Estou falando do futuro. Não estou supondo como
será o futuro. O que vou falar para você, agora, é sobre o futuro que eu estou
vivendo, neste exato momento. E você, meu ouvinte, ou melhor, meu leitor ou
leitora, está no passado, com relação ao tempo que estou vivendo, é claro.
Ficou difícil de entender? Então volte para o
parágrafo anterior e leia novamente. Entenda bem o princípio que rege este
texto: eu estou no futuro e você está no passado, simples assim. E não me venha
com questionamentos ou dúvidas, do tipo: “Como eu posso estar no futuro? Como
estas minhas palavras podem chegar até você, em outro tempo, no passado? Como
podem coexistir dois tempos ao mesmo tempo?”.
Para terminar de vez esta problemática, peço
para que você pense como se estivéssemos nos comunicando por uma espécie de
telefone, ou aplicativo de mensagens, para ser um pouco mais moderno. Só que,
ao invés de estarmos separados pelo espaço, estamos separados pelo tempo,
entende? Se bem que também estamos separados pelo espaço... Bom, é melhor parar
por aqui, para não lhe confundir mais...
Entendido onde cada um de nós está, posso
prosseguir, pois quero lhe dizer como são, ou como estão as coisas agora, no
futuro em que vivo.
Sabe, meu caro ou cara leitora, as coisas
mudaram bastante no futuro... Mas quero focar o meu relato em um aspecto em
particular: a IA, Inteligência Artificial.
A partir da década de 20, a IA foi ganhando cada
vez mais espaço. O mercado de trabalho sofreu um grande impacto, com várias
profissões se extinguindo. A automação e a robótica, comandadas pela IA,
tomaram o lugar dos empregados nas empresas. Esta perda dos postos de trabalho,
causada pelo avanço da tecnologia, já vinha acontecendo antes da IA, mas com
ela este processo acelerou exponencialmente.
Não vou aqui discorrer sobre todos os problemas
que isto causou, pois são muitos e, se for lhe contar todos eles, com todos os
desdobramentos, este texto vai ficar muito comprido e até meio chato. Sim, porque
não quero ir por este caminho de ficar desfilando todas as consequências
negativas... Digo-lhe somente uma coisa: se quiser escapar deste futuro, indo
parar em outro futuro, mais feliz e com menos problemas, então cuide para que
não se esqueça de pensar no que fazer com todas as pessoas que perderem seus
empregos para a IA. Pois parece bonito e fácil construir um mundo assim, em que
o ser humano não precisa fazer mais nada, nem pensar precisa. Ok, mas como isto
se encaixa em um mundo capitalista? O que fazer com todas as pessoas que não
conseguirem se encaixar neste novo mercado, muito menor em termos de postos de
trabalho? O que elas farão? Como encontrar uma saída para fechar a conta da
economia?
Ah, neste momento agora você deve estar pensando
se, no futuro em que vivo, estes problemas estão equacionados. E eu já lhe adianto
que não, eles ainda estão muito presentes...
Mas deixa isso pra lá. Quero continuar te
contando sobre todo o espaço que a IA está ocupando aqui no meu futuro. Pois
bem... Pensar é algo que está bem em desuso atualmente. Deixa eu ver como eu
posso te explicar... No seu tempo, sei que vocês estão bastante envolvidos com
os celulares, com toda a infinidade de aplicativos, as redes sociais e tudo
mais... Sei que a IA já está surgindo como algo revolucionário e, pode crer,
vai revolucionar mesmo... Então agora vou lhe dizer o próximo passo. A grosso
modo é assim, imagine que, ao invés de o celular estar na mão das pessoas,
esteja dentro da cabeça delas, na forma de um implante cerebral, fazendo com
que elas tenham contato direto com a internet e possibilitando uma interação
completa entre o ser humano e a IA. Então, pense bem: pra que pensar? É só
lançar qualquer questão para a IA, projetando o pensamento no tal implante
cerebral e, instantaneamente, obter a resposta dela por meio de um “pensamento-resposta”.
Portanto, no mundo de hoje em que vivo, pensar é
algo muito raro. O que se faz, via de regra, é deixar que a IA pense por nós.
Pois afinal ela está dentro de nós, basta somente que pensemos em utilizá-la
para que o tal implante em nossas cabeças estabeleça a comunicação instantânea
com ela. Medonho, não? Mas agora é coisa absolutamente normal e a gente acaba
se acostumando muito facilmente com isto. Para que você possa me entender, é
como se, no seu tempo, uma pessoa, que está acostumada a dirigir somente carros
com câmbio manual, pegue um carro automático para dirigir. Após um curto
período de adaptação, não vai mais querer dirigir nenhum veículo com marchas
para trocar, não é mesmo?
É lógico que há pessoas que se recusam a usar
tais implantes. São os chamados “puristas”, que criticam todo este nosso mundo
baseado na IA. Dizem que a criatividade e a arte não mais existem, que as
músicas de hoje em dia são o mero resultado de algoritmos. Vivem dizendo que a
humanidade ficou refém da IA e que estamos caminhando para onde ela quer.
Alertam que isto desembocará no próprio fim da humanidade.
Agora, em sua mente, meu caro leitor ou leitora,
deve estar pipocando uma série de perguntas... O que eu, aqui no futuro, penso
sobre tudo isto? Eu tenho o tal implante? Este texto que escrevi para você teve
participação da IA? Ela escreveu tudo? Por que, realmente, eu não quis lhe
contar melhor sobre as consequências sociais provocadas pelo uso massivo da IA?
Por que, por que, por quê?
Sinto muito, mas não vou lhe dar estas
respostas, pois quero terminar logo este texto. Aliás, não sei como terminá-lo.
Acho que vou lançar a questão para a IA e pedir para que ela termine para mim.
Mas nem vou colocar aqui o final que ela me der. Afinal, você também pode fazer
isso, né? Vai dar no mesmo.
Então posso deixar o texto assim, inacabado mesmo.