sexta-feira, 17 de março de 2017

SEM IDEIA



A inspiração e a criatividade são coisas que só aparecem por vontade própria. Não por nossa vontade, que por vezes fica a implorar ideias para compor pequenos textos com um nível mínimo de originalidade, mas por suas próprias vontades, como se elas fossem entidades com vida própria, que brincam conosco, aparecendo e desaparecendo ao seu bel prazer.
Justamente agora, quando coloquei algumas palavras de propaganda do meu blog no vidro traseiro do carro, sinto a necessidade de elaborar uma crônica acima da média para nele publicá-la. Quero causar uma boa impressão para aquele indivíduo desconhecido que, por um milagre qualquer, resolva acessar o endereço eletrônico, divulgado em letras brancas.
Mas que nada! Nenhuma ideia! Assim não dá! Como vou prender este meu leitor em potencial, talvez um seguidor assíduo dos meus textos mais ou menos mensais, ou quem sabe até um propagador deles, divulgando e compartilhando no vasto “mundo internético”? Se não conseguir escrever nada proveitoso, vai tudo por água abaixo.
Atualmente a concorrência é cruel. Como uma pequena crônica pode competir com vídeos que nos transmitem tanta coisa em tão pouco tempo? Os chineses já diziam que uma figura vale mais que mil palavras. O que dizer então dos vídeos, que nos remetem de um lado para o outro, estimulando nossos sentidos? Vamos ser sinceros, no mundo corrido que vivemos atualmente, fica cada vez mais difícil alguém ter paciência de ler alguns poucos parágrafos. É muito mais fácil assistir passivamente as curtas cenas que viralizam na internet, que são as mais bizarras, ridículas, engraçadas, fofas, chocantes... Assim não dá pra competir!
Porém eu sou teimoso. Fiquei a gritar em pensamento para aqueles neurônios escondidos em algum canto obscuro de minha massa cinzenta, suplicando por alguma mísera ideia que valesse a pena. A resposta que obtive foi o silêncio. Ou, quando muito, as sinapses e impulsos nervosos entre as células do meu cérebro nada de novo revelavam. Eram simplesmente caminhos viciados de um pensamento que reclamava oxigenação. A rotina apressada do dia-a-dia, embebida de dificuldades que se renovam constantemente, mas que são sempre as mesmas, como se estivessem presas a um carrossel, tudo isso acaba consumindo os poucos lampejos de criatividade que são reservados aos pobres mortais. E foi assim que minha teimosia acabou cedendo terreno para a evidência dos fatos.
Então finalmente desisti de sofrer em busca da extinta criatividade. Deixa pra lá. Na verdade “extinção” é palavra muito forte e fatal para explicar o que acontece. Pois ela vai voltar. A criatividade voltará! É sempre assim, é cíclico, em fases. Sei que daqui um tempo ela surgirá novamente (espero...).
Vinculado a esta desistência, decidi escrever sobre isto tudo. E lendo os parágrafos acima, devo confessar que achei até que o resultado final foi aceitável... No entanto, com certeza, estou muito longe do desempenho de minha esposa, pois quando ela está “sem ideia” do que preparar na cozinha, costuma criar os mais saborosos pratos. Seria bom que o mesmo acontecesse comigo com relação aos textos...

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