Estava eu, bem tranquila, no meio da terra, que
era pouca e ocupava apenas um copo plástico que foi cortado a uns três dedos
acima do fundo.
Quem me plantou era um sujeito impaciente, pois
nem esperou o tempo necessário para que eu germinasse completamente, e já foi
logo revolvendo e afofando a terra para plantar novas sementes de mamão. E foi
nesta impaciência, enfiando um palito e remexendo a terra, que acabou por me
encontrar.
Neste momento, ficou surpreso ao me ver, com um
minúsculo brotinho de raiz a sair da minha semente, que já estava um tanto
ressecada. Ele até havia perdido as esperanças. Nunca que esperava me ver
daquele jeito... Inclusive até, nos últimos dias, nem estava me regando.
Mas depois que ele plantou as novas sementes,
passou a regar novamente. E nem quis mexer mais em mim. Deixou-me com a semente
exposta sobre a terra, e me olhava, torcendo para que o meu brotinho de raiz
encorpasse e afundasse na mesma. Enquanto isso, minhas folhas lutavam para sair
de dentro da semente ressecada. No entanto, apesar da torcida, acabei morrendo.
Se você está pensando que este texto acaba aqui,
pelo falecimento da protagonista, que também é a narradora, está muito
enganado. O texto continuará. E podem me chamar como acharem melhor: espírito
de semente de mamão, alma de broto não brotado de mamão, ou de qualquer outro
modo que julgarem mais adequado. Na verdade, nem eu mesmo sei quem eu sou. Só
sei que o sujeito que me plantou vive tentando plantar mamão, sem sucesso...
Há uns dias atrás, pesquisando na internet sobre
a germinação de sementes de mamão, ele viu uma foto de um mamão cortado ao meio
e, para sua surpresa, várias sementes brotando dentro dele! Na verdade, o
sentimento foi além da surpresa, chegando a ser raiva. Pensou: “Como é que
pode?!? Vivo tentando plantar mamão e não consigo nada!!! E esse mamão com um
monte de sementes brotando maravilhosamente bem, sem terra nenhuma!!!”.
Outro dia, na casa da sua cunhada, ele viu um
pequeno quadro de um mamão pendurado na porta da cozinha. Perguntou a ela quem
havia pintado e, quando ouviu a resposta de que era o seu marido, comentou: “É
capaz que as sementes desse mamão brotem e as minhas... nada!”.
Pois é, ele não tem sorte com mamão mesmo! Fiquei sabendo que as sementes que ele plantou quando remexeu a terra e me deixou exposta para morrer, fiquei sabendo que nenhuma delas brotou. Mas, pelo jeito, ele não vai desistir nunca! Só espero que não fique mais remexendo a terra e que com isso não mate mais as minhas companheiras...