domingo, 31 de agosto de 2025

EM BUSCA DA REALIDADE

Lembro que, há muito tempo atrás, quando estava tentando ter alguma ideia para escrever um conto, abaixei a cabeça e colei-a no teclado do computador, com a seguinte determinação: “Enquanto não tiver uma boa ideia, não saio desta posição”. Não, não... Não virei uma caveira diante da tela. A ideia veio. E até que foi boa, porque me rendeu uma premiação em um concurso literário.

Pois bem, e aqui estou eu, décadas depois, em busca de uma ideia para uma crônica. Neste caso, este tipo de texto requer algo ligado ao cotidiano. Então comecei a pensar: “O que, hoje em dia, precisa ser dito? O que é necessário colocar em um texto? Não porque eu, o autor, quero colocar, mas sim porque é algo importante...”. E assim, com estes dois pilares tremulando em minha cabeça – importância e cotidiano – veio-me o seguinte título: “Em busca da realidade”.

Isto porque, mais do que nunca, atualmente, estamos precisando focar na realidade, justamente devido a um distanciamento que as pessoas estão tendo com relação ao que é real. Vou colocar aqui alguns exemplos deste distanciamento. São exemplos gritantes...

Como pode alguém ainda acreditar que a Terra é plana? Afinal, a Idade Média já acabou há muito tempo... Ou acreditar que as vacinas não funcionam para combater doenças ou pandemias? Ou dizer, com absoluta certeza, que quem está na presidência hoje não é o Lula, mas sim um sósia dele. E o grau de descolamento da realidade é diretamente proporcional a quantos sósias se acredita que já substituíram o original... Já ouvi dizer que estamos no sétimo sósia! Eita! Deve haver uma fábrica de clones do Lula então!

Continuarei com alguns exemplos nos quais a realidade é ignorada e atropelada pela ideologia e, já que entrei a falar do Lula, citarei aqueles que estão relacionados a ele. Bom, primeiramente devo dizer que, foi neste governo dele que o agronegócio brasileiro teve o maior financiamento da história. Isto é fato, é só consultar as cifras do Plano Safra. Pois bem, esta realidade é, de modo geral, esquecida por muitos empresários deste setor, acredito que a maioria. O motivo? Ideologia, simples assim. Preferem esquecer o largo incentivo que obtêm do governo, abandonam esta realidade para se apegarem a críticas ferrenhas. Outro setor que também não poupa críticas ao presidente é o mercado financeiro. Ignoram a realidade dos bons números da Economia (e isto é fato também!) e se lançam contra o governo, com unhas e dentes. É incrível como a ideologia exacerbada é capaz de cegar, fazendo com que as pessoas não enxerguem os fatos e se descolem da realidade. Tudo tem que ter a sua medida. O que quero dizer com isso é que a ideologia, por si só, não tem nada de mal. O problema é quando ela, ao se intensificar sem controle, perde os parâmetros e obscurece a compreensão do indivíduo...

Dentro deste contexto de buscar a realidade, um elemento aparece como um verdadeiro vilão. Na verdade, para colocar no gênero correto, devo dizer vilã, pois é a mentira. Isto porque é com ela que nos distanciamos do que é real. E, infelizmente, nunca foi tão fácil de se mentir como nos tempos atuais. São as chamadas Fake News, notícias falsas, favorecidas pelas redes sociais e também pelas bolhas na internet. Mas o que seriam estas tais bolhas? Segundo uma visão geral criada pela IA, em uma consulta rápida que fiz na internet agora, uma bolha na internet é “um ambiente online que expõe o usuário apenas a informações e opiniões que confirmam suas crenças, criando uma barreira a outras visões de mundo. Ela surge a partir de algoritmos que filtram o conteúdo, baseando-se nos hábitos e interesses prévios do usuário, e pode levar ao isolamento de ideias, reforçando convicções existentes e dificultando o diálogo e a compreensão mútua”.

Não bastasse estes fatores que fazem com que o indivíduo se torne presa fácil das Fake News, podendo, com isto, ser empurrado para uma realidade paralela, há também o mais novo ingrediente neste caldo de cultura dos tempos atuais: a IA, Inteligência Artificial. Com ela é possível criar vídeos falsos, divulgar cenas que nunca aconteceram, usando a imagem de pessoas, de uma maneira bastante realista e que tende, com o passar do tempo, a se tornar ainda mais realista. Desta maneira, fica muito fácil colocar palavras na boca de outra pessoa. Resumindo: foi criada uma arma muito potente para desinformação, que infelizmente é usada com muita eficiência e eficácia no meio político.

Enfim, vivemos tempos em que a verdade foi jogada para o segundo plano. A distorção da realidade surge como elemento crucial para conquista e manutenção do poder, favorecendo lucros exorbitantes dos próprios donos do poder. Esta frase pode soar um tanto exagerada, tipo “teoria da conspiração”... Espero que seja só um exagero de minha parte...

Para finalizar, lembro aqui um conto clássico, “A Roupa Nova do Rei”, de Hans Christian Andersen. Se nesta fábula foi necessário que uma criança gritasse “O rei está nu!”, para expor a verdade e a hipocrisia de todos, hoje em dia a gente nem sabe como o rei está realmente, se está usando uma roupa, ou outra, ou nenhuma... Estamos todos em busca da realidade, que cada vez mais escapa de nós...

quinta-feira, 14 de agosto de 2025

IA

Estou falando do futuro. Não estou supondo como será o futuro. O que vou falar para você, agora, é sobre o futuro que eu estou vivendo, neste exato momento. E você, meu ouvinte, ou melhor, meu leitor ou leitora, está no passado, com relação ao tempo que estou vivendo, é claro.

Ficou difícil de entender? Então volte para o parágrafo anterior e leia novamente. Entenda bem o princípio que rege este texto: eu estou no futuro e você está no passado, simples assim. E não me venha com questionamentos ou dúvidas, do tipo: “Como eu posso estar no futuro? Como estas minhas palavras podem chegar até você, em outro tempo, no passado? Como podem coexistir dois tempos ao mesmo tempo?”.

Para terminar de vez esta problemática, peço para que você pense como se estivéssemos nos comunicando por uma espécie de telefone, ou aplicativo de mensagens, para ser um pouco mais moderno. Só que, ao invés de estarmos separados pelo espaço, estamos separados pelo tempo, entende? Se bem que também estamos separados pelo espaço... Bom, é melhor parar por aqui, para não lhe confundir mais...

Entendido onde cada um de nós está, posso prosseguir, pois quero lhe dizer como são, ou como estão as coisas agora, no futuro em que vivo.

Sabe, meu caro ou cara leitora, as coisas mudaram bastante no futuro... Mas quero focar o meu relato em um aspecto em particular: a IA, Inteligência Artificial.

A partir da década de 2020, a IA foi ganhando cada vez mais espaço. O mercado de trabalho sofreu um grande impacto, com várias profissões se extinguindo. A automação e a robótica, comandadas pela IA, tomaram o lugar dos empregados nas empresas. Esta perda dos postos de trabalho, causada pelo avanço da tecnologia, já vinha acontecendo antes da IA, mas com ela este processo acelerou exponencialmente.

Não vou aqui discorrer sobre todos os problemas que isto causou, pois são muitos e, se for lhe contar todos eles, com todos os desdobramentos, este texto vai ficar muito comprido e até meio chato. Sim, porque não quero ir por este caminho de ficar desfilando todas as consequências negativas... Digo-lhe somente uma coisa: se quiser escapar deste futuro, indo parar em outro futuro, mais feliz e com menos problemas, então cuide para que não se esqueça de pensar no que fazer com todas as pessoas que perderem seus empregos para a IA. Pois parece bonito e fácil construir um mundo assim, em que o ser humano não precisa fazer mais nada, nem pensar precisa. Ok, mas como isto se encaixa em um mundo capitalista? O que fazer com todas as pessoas que não conseguirem se encaixar neste novo mercado, muito menor em termos de postos de trabalho? O que elas farão? Como encontrar uma saída para fechar a conta da economia?

Ah, neste momento agora você deve estar pensando se, no futuro em que vivo, estes problemas estão equacionados. E eu já lhe adianto que não, eles ainda estão muito presentes...

Mas deixa isso pra lá. Quero continuar te contando sobre todo o espaço que a IA está ocupando aqui no meu futuro. Pois bem... Pensar é algo que está bem em desuso atualmente. Deixa eu ver como eu posso te explicar... No seu tempo, sei que vocês estão bastante envolvidos com os celulares, com toda a infinidade de aplicativos, as redes sociais e tudo mais... Sei que a IA já está surgindo como algo revolucionário e, pode crer, vai revolucionar mesmo... Então agora vou lhe dizer o próximo passo. A grosso modo é assim, imagine que, ao invés de o celular estar na mão das pessoas, esteja dentro da cabeça delas, na forma de um implante cerebral, fazendo com que elas tenham contato direto com a internet e possibilitando uma interação completa entre o ser humano e a IA. Então, pense bem: pra que pensar? É só lançar qualquer questão para a IA, projetando o pensamento no tal implante cerebral e, instantaneamente, obter a resposta dela por meio de um “pensamento-resposta”.

Portanto, no mundo de hoje em que vivo, pensar é algo muito raro. O que se faz, via de regra, é deixar que a IA pense por nós. Pois afinal ela está dentro de nós, basta somente que pensemos em utilizá-la para que o tal implante em nossas cabeças estabeleça a comunicação instantânea com ela. Medonho, não? Mas agora é coisa absolutamente normal e a gente acaba se acostumando muito facilmente com isto. Para que você possa me entender, é como se, no seu tempo, uma pessoa, que está acostumada a dirigir somente carros com câmbio manual, pegue um carro automático para dirigir. Após um curto período de adaptação, não vai mais querer dirigir nenhum veículo com marchas para trocar, não é mesmo?

É lógico que há pessoas que se recusam a usar tais implantes. São os chamados “puristas”, que criticam todo este nosso mundo baseado na IA. Dizem que a criatividade e a arte não mais existem, que as músicas de hoje em dia são o mero resultado de algoritmos. Vivem dizendo que a humanidade ficou refém da IA e que estamos caminhando para onde ela quer. Alertam que isto desembocará no próprio fim da humanidade.

Agora, em sua mente, meu caro leitor ou leitora, deve estar pipocando uma série de perguntas... O que eu, aqui no futuro, penso sobre tudo isto? Eu tenho o tal implante? Este texto que escrevi para você teve participação da IA? Ela escreveu tudo? Por que, realmente, eu não quis lhe contar melhor sobre as consequências sociais provocadas pelo uso massivo da IA? Por que, por que, por quê?

Sinto muito, mas não vou lhe dar estas respostas, pois quero terminar logo este texto. Aliás, não sei como terminá-lo. Acho que vou lançar a questão para a IA e pedir para que ela termine para mim. Mas nem vou colocar aqui o final que ela me der. Afinal, você também pode fazer isso, né? Vai dar no mesmo.

Então posso deixar o texto assim, inacabado mesmo.