valores mais expressivos. Mês a mês vou comparando as quantias. Até que chego na maior, logo antes de um corte de três zeros.

Encho o peito para dizer a estupenda cifra que consta no campo "Salário Base": 39.263.301,00. Mais de 39 milhões! Sei lá que moeda é essa!

Os mais velhos, eu e minha esposa, comentamos sobre coisas que os mais jovens, nossa filha e seu namorado, nunca viram... Os preços só valiam para a semana. Na seguinte já aumentavam. Geralmente se ouvia: "Na segunda-feira vai aumentar!". Além de ser uma verdade, era uma maneira de assegurar a venda.

Eu com os holerites e ela com a carteira de trabalho. Lembranças do passado. Constato que foi justamente neste mês do recorde numérico em meu salário base que casamos. Ela, compradora internacional, ganhava mais do que eu. Se eu já contava com algumas dezenas de milhões, imagine a renda conjunta dos noivos! Casamento milionário!

Como resultado dessas recordações, volto ao presente com uma afirmação sobre o meu futuro: "Eu ainda voltarei a ganhar isso!".

E, logo em seguida, arremato: "Não pelo meu mérito, mas sim por esse nosso governinho desgraçado de ruim, que está se empenhando em fazer com que isso aconteça!".

Hiperinflação, eu já te conheço!

terça-feira, 5 de outubro de 2021

DOR

Momento: eu voltando com o carro da minha filha, após ter feito a revisão na concessionária.

Momento mais específico: farol fechado à frente, carros parados, eu paro também, um jovem magro e alto andando entre os veículos, mostrando um papelão menor que uma folha sulfite.

Duas palavras escritas no papelão: fome dói.

Minha atitude: procuro a bolsa, já preparada para estas frequentes ocasiões, pego um achocolatado e um pacotinho de bolacha, ofereço.

Reação do rapaz: recebe minha pequena doação e, com um sorriso no rosto, agradece.

Meus pensamentos após este acontecimento: atualmente, muita coisa, infelizmente, dói...

Miséria dói.

Desemprego dói.

Inflação dói.

Pandemia dói.

Negacionismo dói.

Corrupção dói.

Desmatamento dói.

Violência dói.

Injustiça dói.

Preconceito dói.

Ignorância dói.

Desprezo dói.

Racismo dói.

Autoritarismo dói.

Petulância dói.

E a maior dor é não saber por quanto tempo isso tudo vai doer.

domingo, 29 de agosto de 2021

SEM RESPIRAR

Faz muito tempo. Aconteceu em alguma noite no começo da década de 90, quando era praticante de tai chi chuan. Primeiro o mestre falou para respirarmos muito rapidamente. E assim ficamos, por um bom tempo, neste processo de hiperoxigenação. Até que ele disse para inspirarmos profunda e lentamente, e então segurarmos a respiração. Prosseguiu dizendo que era para nós imaginarmos que estávamos fazendo a respiração fetal, sem necessidade de ar, mentalizando um fluxo subindo e descendo, entre dois pontos, não me lembro exatamente quais, só sei que eram na parte inferior do tronco.

Fiquei envolvido por esta experiência. Fui fundo, acreditei na tal respiração fetal. Sentia que despertava algo que, de alguma maneira, nutria-me e suplantava a necessidade de usar os pulmões. É lógico que, nos minutos anteriores, saturei-me de oxigênio, o que tornou mais fácil a tarefa de prender o ar.

Os segundos foram passando e eu mantinha a concentração no fluxo imaginário que subia e descia. Não, não era imaginário! Estranha e incrivelmente percebia que este processo estava me levando a uma marca nunca antes alcançada. Sem necessidade de voltar a usar os pulmões, relaxado, o tempo avançava e eu, com certeza, havia entrado em um estado diferente de tudo que vivi até aquele momento, ou depois.

“O mestre ainda não falou para soltarmos o ar e voltarmos a respirar. Mas já passou muito tempo!”. O intelecto brigava contra o inacreditável fato de o meu corpo haver aposentado os pulmões. O cérebro não entendia o que estava acontecendo. Mas eu continuava no sobe e desce do fluxo e, por incrível que pareça, não sentia necessidade de respirar.

Não sei definir quanto tempo assim fiquei. Só sei que foi muito. E que voltei a respirar mais por uma necessidade intelectual do que por uma real necessidade de ar, dando a impressão de que poderia ficar naquele estado indefinidamente. Muito estranho. Não ouvi o mestre dizer para soltarmos o ar ou voltarmos a respirar. Acho que ele queria que cada um chegasse ao seu limite ou descobrisse novas fronteiras. Ou simplesmente esqueceu de dar o comando para que voltássemos a usar os pulmões, e cada um foi voltando quando quis, ao seu tempo.

Esta experiência foi muito marcante. E agora, umas três décadas após o ocorrido, percorri a internet em busca de alguma explicação fisiológica. O que consegui encontrar de nada ajudou, pois a única coisa que ficou clara foi a grande diferença entre o mecanismo de oxigenação do sangue antes e depois do nascimento. Dentro do útero, nada de subir e descer na região mentalizada na aula de tai chi. Sem cordão umbilical e placenta, não há como retroceder à “respiração” fetal para suprir o não uso dos pulmões.

Porém seria interessante que a ciência se debruçasse sobre estas coisas estranhas. Afinal, acho que não sou o único que viveu ou viu por perto algo inexplicável, não é mesmo?

quinta-feira, 22 de julho de 2021

MANUAL DO PÉSSIMO LÍDER – OS 10 MANDAMENTOS

I – Não se choque com o título deste manual. Não dê importância para o adjetivo “péssimo”. Isto não é relevante, pois o que conta mesmo é liderar, ter muitas e muitas pessoas sob o seu domínio absoluto! Multidões na palma da mão!

II – Primeiramente você precisa saber quem vai liderar. Qual parcela do povo dominará. Aconselho que seja aquela parte mais ignorante, bestializada, rude e preconceituosa. E porque não dizer, idiota. Concentre seus esforços nesta parcela da população.

III – É preciso construir uma imagem. A imagem do líder. A que tem apresentado os melhores resultados é a do “idiota negacionista”.

IV – Mesmo que você tenha certo grau de inteligência, terá que manter a personalidade de idiota, fazendo loucuras. É uma vantagem ser líder deste jeito, porque assim vai se comunicar diretamente com aqueles idiotas que lhe seguem, uma massa de povo acéfala, com a garantia de que nunca questionarão os seus atos.

V – Não se preocupe, idiotas sempre existem, em qualquer lugar. Infelizmente sempre existem. Ou felizmente porque, para um péssimo líder, é a massa de manobra perfeita. E como se aumenta este contingente de pessoas? É instigando preconceito, ódio, guerra, superioridade de uns sobre outros, desunião... Isto tudo, se você incentivar, insuflará toda essa massa idiota, raivosa e preconceituosa que estará sempre ao seu lado. Isto é maravilhoso! Isto funciona!

VI – Se você tem inteligência e algum bom senso, faça de conta que não tem, porque para liderar os idiotas tem que ser idiota. Tem que ser negacionista, falar atrocidades, incentivar o ódio, isto tudo tem que ser feito. Critique a inteligência, desafie os inteligentes, porque é um perigo tê-la na sociedade, pois pode destruir o reinado do péssimo líder.

VII – Ao liderar boas pessoas, íntegras, que cultivam a democracia, educação e respeito, elas vão questionar os seus atos. Qualquer erro será questionado. A garantia está em liderar os idiotas, raivosos e preconceituosos. São muito mais fiéis. É só estimular todo o ódio que eles têm no coração, o preconceito, e destruir tudo que estiver à sua frente. Faça um governo destruidor, porque é muito mais fácil destruir do que construir. Culpe os governos anteriores. Sempre fale que está destruindo, derrubando para construir algo melhor. Mas não precisa construir nada! É só derrubar, destruir, e insuflar a massa que lhe sustenta com ódio e preconceito.

VIII – Escolha o momento certo para assumir a liderança. Os países, as nações, podem passar por períodos em que a política é desacreditada, ou até demonizada. Estas são excelentes oportunidades. Geralmente depois de um golpe, da derrubada de um governo... E nem se preocupe em derrubar, pois muitas vezes, quem derruba o governo limpa o caminho para você! O péssimo líder!

IX – Enquanto o momento certo não aparecer, forme o seu povo, nutra-o com muito ódio e preconceito. Tenha sempre um inimigo à frente. Direcione-os no combate ao inimigo. Quanto mais inimigos melhor! E não se esqueça de armá-los, pois eles lutarão por você no caso de as instituições ou a democracia conseguirem derrubá-lo.

X – Fique atento aos interesses das classes sociais dentro dos jogos de poder. Você pode ser útil para derrubar algum inimigo em comum. Pensarão que você está com eles e você fingirá estar. Eles lhe ajudarão a subir ao poder. Mas depois que conseguir, faça o possível para instaurar uma ditadura. É mais seguro, pois ajudará a conter aqueles que não estão sintonizados com sua liderança.

(...)

Se você chegou até aqui, devo lhe confessar algo. Senti-me um tanto mal em escrever coisas tão pesadas... Mas, na verdade, este não é um manual do péssimo líder, mas sim do bom cidadão, para evitar que caiamos nas mãos de terríveis lideranças que insistem em aparecer na história da humanidade.

sábado, 19 de junho de 2021

EU ACREDITO NA VACINA! E NA CIÊNCIA TAMBÉM!!!

Não dá para passar por um momento desses sem escrever. O mundo está atravessando uma fase muito difícil. E aqui no Brasil, infelizmente, as coisas estão ainda piores.

Nunca pensei que seria necessário afirmar que vacina funciona e que salva vidas. Mas há pessoas que não acreditam. Isto é triste, principalmente em meio à pandemia que vivemos.

Nos últimos dias, consultei muitas vezes o site do município onde é possível agendar a vacinação. Sempre de olho. E hoje consegui agendar para hoje mesmo a minha primeira dose, que já foi injetada para dentro do meu músculo.

Agora, enquanto escrevo, meu organismo está lidando com a vacina. Se a gente parar para pensar, é maravilhoso! Uma defesa específica será criada pelo meu mecanismo imunológico, que trabalhará silenciosamente para me proteger.

Sinto-me na obrigação de dizer que mesmo após a vacinação não se deve relaxar com as medidas ditadas pelos especialistas e que todos nós sabemos quais são: distanciamento social, uso de máscara e higiene das mãos. É o que fiz, faço, e farei. Uma trilogia que, nas dimensões continentais do nosso país, salva centenas de milhares de vidas.

Gostaria também de agradecer àqueles que se desdobraram para tornar viável, em tempo recorde, várias vacinas contra o Covid-19. É extremamente louvável e enobrecedor o trabalho de cientistas e pesquisadores, que se debruçam sobre doenças e pandemias e nos oferecem os milagres da ciência!

E automaticamente acabo pensando no contraponto. Enquanto alguns nos oferecem a salvação, outros nos oferecem a desinformação e a mentira. Enquanto especialistas, íntegros e alinhados com o conhecimento científico, procuram orientar a população neste momento tão difícil, um certo indivíduo não se cansa de propagar asneiras...

Mas tudo bem! Hoje é um dia feliz. Estou vacinado! Não quero pensar em coisas negativas. Só quero dizer que acredito na vacina, acredito na ciência, e acredito também em um futuro melhor para o nosso país. Chegará o dia em que os negacionistas, os preconceituosos, os que lutam contra inimigos invisíveis, todos eles se recolherão diante de um mundo mais justo, igualitário e, principalmente, humano. Acredito neste dia! Não, isto não é um delírio de febre, reação da vacina, não! Não é nada disso! Afinal, sinto-me perfeitamente bem! Olha só: ainda nem virei um jacaré!

segunda-feira, 17 de maio de 2021

ESTE TEXTO ACABA AQUI

Este texto acaba aqui. Não adianta escrever mais do que o extremamente pouco. Ninguém lê. O mundo está sendo dominado pelas imagens. Todo texto que tiver mais que cinco linhas está fadado ao abandono. É por isto que não pretendo chegar ao segundo parágrafo.

Leitor, o que você está fazendo aqui? É teimoso ou curioso? Os dois? É outra coisa? Não importa. Mas já vou lhe alertando que não adianta esperar algo deste texto. Ele não tem nada a oferecer. Já devia ter acabado. Onde já se viu? Presunção minha! Pensar que seria capaz de roubar a atenção dos memes, emojis, vídeos de poucos segundos, etc. É por isto que desta vez tenho que encerrar de vez, sem misericórdia nem fecho final.

Outra vez nos encontramos, leitor. Quem diria? Terceiro parágrafo! Mas há uma explicação para isto. Naturalmente, você não deve ter perdido mais que poucas dezenas de segundos na leitura até aqui. Quase certeza, menos de um minuto. Ainda está dentro da faixa de tempo que consegue espaço dentro de uma sociedade cada vez mais apressada e ansiosa. Para passar deste tempo, o texto deverá enfrentar as terríveis perguntas: “Para que serve?”, “O que eu vou ganhar?” e “Onde é que vai dar?”. Bom, para economizar o seu tempo e assim poder utilizá-lo para ver mais memes, vídeos curtos e coisas do tipo, vamos às respostas. Este texto não serve pra nada, não vai dar em lugar algum e você não vai ganhar nada lendo. Então, já que eu, como se diz na gíria, cortei o barato, quase que lhe obrigando, leitor, a interromper a leitura, nada mais me resta além de dizer: este texto acaba aqui.

Olá! Ainda tem alguém aí do outro lado, lendo? Você gosta de ler, hein? E eu, de escrever, me comunicar. Mas talvez esteja na hora de eu mudar de ramo, fazer alguns memes, vídeos curtos... É muito estranho... A palavra escrita pode transportar o leitor para uma infinidade de mundos, no entanto, aqui do meu lado, tenho a sensação de estar falando no deserto. O deserto das palavras massacradas pelas imagens.

Este texto acaba aqui.

domingo, 25 de abril de 2021

SER POSITIVISTA É...

Acreditar na ciência. Ela existe para nos ajudar. Na saúde, na tecnologia e em muitas outras áreas.

Acreditar nas vacinas e querer que tudo volte ao que era antes, quando ninguém sabia e nem queria saber de onde ela vinha.

Acreditar na arte. Sim, porque é através da arte que nos libertaremos desta reedição da Idade Média, que nos assombra e limita os horizontes da vida.

Acreditar que um dia o mundo será mais humano e justo. Onde não haverá espaço para o preconceito e as oportunidades serão iguais para todos.

Acreditar que, em uma pandemia na qual estamos, o uso da máscara pode salvar vidas. As nossas, as dos outros. É uma questão de respeito à vida e ao semelhante.

Acreditar na política. Não é porque existem maus políticos que se deve desacreditar da política enquanto instituição. Os bons também existem.

Acreditar na democracia, saber o seu valor, protegê-la e, principalmente, não a distorcer por interesses mesquinhos.

Acreditar que a Terra é redonda, porque realmente é.

Acreditar, principalmente, que esta fase difícil vai passar. Especialmente difícil em nosso país, mas vai passar.

Acreditar que as forças que promovem o ódio, a destruição, a mentira, o preconceito, a desunião e toda sorte de maldades, acreditar que tudo isto vai desmoronar.

É hora de promover uma onda positivista.

É hora de a luz vencer a sombra.

Isto não é religião.

Também não é política.

É simplesmente evolução da espécie...

Se você acredita nestas coisas, compartilhe este texto.

sexta-feira, 2 de abril de 2021

MANIFESTO AOS NEGACIONISTAS

Acredite na ciência. Não espere a morte lhe visitar ou a algum ente querido. Esta pandemia é implacável. É preciso que se diga com todas as letras: “Quem não toma as medidas sanitárias torna-se um assassino e um suicida em potencial”.

Uso de máscara, distanciamento social, higienização das mãos. Esta trilogia salva vidas. Vacina, também.

Não siga o presidente e suas políticas genocidas.

O nosso país se tornou o cemitério do mundo.

Conclamo todos os negacionistas a negarem o presidente. Pelo menos “no tocante à questão” da pandemia. Acordem! É a vida de vocês que está em jogo!

Se tiver que trabalhar, vá, mas com todos os cuidados possíveis. A economia precisa de gente viva para se recuperar. A cada pai ou mãe que morre abre-se um vazio emocional e econômico na família, com filhos órfãos abandonados.

Se você não acredita nos números da pandemia, sugiro que visite as portas dos hospitais.

Não encare estas minhas palavras como uma afronta. Não tem nada a ver com politização. Tem a ver com vida. Aqueles que, por motivos negacionistas, transgridem as medidas sanitárias, acabam sendo vetores da desgraça, atingindo amigos, parentes, pessoas queridas, eles próprios. É questão de estatística e ciência. Onde o vírus não encontra barreiras, a tragédia se espalha.

A minha intenção é conscientizar algum negacionista e salvar a sua vida e de seus entes queridos.

Sabe para quê? Para continuarmos vivos, todos nós.

Aí depois a gente continua brigando pelos motivos de sempre...

sexta-feira, 5 de março de 2021

O NOVO NORMAL

Olho o carro na faixa da esquerda enquanto nos aproximamos do farol. Veículo grande, tipo SUV. Percebo que ele não quer chegar ao semáforo. Mas eu sigo minha marcha. No carro, minha esposa me acompanha, no banco de trás, ela e o nosso cão.

“Deve estar com medo”, é o que penso ao tentar explicar o comportamento do condutor ao lado, quase ao mesmo tempo em que vejo alguém surgir atrás do seu automóvel. Eu vou parando diante do sinal vermelho e o sujeito segue andando, já ocupando a parte da avenida que o SUV se recusou a ocupar.

Aproxima-se um pouco e logo percebo que se trata de um pedinte. Ato contínuo, afasto as mãos espalmadas para cima e digo que não tenho nada para dar. Sei que o tempo é curto, sei que a carteira está na mochila pendurada no banco, e ainda sei que, além do difícil acesso, ela contém apenas uma nota de vinte.

“Não, não, eu não quero dinheiro não!”, ele já fala ao ver o meu gesto. “Eu quero alguma coisa pra comer! Estou com fome!”, e continua dizendo coisas neste sentido. No borrão de palavras que restam em minha memória, acredito que ele colocou alguns exemplos de alimentos...

Neste ponto, percebo que nada posso lhe oferecer. A não ser a minha atenção de míseros segundos. Então falo algo mais ou menos assim: “Eu só posso estar aqui, na sua frente, e te ouvir...”.

Ele percebe a sintonia com a sua dor e fala, chorando: “Olha a minha situação! Na minha idade!”. Então percebo que temos mais ou menos o mesmo tempo de vida. E que ele jamais esperava chegar neste ponto... A minha atenção de míseros segundos ao menos serviu para ele desabafar...

O farol abre e a vida segue.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021

DE?ETIZAÇÃO

Um dia desses descobri que escrevo e falo errado uma palavra. Minha filha me perguntou como escrevia. Respondi, sem hesitar: “de te ti za ção”. Ela disse que o corretor ortográfico indicava que estava errado. O certo é com “de” no lugar de “te”, duplo “de”. Assim: “de de ti za ção”. “Mas vê aí se não pode usar também ‘te’”, disparei logo em seguida. Afinal, para alguém como eu, que quer se considerar escritor e que costuma ter um zelo especial pelas palavras, é difícil admitir um erro assim. Mas tive que admitir. Um erro que durou uma vida toda, no meu caso, mais de cinco décadas.

Como atenuante, tenho a dizer que acho que nunca escrevi esta palavra. Assim sendo, acredito que a falha da escrita não foi cometida. Porém, com certeza, falei errado algumas vezes. Mas foram poucas, pois não é uma palavra do meu dia a dia. E, além disso, para quem ouve, não é o tipo de erro que fere os ouvidos. A troca do “de” pelo “te”, com seus sons meio que parecidos, pode até passar despercebida no meio das cinco sílabas. Ainda bem!

Bom, daqui para frente falarei e escreverei corretamente: dedetização. Mesmo que o profissional que lida com este procedimento fale como eu falava. Foi justamente o que ele me disse, no fim de semana passado, quando veio executar o procedimento aqui em casa: “bla-bla-bla, detetização, bla-bla-bla”.

Mas ainda bem que os insetos não ligam para dedetização com “de” ou com “te”. Morrem do mesmo jeito!